Contentores no Parque Tejo ou um monumento às feministas? Lisboetas já podem decidir

Até 28 de Abril, há 122 ideias para pequenas mudanças na cidade que estão em votação. Há 2,5 milhões para concretizar os projectos que forem mais votados pelos lisboetas. Este ano, quem tiver 16 anos já pode participar.

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Há uma ideia a votação para a criação de galerias de arte no Parque Urbano do Tejo e do Trancão. Seriam reaproveitados contentores marítimos, “transformando-os em ateliers e oficinas” e “contribuindo para a economia circular" ENRIC VIVES-RUBIO

No último ano, Lisboa passou por uma pequena revolução no que à mobilidade alternativa diz respeito: as Gira começaram a rolar e empresas privadas puseram também bicicletas nas ruas. Depois, apareceram as trotinetes para transporte de uns e tormento para outros. Não é por isso de espantar que a mobilidade e segurança tenha sido a categoria que mais projectos tem a votação na edição 2018/2019 do Orçamento Participativo de Lisboa. Das 122 ideias finalistas, 29 são dedicadas a esta área e, pelo menos, duas propõem a promoção de “acções de sensibilização” para a correcta utilização dos vários modos de transporte na via pública.

Outro projecto propõe a instalação de um “Sistema Integrado de Sinalização e Orientação Pedonal” que ajude turistas e residentes a deslocar-se na cidade. Como? Ajudando-os a planearem o caminho mais rápido a seguir, a descobrir percursos novos e pontos de conexão entre diferentes meios de transporte.

Numa altura em que Lisboa faz o caminho para ser a Capital Verde Europeia em 2020, a câmara de Lisboa quis destacar as propostas que se centram na sustentabilidade ambiental​. Dos 122 projectos, 24 tem “selo verde”. Um deles sugere que se crie uma unidade de reciclagem de plásticos, em parceria com o Ecocentro do Parque das Nações para onde está prevista a implementação de um Centro de Interpretação de Resíduos, visando a sensibilização para a sua separação e reutilização, escrevem os proponentes. Desta forma, acreditam, esta unidade seria um exemplo de reutilização do plástico, transformando-o num novo material como cordão plástico, que serve para impressoras 3D, e assim executar novos objectos/equipamentos para a cidade.

Contentores no Parque Tejo?

Se o projecto dos contentores previsto para o Martim Moniz não tem sido consensual entre os lisboetas, há quem se inspire nele e tire dali a ideia para a criação de um Espaço de Galerias de Artes no Parque Urbano do Tejo e do Trancão, feito — precisamente — de contentores. Seriam reaproveitados contentores marítimos, “transformando-os em ateliers e oficinas” e “contribuindo para a economia circular"​, escrevem os proponentes. 

Seria, assim, criado um “pólo de criatividade” onde artistas de street art — nacionais e estrangeiros — e mentores pudessem trabalhar em conjunto “fazendo crescer nos jovens uma maior consciência artística, cultural e ambiental”. 

Entre as propostas para a zona ribeirinha, está ainda a instalação de uma rede de sirenes para aviso da população em caso de emergência, como um sismo ou tsunami. 

Chiado com menos carros?

A requalificação de alguns espaços públicos também não ficam fora da lista de projectos que lisboetas — e não só — querem ver executados na cidade. Nos Olivais, querem-se ver requalificados os espaços públicos do bairro Alfredo Bensaúde.

A ideia é criar espaços de lazer para a população — espaços verdes, locais de diversão e de prática de desporto. Para isso, deveriam ser introduzidas peças de mobiliário urbano, e delimitadas zonas de estacionamento, refeitos os passeios e colocadas de lombas. Escrevem os proponentes que esta candidatura resulta do “trabalho comunitário desenvolvido no bairro”, no seguimento de projectos implementados no território e apoiados financeiramente pelo programa municipal BipZip – Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária e que estas são necessidades identificadas pela população.

No Chiado, os lisboetas querem ver o Largo Barão Quintela com nova cara e sem carros. A proposta prevê o alargamento dos passeios, a eliminação dos lugares de estacionamento, a substituição da relva por outro piso em volta da estátua do Eça de Queiroz e ainda a colocação de bancos de jardim para usufruir da sombras das árvores. O trânsito desapareceria, ficando apenas para residentes que se desloquem para a Rua das Flores e para a Travessa Guilherme Cossoul.

Também o Largo das Belas-Artes se quer de cara lavada e com menos carros. Para isso, escrevem os proponentes, se tornar uma “extensão da maior escola de artes e design do país mas também o centro da vida pública do Chiado”. 

Há ainda duas propostas para a colocação de placas de toponímia com QR Code nas freguesias de Alvalade e do Areeiro. Para que ninguém se perca na cidade. 

Monumento às feministas?

Se no ano passado se pedia que fosse erguido um memorial aos escravos e outro monumento à cidade — ambos acabariam vencedores — também este ano figuram no rol de ideias do OP um monumento aos “Movimentos Feministas na Cidade de Lisboa”, com a colocação de uma placa evocativa no topo do Parque Eduardo VII, onde a 13 de Janeiro de 1975 se realizou a “primeira manifestação feminista na cidade, pós revolução de Abril”. É proposto ainda um monumento ao cônsul Aristides Sousa Mendes, assim como a colocação de um relógio de sol no Cais do Sodré, onde em tempos já existiu um equipamento semelhante. 

Este ano chegaram à autarquia 539 ideias, mais 105 do que no ano passado. Destas, 122 passaram à votação final que decorrerá até 28 de Abril. 

Este ano, a idade mínima para apresentação de ideias e votação baixou dos 18 para os 16 anos, porque a autarquia considerou que o OP estava a passar ao lado dos mais jovens. Por isso, foram feitas sessões de apresentação do projecto em escolas, mas também para comunidades migrantes e para os mais velhos. 

Há 2,5 milhões de euros para pôr estas ideias a andar. As mais votadas serão contempladas no orçamento municipal para o próximo ano. O poder está agora nas mãos da população. 

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