Petrolíferas querem acesso a fundos europeus para criar combustíveis mais limpos

Indústria petrolífera defende que a electrificação “não é a varinha mágica” que vai resolver todos os problemas dos transportes e quer ser “parte da solução” para a descarbonização da economia.

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A indústria petrolífera quer ser "mais verde" Paulo Pimenta

Quando o mundo enfrenta o desafio de travar os impactos da das alterações climáticas, e num “momento político de extrema importância”, em que se preparam eleições a nível europeu e em Portugal, a indústria petrolífera entende que tem uma palavra a dizer sobre a descarbonização da economia e já está “a fazer a sua advocacia” junto dos decisores políticos, afirmou esta quinta-feira o secretário-geral da Apetro, a associação que representa as empresas da indústria petrolífera, António Comprido.

A Europa não se pode “dar ao luxo de excluir tecnologias”, porque a electrificação “não é a varinha mágica para resolver todos os problemas” dos transportes, defendeu o responsável num encontro com a imprensa. Se os carros eléctricos vão ter “um papel fundamental” na mobilidade e na qualidade do ar das cidades congestionadas, os combustíveis líquidos, pela sua intensidade energética, vão continuar a ser imprescindíveis para o transporte aéreo, marítimo e rodoviário de longo curso e por isso devem existir “condições de igualdade” no que toca a apoios e incentivos para fazer a transição para produtos menos poluentes nos próximos anos, defendeu o secretário-geral da associação que reúne empresas como a BP, a Galp, a Repsol, a Prio e a Cepsa.

A indústria petrolífera “sabe que é parte do problema” da descarbonização da economia, mas também quer ser “parte da solução” e tem “o know how e os recursos humanos” necessários para produzir combustíveis líquidos de baixo teor de carbono. Para isso, o poder político também “tem de fazer o seu trabalho”, que “não é ditar as regras, mas criar as condições para que se possam fazer os investimentos necessários”. Além de um “quadro regulatório estável”, as petrolíferas pedem incentivos como os que já existem para a mobilidade eléctrica, e que não se resumem apenas à questão fiscal; também querem acesso aos fundos europeus para a descarbonização.

“Não nos excluam dessas fontes de financiamento”, pediu o representante das petrolíferas, defendendo que os apoios à indústria são indispensáveis para desenvolver projectos de investigação e desenvolvimento, para a fase de prototipagem e para a fase de demonstração comercial dos novos produtos, mais limpos. Estes combustíveis sintéticos, de baixo teor carbónico, têm um custo de produção muito superior aos combustíveis ditos tradicionais: o litro poderia chegar aos dois euros, que comparam com os 70 cêntimos dos combustíveis actuais. No imediato, reduzir as emissões provenientes do uso de gasóleo e gasolina passaria por aumentar a incorporação de biocombustíveis certificados nestes produtos, mas o Governo colocou um travão nas metas de incorporação.

Sublinhando que é preciso conciliar a “sustentabilidade ambiental” com a “racionalidade e sustentabilidade económica”, António Comprido defendeu que “há toda uma série de tecnologias em pipeline que, se forem acarinhadas, podem avançar” e que permitirão tornar o sector dos combustíveis mais amigo do ambiente, ao mesmo tempo que preservam os postos de trabalho e as infra-estruturas das várias fileiras da indústria petrolífera, assim como o parque automóvel já existente. Deu exemplos das soluções como o hidrogénio ou os combustíveis concebidos a partir de resíduos e outras matérias que substituam o crude, e mesmo a utilização de electricidade renovável no processo de refinação.

As empresas “sabem que têm de se adaptar e já se estão a adaptar”, disse o secretário-geral da Apetro, mas se as autoridades europeias insistirem “num quadro regulatório demasiado castrador”, será inevitável que muitas refinarias fechem portas ou se deslocalizem para países onde as regras são menos exigentes. E esse, sublinhou António Comprido, “é um cenário em que ninguém ganha: perde a indústria europeia e as emissões [poluentes] aumentam”.

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