Joe Biden promete respeitar “espaço” das mulheres. Mas não pede desculpa

“Ao longo da minha carreira, tentei sempre criar uma ligação humana – é a minha responsabilidade”, disse. “Eu aperto mãos, abraço as pessoas, agarro os ombros de homens e mulheres e digo ‘Tu consegues’”, disse o antigo vice-presidente, num vídeo publicado no Twitter.

Foto
Reuters

Depois de quase uma semana de silêncio, Joe Biden fez uma promessa: a de ser “consciente” na questão do contacto físico. Num vídeo publicado no Twitter nesta quarta-feira, o antigo vice-presidente dos Estados Unidos fala das acusações de quatro mulheres, que vieram a público contar que Biden as tocou de forma íntima. Mas, apesar da promessa, Biden não pede desculpa.

O compromisso de “ser mais consciente e respeitoso do espaço pessoal de outras pessoas”, surge num vídeo com dois minutos, filmado com o telemóvel e publicado na conta do Twitter do democrata. Joe Biden aparece vestido com um fato azul-marinho, camisa branca e sem gravata. Fala sentado num sofá, com a perna cruzada e partilha a sua visão sobre a relação que tenta estabelecer com os eleitores e colegas.

“Ao longo da minha carreira, tentei sempre criar uma ligação humana – é a minha responsabilidade”, disse. “Eu aperto mãos, abraço as pessoas, agarro os ombros de homens e mulheres e digo ‘Tu consegues’”.

“É a minha maneira de lhes mostrar que me importo e que estou a escutá-los”, reconhece. Mas, porque “as normas sociais começaram a mudar” e “os limites de protecção do espaço pessoal começaram a restabelecer-se”, Joe Biden promete mudar. “Trabalhei toda a vida para empoderar as mulheres. Trabalhei toda a vida para acabar com os abusos”, defende-se.

De acordo com os assessores de Biden, o vídeo tardou alguns dias porque o antigo número dois de Obama quis falar primeiro com as mulheres que o acusaram e aconselhar-se junto de várias mulheres que são suas amigas ou membros da sua família, escreve o New York Times.

Segundo as mesmas fontes, Joe Biden sentiu-se particularmente afectado com os comentários de Nancy Pelosi, uma amiga de longa data. Na terça-feira, em entrevista ao Politico, a presidente da Câmara dos Representantes afirmou​ que Biden “tem de perceber que, no mundo em que estamos agora, o espaço das pessoas é muito importante para elas, e o que importa é a forma como elas se sentem, e não qual foi a intenção.”

Joe Biden já tinha falado sobre o assunto (através de um comunicado do seu porta-voz, Bill Russo), mas é a primeira vez que fala em nome próprio sobre o sucedido e admite que causou algum tipo de desconforto. Há, no entanto, uma linha coerente ao longo de todas estas intervenções: a ausência de um pedido de desculpas às quatro mulheres que partilharam experiências que as deixaram desconfortáveis.

Os casos

Na sexta-feira passada, Lucy Flores, democrata de 39 anos, antiga candidata a vice-governadora do Nevada publicou um texto no site The Cut onde descrevia uma situação em que Biden lhe tocou de uma forma que considerou “desapropriada” e a beijou na testa em 2014.

Dias mais tarde, Amy Lappos, também democrata, disse que Biden “esfregou o nariz” no seu nariz, num gesto que, de acordo com Lappos, poderia anteceder um beijo. “Não foi sexual, mas ele agarrou-me na cabeça. Pôs a mão à volta do meu pescoço e puxou-me para ele, para roçar o nariz dele no meu”, disse, desta vez ao jornal Hartford Courant, do Connecticut.

Não terão sido as únicas: na terça-feira, duas outras mulheres contaram ao New York Times que o vice-presidente de Obama lhes tocou de uma forma que lhes causou “desconforto”.

Caitlyn Caruso recordou que Biden lhe colocou a mão na coxa há quase três anos, “mesmo depois de ela se ter contorcido para mostrar desconforto”. E DJ Hill contou ao jornal nova-iorquino que o antigo vice-presidente dos Estados Unidos lhe colocou a mão no ombro e depois começou a descer pelas costas, o que a deixou “muito desconfortável”.

Biden candidato?

Biden é um possível candidato à corrida presidencial de 2020. Já o tentou três vezes antes, e apesar de ainda não o ter oficializado, o democrata começou o vídeo de uma forma enigmática e que abre portas a uma possível candidatura: “No próximo mês espero falar-vos de uma data de questões, e serei sempre directo convosco”.

As reacções ao vídeo dividem-se. Alicia Garza, uma activista norte-americana, escreveu no Twitter que estava desapontada com o vídeo e com a falta de um pedido de desculpas: “Experimente isto: lamento muito que as minhas acções tenham tido tanto impacto. Vou tentar que não volte a acontecer”.

Mas houve quem apoiasse a decisão de fazer um vídeo com um comentário mais sério sobre o sucedido. A senadora do estado do Illinois, Tammy Duckworth, foi uma dessas vozes: “Sei uma coisa sobre Joe Biden: é um homem de palavra. Se ele diz que vai melhorar, ele vai melhorar”.

Sugerir correcção
Comentar