Descobertos restos da explosão de estrela observados pelos chineses há dois mil anos

Primeiros registos datam do ano 48 a.C. e agora foram detectados por telescópio no Chile.

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Sobreposição de dados obtidos pelo espectrómetro MUSE numa imagem do enxame M22 obtida pelo telescópio espacial Hubble: a vermelho, o brilho da remanescente da nova,Sobreposição de dados obtidos pelo espectrómetro MUSE numa imagem do enxame M22 obtida pelo telescópio espacial Hubble: a vermelho, o brilho da remanescente da nova ESA/HUBBLE/NASA/F. GÖTTGENS,ESA/HUBBLE/NASA/F. GÖTTGENS
,telescópio espacial Hubble
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Sobreposição de dados obtidos pelo espectrómetro MUSE numa imagem do enxame M22 obtida pelo telescópio espacial Hubble: a vermelho, o brilho da remanescente da nova ESA/HUBBLE/NASA/F. GÖTTGENS

Uma equipa europeia, em colaboração com o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (em Portugal), descobriu os restos de uma explosão de hidrogénio na superfície de uma estrela, que tinha sido observada pelos chineses há cerca de dois mil anos.

Em comunicado desta segunda-feira, o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) adianta que a descoberta, aceite para publicação na revista Astronomy & Astrophysics, ocorreu no exame globular de estrelas M22, ou Messier 22, situado a 9785 anos-luz de distância da Terra, na direcção da constelação de Sagitário.

A investigação, que descobriu o remanescente de uma nova – uma explosão de hidrogénio na superfície de uma estrela e que faz aumentar o seu brilho –, vem ao encontro dos registos de observações efectuadas por astrónomos chineses no ano 48 a.C. Esta descoberta, assegura o instituto, confirma uma das mais antigas observações que chegou aos dias de hoje, efectuada por astrónomos chineses em 48 a.C.

O enxame globular de estrelas – aglomerado esférico composto por centenas de milhares de estrelas que orbitam fora da galáxia – foi observado pelo MUSE, um espectrógrafo que obtém um espectro total de cada pixel do céu e permite medir o brilho das estrelas em função da sua cor. O MUSE está instalado no telescópio VLT, que o Observatório Europeu do SUL (ESO) tem no Chile.

“O remanescente da nova descoberto no enxame M22 (um dos 150 enxames globulares que orbita a Via Láctea) é uma nebulosa avermelhada de hidrogénio e outros gases, com um diâmetro de 8000 unidades astronómicas [a unidade astronómica tem cerca de 150 milhões de quilómetros]. Mas apesar do tamanho, a nebulosa tem uma massa de apenas 30 vezes a da Terra”, aponta o instituto.

“Quando comparados com a duração de uma vida humana, a maioria dos eventos astronómicos tem durações demasiado longas. Por isso, é excitante ter conseguido usar o inovador instrumento MUSE para encontrar os restos da explosão de uma estrela, da qual há registos históricos”, sublinha Jarle Brinchmann, investigador do IA e da Universidade do Porto, citado no comunicado.

A localização desta nova coincide assim com registos de observações efectuadas por astrónomos chineses no ano 48 a.C.: “Eles provavelmente viram a nova original, exactamente no mesmo sítio. Isto quer dizer que os nossos instrumentos confirmaram uma das mais antigas observações de um evento que ocorreu fora do nosso sistema solar”, acrescenta Fabian Göttgens, do Instituto de Astrofísica da Universidade Göttingen (Alemanha) e o primeiro autor do artigo. “Esta observação”, resume Jarle Brinchmann, “permitiu-nos trazer escalas de tempo astronómicas para uma escala humana”.

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