Abrandamento europeu ainda sem fim à vista

Indústria alemã prolonga durante o primeiro trimestre deste ano a tendência de abrandamento que iniciou no final de 2018. Efeito para Portugal é negativo

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LUSA/FILIP SINGER

As duas maiores potências económicas da zona euro continuam sem dar sinais de conseguirem sair rapidamente da tendência negativa em que se encontram desde os últimos meses do ano passado.

Os indicadores que medem a evolução das encomendas na indústria e nos serviços na zona euro, e em particular na Alemanha e França, apresentaram, esta sexta-feira, uma nova descida durante o mês de Março, caindo para valores abaixo das expectativas e dando a entender que o primeiro trimestre de 2019 não foi de recuperação da economia europeia.

Na Alemanha, que na segunda metade de 2018 escapou por pouco a uma recessão técnica, o índice que serve para medir em antecipação a actividade nos sectores da indústria e serviços – o Purchasing Managers’ Index (PMI) – caiu para 51,5 pontos, o valor mais baixo desde Junho de 2013. O resultado é especialmente negativo na indústria, cujo índice está já abaixo dos 50 pontos (44,7), sinalizando a existência de uma tendência de contracção.

Em França, que na segunda metade do ano até tinha registado um abrandamento mais moderado, o índice PMI caiu de 50,4 para 48,7 pontos em Março, surpreendendo os analistas que esperavam uma ligeira subida.

O abrandamento destes indicadores surge numa conjuntura que se tem vindo a revelar difícil para a economia europeia, nomeadamente por causa da quebra que se verifica na procura proveniente do exterior, devido ao abrandamento também registado em economias como a dos EUA ou da China. Isto afecta uma economia europeia (muito especialmente a alemã) que tem feito das exportações o principal motor do seu crescimento.

Para além disto, vários factores de incerteza afectam o comportamento dos agentes económicos, salientando-se o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, as dificuldades da indústria automóvel em adaptar-se às novas exigências ambientais ou as políticas mais proteccionistas que têm vindo a ser aplicadas no comércio internacional.

Para Portugal, a manutenção de um ritmo baixo nas principais economias da zona euro (Alemanha e França são, a seguir à Espanha, os dois principais destinos das exportações portuguesas) constitui uma dificuldade evidente para o seu próprio ritmo de actividade. A economia portuguesa abrandou no final de 2018 e a expectativa generalizada é a de que, em 2019, a variação do PIB seja menor do que foi no total do ano passado.

Actualmente, a previsão do Governo ainda é de um crescimento de 2,2% (será feita uma revisão em Abril quando for apresentado o Programa de Estabilidade), mas a maior parte das previsões feitas por outras entidades apontam para um valor em torno dos 1,8%.

Ainda assim, no imediato, há um efeito positivo de compensação trazido por estes sinais de abrandamento. As taxas de juro no mercado de dívida pública europeu registaram, durante a manhã desta sexta-feira, uma nova descida. As taxas de juro a dez anos da dívida alemã chegaram a cair para valores negativos, assistindo-se a uma descida na generalidade dos outros países. 

Isto acontece porque, com a economia europeia a fraquejar, torna-se ainda mais provável um prolongamento das políticas expansionistas do Banco Central Europeu (BCE), incluindo a manutenção das suas taxas de juro de referência a zero. No início do mês, o BCE já anunciou que não iria subir taxas antes do final do ano, quando antes apenas dava esta garantia até Junho.

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