Greve de trabalhadores do CCB marcada para os Dias da Música

“Já são demasiados anos sem aumentos salariais”, diz sindicato Cena, que reivindica progressões na carreira e reforço do número de trabalhadores. Paralisação agendada para os últimos dois dias do festival de música clássica pode levar a cancelamento de espectáculos.

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Rui Gaudêncio

A edição deste ano do festival Dias da Música, no Centro Cultural de Belém (CCB), pode ser afectada por uma greve dos trabalhadores da instituição. O Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos – Cena convocou dois dias de paralisação no final deste mês para exigir “a revisão das tabelas salariais e de progressão de carreiras”, disse o dirigente André Albuquerque ao PÚBLICO na manhã desta segunda-feira, após uma notícia avançada pela rádio TSF. A greve pode levar a cancelamentos de espectáculos ou do próprio evento, prevê o sindicato.

O pré-aviso de greve foi entregue na sexta-feira passada e visa os dias 27 e 28 de Abril, as últimas datas de um dos maiores e mais populares festivais de música clássica do país. Em causa estão as tabelas salariais e as progressões nas carreiras dos trabalhadores do CCB, e em particular o congelamento de aumentos. “Já são demasiados anos sem aumentos salariais”, aponta André Albuquerque, acrescentando que a situação está na mesma desde 2011. “Uma casa deste tamanho, em termos de espectáculos e também de uso comercial, com cerca de 150 trabalhadores, necessita de um acordo de empresa”, defende.

"Cancelamento total"?

A edição 2019 do festival Dias da Música decorrerá em Lisboa de 25 a 28 de Abril; o arranque far-se-á uma semana antes no Coliseu do Porto (18 de Abril), com uma interpretação do Sonho de Uma Noite de Verão, de Mendelssohn, seguindo ainda para o Convento São Francisco, em Coimbra (dia 23), antes de chegar à capital. O programa deste ano centra-se na obra de William Shakespeare e na sua relação com a música, entre concertos e masterclasses.

Sem querer arriscar que impacto a greve pode ter no festival, André Albuquerque adianta contar “com uma boa participação dos trabalhadores” e admite que a paralisação pode levar a “vários cancelamentos de espectáculos ou mesmo ao cancelamento total da festa dos Dias da Música”.

O sindicato queixa-se de não haver diálogo com a administração do CCB. “Nunca tivemos negociações, propriamente, com o conselho de administração”, diz André Albuquerque. “Apresentámos o caderno reivindicativo no início de 2018 com uma série de matérias que constam agora deste pré-aviso”, exemplifica. “Desde a greve dos trabalhadores técnicos ao trabalho extraordinário e feriados [que decorre desde 1 de Novembro], tem havido da parte da administração uma dificuldade cada vez maior em falar com o sindicato.” Agora, com a entrega do pré-aviso, o CENA espera que haja um encontro entre as partes à mesa das negociações.

Com a greve ao trabalho extraordinário está relacionada outra reivindicação do sindicato, o reforço do número de trabalhadores. “Para que o recurso ao trabalho suplementar não se torne ordinário ao invés de extraordinário, porque ultimamente a actividade normal do CCB tem vivido da capacidade dos trabalhadores para fazer trabalho extraordinário”, explica André Albuquerque.

Contactado pelo PÚBLICO sobre este pré-aviso de greve, o conselho de administração do CCB manteve o silêncio até ao final da tarde. Entretanto, num comunicado enviado às redacções pelas 19h30, afirma “estar consciente das consequências lesivas” da posição do sindicato “para a imagem do CCB (...) quanto ao cumprimento da sua missão de serviço público cultural, mas também para a gestão dos seus recursos financeiros e, inclusivamente, para todos os seus colaboradores que de forma empenhada e entusiasta têm construído os Dias da Música, transformando-o num verdadeiro acontecimento cultural, de referência nacional ao longo de uma década”. Assim, o órgão presidido por Elísio Summavielle avança que “tudo fará no sentido de reverter esta situação”, na defesa do interesse do público, que “tem distinguido [o festival] com a sua paixão e confiança, elevando-o ao nível de uma prestigiada marca cultural da cidade e do país”.

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