Trent Alexander-Arnold, o herói do canto rápido

Nascido e criado em Liverpool, o jovem de 20 anos gosta de jogar xadrez, ainda vive com os pais e a sua avó materna foi a primeira namorada de Alex Ferguson.

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Trent Alexander-Arnold LUSA/PETER POWELL

A noite épica em Liverpool teve muitos heróis. Alisson Becker foi um muro intransponível na baliza para tudo o que o Barcelona atirou na sua direcção, Van Dijk comandou uma defesa irrepreensível, Wijnaldum marcou dois golos em 122 segundos, Origi foi o goleador improvável a abrir e a fechar a reviravolta, os 50 e tal mil que cantaram “You’ll never walk alone” até a voz lhes doer, Jurgen Klopp foi quem os inspirou a todos. Até os apanha-bolas foram celebrados. Mas foi a destreza mental de um jovem de 20 anos que lançou Anfield e todos os seus ocupantes não-catalães numa celebração épica. Trent Alexander-Arnold foi mais rápido que todos os jogadores do Barcelona e respectivas sombras com aquele canto quase rasteiro que deu o quarto golo e o apuramento para a final da Liga dos Campeões.

Jorge Valdano dizia que a marca do bom jogador era ser um mestre na arte da simulação e Trent Alexander-Arnold, naquele minuto 79, enganou toda a gente. Recolheu a bola para o pontapé de canto, afastou-se do quarto de círculo para criar a ilusão de que seria um colega a meter a bola na área e toda a gente acreditou. Arnold voltou atrás, bateu rasteiro para a pequena área e Origi, que estava no mesmo comprimento de onda, marcou o golo. “Foi instintivo”, disse no final. “Foi um daqueles momentos em que vês uma oportunidade.” Klopp, que nem sequer tinha percebido no momento quem marcara o canto (já só viu a bola na baliza), não teve dúvidas: “Foi um momento de génio.”

Foi o canto de Alexander-Arnold que ditou o xeque-mate aos craques do Barcelona e faz todo o sentido usar esta expressão, já que o jovem de Merseyside é um entusiasta do xadrez. Já chegou inclusive a defrontar, num evento promocional, um dos maiores mestres de todos os tempos, Magnus Carlsen, aguentando cinco minutos e 17 jogadas com o norueguês – ainda assim aguentou mais que Bill Gates, que perdeu o jogo em apenas nove movimentos. “O futebol e o xadrez podem parecer opostos no desporto, mas têm mais semelhanças do que se pensa”, declarou Arnold após “defrontar” Carlsen.

Seja como for, os jogadores do Barcelona não podem dizer que não estavam avisados para as capacidades de Trent Alexander-Arnold. Não só é um dos principais marcadores de cantos do Liverpool (só Milner marcou mais), como é o líder de assistências dos “reds” na Premier League (11), mais do que Salah, Firmino ou Mané. E esta tem sido uma época de tremenda afirmação do jovem na equipa principal do Liverpool depois de toda uma vida na formação do clube da sua cidade. Chegou ao Liverpool com 11 anos, estreou-se na equipa principal aos 17, pela mão de Klopp, e o seu percurso tem sido sempre em ascensão, tanto que já leva cinco internacionalizações pela selecção inglesa. Pelo seu perfil de rapaz da terra e “red” desde sempre, há que veja nele um futuro capitão do Liverpool.

Mas tudo podia ter sido diferente na vida de Alexander-Arnold. É que a sua avó materna, Doreen Carling, foi a primeira namorada a sério de Alex Ferguson quando era um adolescente em Glasgow. A relação durou apenas 18 meses e cada um foi para seu lado. Doreen iria viver para os EUA, enquanto Ferguson se tornaria, em 27 anos de Manchester United, num dos mais celebrados treinadores de todos os tempos – naturalmente que, se a relação tivesse dado certo, Trent nunca teria nascido. Mas esta não é a única conexão que o jovem de 20 anos tem com o Manchester United. O seu tio e antigo futebolista, John Alexander, trabalhou durante muitos anos em Old Trafford e, por causa disto, Ferguson chegou a perguntar ao jovem por que razão nunca tinha pedido ao tio para jogar nos “red devils”. Um “red” para a vida como Trent, que ainda vive na casa dos pais em Liverpool, nunca iria jogar nos “red devils” e a reposta que deu a Sir Alex, segundo contou ao New York Times, foi esta: “A minha mãe não gosta de conduzir na autoestrada.”

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