Neandertais e humanos modernos divergiram como espécies há mais de 800 mil anos

Dentes encontrados em Atapuerca, Espanha, apontam para uma separação ocorrida há mais tempo entre estes dois grupos humanos.

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Os dentes usados no estudo Aida Gómez-Robles/Ana Muela/Jose Maria Bermudez de Castro

Os neandertais e os humanos modernos (Homo sapiens) divergiram como espécies há pelo menos 800 mil anos, substancialmente mais cedo do que indicava a maioria das estimativas anteriores, segundo uma nova investigação publicada esta quinta-feira na revista Science Advances.

O estudo de Aida Gómez-Robles, investigadora do Departamento de Antropologia da University College de Londres, analisou a evolução dentária em diferentes espécies de hominíneos, com foco nos primeiros neandertais, concluindo que os dentes de antepassados dos neandertais, encontrados em Sima de Los Huesos, no Norte de Espanha, divergiram da linhagem humana moderna mais cedo do que se supunha anteriormente.

Sima de Los Huesos é uma gruta na Serra de Atapuerca, na província de Burgos, onde os arqueólogos recuperaram ossos de cerca de 30 indivíduos. Estudos anteriores datam o local como tendo cerca de 430 mil anos (na época do Pleistocénico Médio), tornando-se uma das maiores e mais antigas colecções de restos mortais descobertos até hoje.

“Um tempo de divergência entre os neandertais e os humanos modernos com menos de 800 mil anos teria exigido uma evolução dentária inesperadamente rápida nos primeiros neandertais de Sima de Los Huesos”, explica Aida Gómez-Robles, citada num comunicado da University College de Londres.

“Existem diferentes factores que poderiam potencialmente explicar esses resultados, incluindo uma forte selecção para mudar os dentes desses humanos ou o seu isolamento de outros neandertais encontrados na Europa continental, mas a explicação mais simples é a de que a divergência entre neandertais e humanos é mais antiga do que 800 mil anos, o que torna as taxas evolutivas dos habitantes de Sima de Los Huesos comparáveis com as encontradas noutras espécies”, adianta ainda a investigadora.

Os humanos modernos (a nossa espécie) compartilham uma espécie ancestral comum com os neandertais, mas os detalhes sobre quando se tornaram espécies distintas é um tema de intenso debate na comunidade antropológica.

Análises de ADN indicam que as duas linhagens divergiram entre há 300 a 500 mil anos, o que influenciou fortemente a interpretação do registo fóssil de hominíneos. Mas esse tempo de divergência não é compatível com as características anatómicas e genéticas observadas nos hominíneos de Sima de Los Huesos, que são considerados antepassados prováveis dos neandertais com base em análises da morfologia anatómica e de ADN, segundo o estudo. Ou seja, a separação entre estas duas espécies teve de ter ocorrido há mais tempo.

Aida Gómez-Robles refere que os exemplares de Sima de Los Huesos são caracterizados por dentes posteriores (pré-molares e molares) muito pequenos, que, ainda assim, mostram múltiplas semelhanças com os neandertais clássicos. A forma dentária evoluiu a taxas muito semelhantes em todas as espécies humanas, incluindo aquelas com dentes muito expandidos e muito reduzidos, acrescenta a investigadora.

No trabalho utilizaram-se dados quantitativos para medir a evolução da forma dental entre as espécies humanas, assumindo diferentes tempos de divergência entre os neandertais e os humanos modernos. O estudo tem implicações significativas para a identificação das últimas espécies de antepassados comuns ao Homo sapiens e ao Homo neandertalensis, uma vez que permite excluir todos os grupos humanos surgidos há menos de 800 mil anos.

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