O Netflix não vai (outra vez) a Cannes

Conversações entre o festival de cinema e o gigante do streaming estão em curso, mas não deverão chegar a uma solução até 14 de Maio, primeiro dia deste que é um dos mais importantes festivais de cinema do mundo. Nos bastidores também se diz que o Netflix não teria nenhum filme pronto a tempo.

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Martin Scorsese, realizador de The Irishman, uma das mais aguardadas produções do Netflix do momento Reuters/EDUARDO MUNOZ

O Festival de Cannes deste ano não vai ter qualquer filme Netflix no menu, noticia esta segunda-feira a revista Variety. Embora as conversações entre a organização e o gigante do streaming estejam a decorrer aparentemente sem sobressaltos de forma a encontrar uma solução de compromisso que no futuro permita levar os filmes à Croisette sem provocar a ira dos distribuidores franceses, certo é que a próxima edição, que se realiza de 14 a 25 de Maio, não contará com nenhuma produção Netflix.

Desde 2017, ano em que Cannes aceitou The Meyerowitz Stories e Okja no alinhamento da competição, que são algo tensas as relações entre o festival e a Netflix. O seu director artístico, Thierry Frémaux, enfrentou logo fortes pressões de exibidores que se revoltaram contra o facto de a plataforma de streaming disponibilizar de imediato os filmes aos seus assinantes, sem deixar passar os 36 meses que a lei francesa exige depois da estreia em sala.

Lembra ainda esta segunda-feira a Variety que Fremaux cedeu à pressão e estabeleceu como regra que nenhum título poderia ser candidato aos prestigiados prémios do júri de Cannes sem que estivesse prevista a sua entrada no circuito dos cinemas. Resultado? O Netflix retirou-se do festival e passou a apresentar os seus filmes em Veneza, incluindo o aclamadíssimo (e premiadíssimo) Roma, de Alfonso Cuarón. Cannes, por seu lado, foi seriamente criticado por ter uma frágil presença da indústria americana e por ter deixado a plataforma de fora.

Ainda hoje o Netflix e a organização do festival procuram uma solução que convenha a ambas — uma solução de compromisso que não prejudique os interesses económicos do gigante do streaming nem desrespeite a lei francesa.

Mas, mesmo que houvesse já um plano para o regresso do Netflix ao festival, este dificilmente aconteceria já que, escreve a revista especializada em notícias do cinema, não teria qualquer filme pronto a tempo. Porquê? O Netflix não respondeu.

Terão sido os efeitos especiais exigentes de The Irishman, o muito aguardado filme de Martin Scorsese, a atrasar a pós-produção, cuja conclusão estava prevista para o início de Maio. Isto significa que deverá estrear em Veneza, em Setembro, antes de passar para o circuito comercial, nas salas e no streaming, no Outono.

The Laundromat, filme de Steven Soderbergh com Meryl Streep, e Uncut Gems, dos irmãos Josh e Benny Safdie, poderiam assegurar a presença do Netflix em Cannes mas, até ao momento, não constam desta edição que tem como presidente do júri o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu e entre os títulos mais aguardados Once Upon a Time in Hollywood, do norte-americano Quentin Tarantino.

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