E agora, Alemanha? Quatro cenários pós-crise no SPD

Vai a coligação do bloco central terminar o seu mandato? Vai Angela Merkel ser chanceler até 2021? E se não, o que poderá levar a mudanças?

Foto
Angela Merkel vive o seu momento mais frágil Reuters

A demissão da líder do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) Andrea Nahles no domingo não levou à queda imediata do Governo de Angela Merkel. Mas torna-se mais um factor de potencial mudança numa coligação de governo que não tem sido especialmente eficaz, dominada por uma série de questões internas, da disputa entre a CDU de Merkel e o seu partido-gémeo na Baviera, a CSU, até à mudança da liderança dos partidos que a compõem, primeiro da CDU e, agora, do SPD. 

Terminar a legislatura

A continuação da “grande coligação” entre a União (CDU/CSU) e o SPD até ao fim da legislatura e as próximas eleições se realizarem, como programado, em 2021, é um cenário muito improvável. Sobretudo por causa do SPD: a nova liderança terá uma escolha difícil para fazer sobre a continuação no Governo, que está a prejudicar o partido, ou uma saída do Governo, que deverá levar a eleições antecipadas que se adivinham penalizadoras nas urnas para o SPD.

Na CDU, há uma chanceler que já não é líder do partido, e uma líder que espera o seu momento, o que também pode levar a uma antecipação das eleições. Mas o resultado das eleições europeias não mostrou qualquer efeito positivo da mudança de liderança de Merkel para Annegret Kramp-Karrenbauer, e portanto novas eleições poderão ser ainda piores para a CDU. 

O facto de ambos os partidos saírem muito provavelmente penalizados de novas eleições poderá ser a razão para a coligação aguentar até ao final. E é um motivo muito forte.

As outras hipóteses surgem caso o SPD saia, o que é visto como tendo um grau bastante alto de probabilidade. A nova liderança tripartida do SPD garantiu que vai continuar a “grande coligação”, aprovada em referendo pelos membros do partido em 2018, e discutir as opções que tem num encontro a 24 de Junho. O acordo de coligação entre a CDU/CSU e o SPD inclui uma cláusula de revisão a meio da legislatura, em Outubro, o que poderia ser a altura para uma retirada do SPD.

Há que ter ainda em conta ainda que Andrea Nahles, a líder que se demitiu no fim-de-semana, foi a maior defensora de uma entrada na “grande coligação”, e o seu forte discurso a favor foi na altura visto como decisivo para convencer muitos a votar a favor da participação do SPD no quarto governo de Merkel. A sua saída deixa mais espaço à contestação a esta participação. 

Coligação Jamaica

A outra hipótese de Merkel para manter uma coligação de Governo maioritário seria uma que juntasse os partidos de cores negra (União — CDU/CSU), amarela (Liberais), e verde ou seja, a “coligação Jamaica”. Esta foi, aliás, a primeira tentativa da chanceler, Angela Merkel, no que seria uma estreia a nível nacional (existe neste momento no governo em dois estados federados), mas falhou com a retirada dos Liberais. Desta vez, a relutância vem dos Verdes, que estão neste momento numa posição muito mais forte do que os seus 9,4% nas últimas legislativas, tendo chegado a primeiro lugar numa sondagem no último fim-de-semana com 27%. Por isso, a sua co-líder, Annalena Baerbock, já disse que qualquer mudança no governo deverá ser precedida de eleições.

Governo minoritário

Nunca houve um governo minoritário na Alemanha, mas na última campanha eleitoral esta hipótese começou a entrar na discussão. É um modelo que exigiria compromissos com outros partidos para fazer aprovar legislação caso a caso, e que a chanceler tem recusado por fomentar a instabilidade — e estabilidade é uma palavra muito importante na política alemã. Apesar da probabilidade desta hipótese ser baixa, haveria ainda, segundo a estação de televisão pública ARD, duas variantes possíveis para um governo minoritário: uma com Merkel e outra com uma nova chanceler. 

A variante com Merkel é mais improvável porque a própria chanceler já a recusou — mas Merkel também tinha recusado no passado a ideia de a liderança do partido que chefia o Governo não ser ocupada pela pessoa que chefia o Governo, acabando por se decidir por esta solução quando se afastou da liderança da CDU e se manteve na chanceleria. Mas está claramente a afastar-se: não foi vista na campanha para as europeias.

A variante com outra chefe de Governo traria os seus desafios: por um lado, Annegret Kramp-Karrenbauer beneficiaria do “efeito chanceler”, como dizem analistas, se assumisse o cargo antes das eleições. Por outro lado, uma chanceler começar com um tipo de governo deste género seria uma dura prova.

E Annegret Kramp-Karrenbauer não está num bom momento, tanto pelo mau resultado nas europeias como pelas críticas que fez a youtubers que fizeram campanha por votos noutros partidos que não a CDU (nem o SPD nem a AfD). A sua sugestão de monitorização do que poderia ser interferência na campanha eleitoral por estes youtubers valeu-lhe críticas negativas. 

Eleições antecipadas

Caso as variantes anteriores falhem, restam eleições antecipadas. Não é previsível que possam acontecer antes do Outono, sobretudo pelo processo de mudança de liderança do SPD. Nesse caso, já terão acontecido eleições em três estados federados da antiga Alemanha de Leste (ex-RDA) em que se prevê que o partido de direita radical AfD tenha bons resultados (em algumas sondagens está mesmo à frente da CDU e do SPD).

No possível calendário eleitoral há que ter em conta que a Alemanha assume a presidência rotativa da União Europeia no Verão de 2020, altura em que preferiria não ter um governo interino. Nesse caso, as eleições ocorreriam no início do próximo ano, para haver um governo em funções em Junho de 2020.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários