Nova Iorque: dez sítios que inspiraram o álbum The Garden of Earthly Delights

A viver em Nova Iorque desde 2014, o contrabaixista de jazz André Carvalho acaba de lançar The Garden of Earthly Delights. Partilha locais que o inspiraram na composição deste terceiro álbum.

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Luca Bravo/Unsplash

Fazer um top 10 de locais em Nova Iorque que me inspiram e foram, de alguma forma, importantes para a conceptualização deste meu novo disco não é pêra doce. A lista começou por ser um top 30 e tive de ir progressivamente eliminando determinados locais. A cidade é demasiado inspiradora para conseguir fazer tal selecção. No entanto, não queria deixar de partilhar alguns dos sítios que me tocam e que sei que não deixariam indiferente qualquer pessoa.

1. The Met Museum

Não é por acaso que o Met aparece no top 10 de qualquer guia turístico. A colecção não só é gigantesca, como também de uma qualidade extrema. Podemos ver arte de qualquer parte do mundo e época. Gosto particularmente de duas secções: a dedicada aos pintores impressionistas e à arte da Melanésia.

Este é também o único sítio em Nova Iorque, segundo sei, que tem um quadro de Hieronymus Bosch. Apesar de não ser o quadro para o qual escrevi a suite do álbum, é sem a menor dúvida uma obra-prima. O quadro em questão é o The Adoration of the Magi. Fui vê-lo várias vezes, a partir do momento em que comecei a escrever a música do novo disco. Ao ver o quadro, sentia-me mais próximo do seu autor e do Jardim das Delícias.

2. Smalls

Nova Iorque é especialmente famosa por ser a capital universal do jazz. Há imensos músicos, o nível é realmente muito alto e respira-se a história e a tradição desta música. Há vários sítios onde vou ver concertos e este é um deles. O Small fica na Greenwich Village, um dos meus bairros preferidos para simplesmente se estar! É um sítio despretensioso onde tocam muitos músicos incríveis e onde vou beber um copo. Acabo por encontrar amigos lá e é comum ficar-se até tarde à conversa. O clube está sempre cheio e o ambiente incrível. Além disso, é um dos poucos sítios em Nova Iorque onde podemos pagar 20 dólares e ficar horas e horas a ver concertos.

3. Central Park

Outro ícone da cidade ao qual vou muitas vezes é o Central Park. É bem possível viver-se num autêntico frenesim em Nova Iorque, mas o Central Park é um verdadeiro escape a esta azáfama. O parque é extremamente bonito em qualquer altura do ano, mesmo nos meses de Inverno. Está cheio de sítios especiais e recantos, alguns deles quase mágicos como os Rambles ou o Lake. É também no Central Park que me junto a amigos assim que o tempo começa a melhorar e fazemos piqueniques, para assistir a peças de teatro no Shakespeare in the Park ou ver concertos de jazz no Summer Stage.

4. Village Vanguard

O Village Vanguard é um dos clubes de jazz mais icónicos do mundo! Há imensas gravações históricas que foram feitas aqui, como por exemplo Bill Evans ou John Coltrane. Este sítio é realmente especial e vale mesmo a pena lá ir quando se visita a cidade. A programação é sempre excelente, com alguns dos nomes mais sonantes do jazz mundial. Além disso, o som da sala é espectacular, a decoração e a luz incríveis. Lembro-me de já ter assistido a concertos tão especiais como Bad Plus + Bill Frisell, Brian Blade Fellowship, Jimmy Cobb, Albert Toothie Heith, Ambrose Akinmusire, Craig Taborn, etc.

5. Strand Books

A Strand Books é uma das minhas livrarias preferidas. Fica perto de Union Square e tem uma selecção excelente de livros. Por isso, não é por acaso que está sempre cheia de pessoas. Não é a livraria onde mais vou, mas é uma das que mais gosto de ir.

