Filha de jihadistas portugueses morre em hospital na Síria

Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma que não tem ainda “nenhuma informação sobre o assunto”. Haverá 20 crianças de ascendência portuguesa na Síria num “limbo” entre a protecção de menores e a segurança nacional.

Foto
Reuters/Rodi Said

Uma menina de três anos, filha de jihadistas portugueses, morreu nesta quinta-feira num hospital na Síria, noticiou o Expresso, citando fontes da família. ​A criança terá sido atingida por estilhaços durante os bombardeamentos em Baghouz, último bastião do Daesh, no final de Março. 

Ao semanário, o pai de Ângela Barreto, mão da criança, critica “as burocracias da política” que, afirma, estão a atrasar o processo de repatriamento dos filhos de jihadistas portugueses na Síria.

O PÚBLICO não teve resposta da Secretaria de Estado das Comunidades sobre se estava a par do estado de saúde da criança e se há mais filhos de portugueses, menores de idade, a receberem cuidados de saúde ou em risco de vida. O Ministério dos Negócios Estrangeiros respondeu que não tem ainda “nenhuma informação sobre o assunto”. 

A menina, que estava internada no hospital de Al Hayat, era filha de Ângela Barreto e Fábio Poças, dois jihadistas portugueses que se juntaram ao Daesh em 2014, escreve o semanário. 

As autoridades portuguesas identificaram no final de Março três mulheres e cerca de 20 crianças de ascendência portuguesa em três campos de detenção na Síria, destinados a famílias de jihadistas. Ângela Barreto tinha chegado no final de Março ao campo de Al Hol, na fronteira com o Iraque, com os dois filhos pequenos, relata o Expresso. O pai foi dado como desaparecido em combate há mais de um ano. O semanário adiantava, no final de Março, que uma criança portuguesa tinha ficado ferida em consequência de bombardeamentos, existindo “outros menores com problemas de saúde graves”. 

O que fazer com as mulheres europeias que se juntaram ao Daesh e com os seus filhos é um problema sem solução, muito menos sem uma resposta única da diplomacia ocidental, por receio do perigo que possam representar. Acumulam-se em campos de refugiados, em más condições, ou em prisões, à espera de julgamento. França aceitou o repatriamento de algumas destas mulheres com os seus filhos, a Alemanha está a preparar uma lei para retirar a nacionalidade a cidadãos que saiam do país para se juntar a movimentos jihadistas - no entanto, a lei não terá valor retroactivo, e só se virá a aplicar a indivíduos que tenham dupla nacionalidade, para não criar apátridas.

Na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do Grupo dos sete países mais industrializados (G7),em França, este fim-de-semana, continuou a não haver unanimidade sobre como lidar como os jihadistas do Daesh e as suas famílias, reconheceu o ministro do Interior francês, Christophe Castaner, citado pela Reuters.

O regresso das crianças de ascendência portuguesa que se encontram na Síria, filhas de pais radicalizados que se aliaram ao Daesh, tem sido um tópico delicado para a diplomacia.

Em Fevereiro, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, admitiu que, “como cidadãs portuguesas, essas pessoas têm direito a protecção consular de Portugal”, mas enfatizou que “essa protecção consular de Portugal tem de ser exercida tendo em conta as outras variáveis que estão aqui em jogo, a principal das quais é uma variável relativa à segurança nacional portuguesa e, em segundo lugar, às obrigações de Portugal como membro da coligação internacional anti-Daesh e como membro da UE e da NATO”.

Sugerir correcção
Ler 9 comentários