Colin Stetson traz temas novos para três concertos em Portugal

O músico norte-americano, que associa a sua arte ao trabalho de entrega total e contenção de um actor como Anthony Hopkins, toca a solo em Braga, Lisboa e Ponta Delgada.

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Colin Stetson DR

O multi-instrumentista Colin Stetson traz a Portugal material novo para três concertos, este domingo no GNRation, em Braga, na segunda-feira na Igreja St. George, em Lisboa, e na terça-feira no festival Tremor, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, Açores.

À agência Lusa, o músico norte-americano, que está a fazer uma digressão pela Europa, explicou que vai estar “sozinho em palco, a interpretar músicas dos últimos discos e algum material novo”, acompanhado do saxofone baixo, saxofone alto e clarinete contrabaixo.

Na sua música, Stetson recusa a manipulação electrónica e digital, construindo uma espécie de “campo geodésico”, uma “metáfora para o processo de captação de uma multiplicidade de sons de uma única fonte instrumental, que, depois, por métodos de mistura no campo espacial, permite criar três dimensões inteiramente novas, obtidas a partir da captação original”. “Este tem sido o ponto central de todas as minhas abordagens nas gravações a solo, desde há mais de uma década”, prosseguiu o artista.

Para o compositor e multi-instrumentista, “a inspiração está em todos os sons ouvidos ao longo dos dias, nas canções e nas conversas e em cada história ouvida e emoção sentida. Para mim, é muito claro que nós somos apenas uma espécie de filtro experiencial, e daí que eu tente e me mantenha consciente das minhas experiências.”

O trabalho de Colin Stetson ​resulta de um exercício de equilíbrio entre a entrega total e alguma contenção, uma qualidade que diz ter aprendido com a interpretação de Anthony Hopkins em O Silêncio dos Inocentes, em que destaca “a paciência no método de produção de significado”. O desempenho do actor acabou por ter um impacto directo na sua música, e explica que “há um tempo para a afectação e para o melodrama generalizado”. “Interessa-me, há anos, o que é mínimo e cuidadosamente gradual. O desenvolvimento subtil e uma intenção focada”, disse à Lusa. “Estas coisas estão presentes na actuação dele [Hopkins] e são ferramentas muito importantes”.

A par do seu trabalho a solo, Colin Stetson já colaborou com vários artistas, como Tom Waits, Laurie Anderson, Lou Reed, Evan Parker, David Gilmore, LCD Soundsystem e Arcade Fire, e construiu as bandas sonoras de vários filmes.

Com Tom Waits, aprendeu a “soltar a música da mancha do eu e do ego”, a “identificar de que é que uma canção específica ou um filme precisam para estarem completos”, e também que “resistir à tentação de introduzir mais do que apenas aquilo de que precisam é extremamente importante”.

Há em cada actuação do músico um enorme esforço físico, que resulta do método e da dinâmica usados na sua interpretação dos saxofones e clarinetes, com recurso a uma técnica ímpar de respiração circular, com a qual cria um som complexo, multifónico, em camadas, e que lhe exige um grande esforço de preparação. “É claro que pratico bastante a música. Quando me preparo para uma digressão, toco todo o dia, todos os dias, e faço exercícios regulares de manutenção nos instrumentos e nas sessões de improvisação e escrita e tudo isto é a chave para obter profundidade na ligação física, mental e emocional com as canções, e um sentido de confiança nelas, que exijo, para poder interpretá-las em público”, explicou.

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