Ancara dá derrota a Erdogan, em Istambul disputa-se até ao último voto

Acto eleitoral tem sido visto como um referendo à política do Presidente turco, no poder há mais de 16 anos.

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O Presidente Erdogan, quando foi votar ERDEM SAHIN/EPA
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Mansour Yavas, o candidato da oposição em Ancara Umit Bektas/REUTERS

A contagem dos votos nas eleições locais na Turquia dá como possível a vitória do principal partido da oposição, uma formação secular, em Ancara — é a primeira derrota significativa do AKP, o partido islamista do Presidente Recep Erdogan desde que chegou ao poder, em 2003. Mas a diferença entre os dois candidatos é mínima.

Mansur Yavas, do Partido Republicano do Povo (CHP), tem 50,3% dos votos em Ancara, o que lhe dava uma vantagem de 2,8 pontos percentuais sobre o seu rival do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), Mehmet Ozhaseki, um ex-ministro.

Mas o desaire pode ser muito pior se Istambul, a cidade de Erdogan, da qual ele próprio foi presidente da câmara. Com 98% dos votos contados, Binali Yildirim, ex-primeiro-ministro do AKP, tem 48,8% dos votos, e o principal candidato da oposição, Ekrem Imamoglu, do CHP, 48,6% noticia a televisão NTV. Yildirim declarou vitória, a oposição diz que foi prematuro.

Erdogan domina a política turca há mais de 16 anos. O forte crescimento económico e o apoio de uma base constituída por uma população de muçulmanos devotos e conservadores ajudou a cimentar a sua longevidade no poder, apesar de se avolumarem as denúncias de abusos dos direitos humanos.

Mas com a economia a contrair depois da crise económica de 2018, que fez a moeda turca, a lira, perder 30% do seu valor, muitos eleitores votaram pela mudança e contra o AKP de Erdogan. As sondagens indicavam que podia perder a capital.

“Tinha pensado nem votar, mas quando vi que eles estavam a falhar pensei que este era o momento de os mandar embora. Toda a gente está descontente. Toda a gente está a passar dificuldades”, disse à Reuters um eleitor em Ancara, Hakan, de 47 anos.

Nas últimas semanas, Erdogan fez comícios de teor nacionalista e manobrou para salvar a lira de nova desvalorização. Atribuiu a culpa pela crise económica aos “ataques” do Ocidente. “O objectivo destes ataques cada vez mais frequentes é bloquear o caminho que nos leva a uma Turquia maior e mais forte”, disse o Presidente num comício em Istambul no sábado.

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Um elemento das Forças Especiais distribui prendas aos apoiantes de Erdogan, enquanto o Presidente foi votar, em Istambul TOLGA BOZOGLU/EPA

Estas eleições locais e municipais foram as primeiras desde que Erdogan assumiu poderes extraordinários como Presidente, com a nova Constituição, no ano passado — desapareceu a figura do primeiro-ministro e todo o poder emana agora do chefe de Estado. Estas eleições são consideradas um barómetro sobre o apoio ao Governo.

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