6. Washington Square Park

Este parque é um dos símbolos da cidade e tem uma vida própria. Mas, apesar de ser bonito, ter um arco do triunfo (através do qual conseguimos ver o Empire State se estivermos alinhados com a 5.ª Avenida), pessoas de todo o género, pequenos grupos de músicos a tocar, um piano de cauda onde por vezes está um pianista clássico a tocar, a razão pela qual o escolhi é porque me costumo encontrar lá com amigos para seguir para determinado sítio. Este parque é muito central, perto de muitos clubes de jazz, restaurantes e bares.

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7. Chinatown

Tenho um fascínio grande pela cultura chinesa, mas infelizmente nunca tinha a hipótese de lá ir. Sempre que tenho hipótese vou a Chinatown e gosto de me perder pelas ruas labirínticas, sujas e caóticas. Toda a vivência é única, as pessoas, as lojas, os supermercados, as bancas de fruta na rua, os mercados de peixe, os restaurantes — tudo faz com que de repente sejamos transportados para outro continente completamente diferente. Há alguns restaurantes que adoro e a que vou repetidas vezes: Nom Wah Tea Parlor (os dim sum são excelentes) e The Golden Unicorn (essencial ir aos domingos provar pato à Pequim).

8. Prospect Park / Lefferts Garden

Esta é uma zona de Brooklyn à qual vou bastante. Lá vivem imensos músicos, por isso vou mais por razões profissionais já que lá faço muitas sessões. Por haver tantos músicos, há também algumas jam sessions, bares e clubes com programação regular. Gosto e frequento com alguma regularidade alguns deles como o The Nest (as jam sessions das quartas-feiras), o The Owl Parlor (os concertos aos domingos) ou o Bar Bayeux. Além disso este bairro está junto ao Prospect Park (que é um parque lindíssimo), assim como perto do Brooklyn Museum.

9. Williamsburg Bridge 

Apesar da ponte mais icónica de Nova Iorque ser a Brooklyn Bridge, a Williamsburg Bridge é a ponte que mais atravesso, usando o metro. A vista é espectacular pois consegue-se ver a Brooklyn Bridge, o rio, a zona toda de downtown Manhattan e a skyline, Midtown e, se o tempo estiver bom, a Estátua da Liberdade. Além disso, há sempre todo o tipo de pessoas no metro, incluindo um conjunto de três velhotes a cantar a capella, grupo de pessoas a fazer habilidades nos corrimões da carruagem e uma vez até cheguei a ver um tipo que devia ir para uma festa e levava à vontade uns 100 balões cheios com hélio. Já tive muitas ideias quando estou a fazer esta viagem, incluindo algumas das ideias do disco, por exemplo no The Towers of Eden. Isto tudo pelo preço de um bilhete de metro!

10. Upper West Side

Este é o bairro onde moro e passo uma boa porção do meu dia. É muito mais do que um bairro residencial. Aqui há museus (American Natural History Museum, Children’s Museum, Design Museum, etc), parques (Central Park, Riverside Park, etc), imensos restaurantes, bares, lojas, etc. Por Nova Iorque ser uma cidade muito grande e muito movimentada, muitas vezes as pessoas julgam que é impessoal e confusa. No entanto, os bairros de Nova Iorque são mesmo bairros e o Upper West Side não é excepção. É possível conhecer as pessoas que cá vivem e cá trabalham, como o senhor da lavandaria na 79th street, a senhora que trabalha no café na Columbus Av. ou ou senhor que trabalha no restaurante na Amsterdam Av..

Mesmo estando poucos dias em Nova Iorque, recomendo passar umas horas por esta zona. Alguns dos meus sítios preferidos são o Jin Ramen (um dos melhores restaurantes de ramen em NY), Irving Farm (um café espectacular), a Book Culture (uma livraria incrível), Land (restaurante tailandês), Levain Bakery (padaria que para mim faz as melhores cookies, onde as pessoas fazem filas e filas para as comprar), Magnolia Bakery (melhor banana pudding do mundo).

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