Cidades têm de promover “ambientes saudáveis” em termos de nutrição

O Congresso da Ordem dos Nutricionistas, que decorre esta quinta e sexta-feira na Culturgest, vai debater como as cidades se podem organizar geograficamente para promover uma alimentação mais saudável. Proibir a abertura de restaurantes de fast food a uma certa distância das escolas pode ser uma das medidas propostas no final.

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André Rodrigues

Já não basta saber escolher o que se compra quando se vai ao supermercado ou retirar alimentos pouco saudáveis de espaços públicos, como escolas ou hospitais. São as próprias cidades que têm de se organizar para, também em termos geográficos, promoverem uma alimentação saudável. Este é um dos temas que estará em debate no Congresso da Ordem dos Nutricionistas que irá instalar-se na Culturgest, em Lisboa, quinta e sexta-feira. A bastonária Alexandra Bento promete que a ordem avançará com novas propostas no final do encontro, que poderão passar por algo idêntico ao que foi proposto em Londres, Inglaterra: a proibição de restaurantes de fast food a menos de 400 metros das escolas.

O painel dedicado a esta questão está agendado para sexta-feira, sob o tema genérico “Promoção de Ambientes Salutogénicos”. Alexandra Bento explica o porquê da sua inclusão no congresso: “Entendemos que só o facto de se desenharem ambientes mais salutogénicos auxilia por si só ambientes mais saudáveis. É factual que o tipo de lojas ou os espaços verdes que existem numa determinada área – a chamada geografia da saúde – promovem ou limitam a possibilidade de cada um poder fazer escolhas mais saudáveis. Não vivemos numa redoma em que não sejamos influenciados pelo meio ambiente”, afirma a bastonária.

Por isso, sustenta, não basta retirar de dentro das escolas alimentos pouco saudáveis. “Se nos cingirmos a isso, a medida não terá a mesma eficácia ou o mesmo sucesso”, diz. É preciso actuar também na envolvente. Alexandra Bento diz que locais como Londres, Nova Iorque, Xangai ou a Cidade do Cabo “já estão a transformar esta evidência em medidas concretas” e quer que Portugal faça o mesmo.

Por isso, diz, uma das medidas que a ordem poderá propor ao Governo no final do congresso passa mesmo pela proibição de abertura de novos espaços dedicados a alimentação considerada pouco saudável num raio específico em torno de escolas. A criação de hortas urbanas nas cidades ou, em concreto, nas escolas, poderá ser outra. Mas não se ficarão por aí. Também é essencial “disponibilizar alimentos saudáveis de forma mais acessível para todos”, afirma. E nesta área, uma hipótese que considera “interessante” passa pela disponibilização de um cartão alimentar aos mais carenciados que só possa ser utilizado para a compra de alimentos mais saudáveis, como “frutas e legumes”. 

“Corre-se o risco de se fazerem más escolhas alimentares ao utilizá-los [cartões]. E os cabazes alimentares podem ser um meio-termo, mas esta medida é mais interessante. Não têm estigma social, a pessoa pode ir às compras a uma superfície comercial, tendo acesso a determinados alimentos”, defende. Mercearias sociais e restaurantes comunitários são outras medidas que Alexandra Bento gostaria de ver disseminadas, para garantir a defesa “dos mais carenciados”.

A pedra de toque, para a bastonária continua a ser a de há muito tempo: “Não conseguimos trabalhar estas questões sem nutricionistas nos sítios certos, seja nas autarquias, seja nas escolas”, diz. E, neste momento, diz, a ordem “não tem um interlocutor privilegiado no Governo”. “O anterior secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, compreendia a importância destas questões e levou a terreno muitas medidas. Desde a sua saída [em Outubro de 2018], não vi sair mais nada com verdadeiro impacto”, critica.

Nada que faça os nutricionistas baixar os braços, garante: “A ordem não vai parar de fazer propostas e sensibilizar os decisores políticos para avançarem, com ritmo e intensidade.”

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