Champions vs Super Champions: o “combate” continua no Estádio da Luz

De um lado, a UEFA e os clubes mais poderosos. Do outro, as ligas nacionais. Em jogo está a “luta” contra uma nova Liga dos Campeões, mais elitista, e jogada aos fins-de-semana.

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Serão debatidas possíveis alterações à Liga dos Campeões. Reuters Staff

A UEFA e os maiores clubes da Europa querem mais jogos entre os “tubarões” – jogados ao fim-de-semana –​, enquanto as ligas nacionais e os clubes de segunda linha não querem ser “chutados para canto”, mantendo a força dos campeonatos domésticos. Em suma, é isto que estará em discussão, nesta sexta-feira, no Estádio da Luz, na Assembleia-Geral da European Leagues (EL), organizada em conjunto com a Liga Portugal.

Em causa está a ideia da Associação Europeia de Clubes (ECA) – na qual estão representados FC Porto, Benfica, Sporting, Sp. Braga e Marítimo – de avançar com a reforma da actual Liga dos Campeões. O organismo, liderado por Andrea Agnelli, também presidente da Juventus, vai sugerir à UEFA a criação de uma “Super Liga dos Campeões”, algo que já não agradaria às ligas europeias, pelo cariz elitista da prova, piorado pela intenção de ter esta nova Champions jogada ao fim-de-semana, “chutando” as ligas nacionais para os dias úteis. O novo modelo pressuporia duas divisões de 16 clubes, divididas em grupos de quatro.

Apesar de esta intenção ter “transpirado” para a imprensa, Andrea Agnelli já fez questão de garantir que existe precipitação na análise. “Não se falou de jogos aos fins-de-semana”, explicou, detalhando: “Falou-se, apenas, de uma renovação nas competições europeias. Está em marcha um processo de debate para melhorar as provas europeias e a prioridade é manter um sistema em que a participação seja aberta a todos, pensando no crescimento global do futebol europeu.”

Quem não ficou convencida com a explicação de Agnelli foi a EL, que se reúne nesta sexta-feira no Estádio da Luz, com “patrocínio” de Pedro Proença e da Liga Portugal. Em debate estará a resposta a estes intentos da UEFA e da ECA, que consideram ser uma afronta à sobrevivência dos campeonatos nacionais.

Quer pelo cariz elitista da Super Champions, quer pela possível ocupação dos fins-de-semana – até aqui, reservados aos campeonatos nacionais e, a espaços, às selecções nacionais –, a EL quer “dar um murro na mesa”. “Todos os campeonatos representados na European Leagues estão unidos na defesa do calendário dos campeonatos domésticos”, disse Alberto Colombo, da EL, ao jornal O Jogo, explicando a posição das ligas nacionais: “Nenhuma liga nacional quer a Champions ao fim-de-semana (…) os próprios adeptos não gostarão de ver os jogos das suas equipas a meio da semana, em vez de ao sábado ou domingo. Por exemplo, os adeptos ingleses não gostarão de ver as tradicionais rivalidades dos emblemas entre cidades disputarem-se durante a semana. Nem os ingleses, nem os adeptos das restantes ligas, que adoram a tradição de ver os seus clubes ao fim-de-semana”.

Mais duro foi Javier Tebas, presidente da Liga espanhola. “Na ECA, não há debate. Há uma ‘cozinha’, com acesso limitado a 12 ou 13 ‘comensais’, que, quando terminam de comer, convidam o resto para tomar café. Aos olhos do mundo do futebol, parece que o banquete foi celebrado por todos. Mentira”, disse ao jornal El Mundo no final do mês passado.

O dirigente espanhol considera, ainda, que a ECA e a UEFA “cozinham” o seu “banquete” e não querem saber das ligas europeias ou sequer da evolução global do futebol europeu. “Os campeonatos nacionais são o motor desportivo e económico do futebol. Há milhares de postos de trabalho, centenas de clubes e milhares de jogadores a participar, com os seus salários e as suas famílias. Nessa ‘cozinha’, alguma vez pensaram nos efeitos que esse ‘banquete’ provocaria no futebol europeu? Não, nem querem pensar”, acrescentou o dirigente espanhol.

Nesta sexta-feira, no Estádio da Luz, dois dias depois da discussão em torno do futuro do futebol português, o debate deverá centrar-se em torno de como evitar o avanço desta Super Champions, delineando um plano alternativo para levar à UEFA. A estratégia terá por base uma redistribuição financeira das verbas a atribuir aos clubes que não participam nas provas europeias, por forma a equilibrar a competitividade das ligas nacionais. A outra vertente do plano é “cortar” o peso dos coeficientes históricos dos clubes – que reforçam o elitismo –, estipulando um acesso às provas europeias por mérito desportivo recente.

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