Lisboa chama os jovens e quer pôr o verde na agenda do Orçamento Participativo

Edição de 2018 arranca a 29 de Outubro com a possibilidade de pessoas com 16 anos apresentarem propostas. Este sábado foi inaugurada uma obra prevista na edição de 2014: o mercado de Alvalade Sul.

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Mercado de levante da Rua Antero de Figueiredo: “Uma infra-estrutura excepcional” RUI GAUDÊNCIO

Foi há quase 70 anos que a rotina se instalou. Pela fresca, carregados com as hortaliças e frutas que à volta da cidade se produziam, o peixe, a carne e animais vivos, os comerciantes vinham assentar arraiais no quase novo Bairro das Estacas, em Alvalade, por onde Lisboa se começava a espraiar. Era mesmo assentar um arraial: montavam-se as bancas, abriam-se uns chapéus-de-sol, enfrentava-se frio e chuva quando os houvesse, vendia-se consoante a bolsa da clientela e, ao início da tarde, desmontava-se tudo, abalava-se até ao outro dia, o sítio voltava a ser parque de estacionamento.

Acabou agora o mercado de levante da Rua Antero de Figueiredo, nas traseiras do Teatro Maria Matos e do antigo Cinema King, um dos três criados pela câmara de Lisboa depois de fechar o mercado da Praça da Figueira, em 1949. Era o último mercado de levante da cidade. O mercado não fechou, mas passou a ter uma estrutura permanente e foi agora baptizado Mercado Jardim. “É uma infra-estrutura excepcional”, congratulou-se este sábado José António Borges, presidente da junta de Alvalade, durante a inauguração do espaço que, na verdade, já está a funcionar há uns meses.

Com o correr dos anos, a praça foi minguando em número de comerciantes e variedade de produtos. Em 2014, quando os cidadãos conseguiram que a sua requalificação fosse um dos projectos vencedores do Orçamento Participativo (OP), já só havia meia dúzia de bancas, mas clientes e vendedores mantinham-se fiéis. Hoje não há quem venda peixe – vem uma carrinha de Sesimbra entregá-lo por encomenda – e animais vivos só mesmo os cães à solta trazidos pela vizinhança.

Ainda assim, dentro da estrutura de cimento e ferro amarelo, desenhada pelo arquitecto Rui Mendes, há profusão de frutas, flores e verduras e até uma nova banca, com café e bolachinhas. O mercado, disse o presidente da junta, “faz parte da geografia sentimental dos alvaladenses”. Fernando Medina, que foi descerrar a useira placa, afirmou que equipamentos como este proporcionam um “regresso à vida de bairro que Lisboa estava a perder”.

Foi pela vontade dos lisboetas que esta obra se fez. Votada a proposta no OP de 2014, seguiu-se uma consulta pública que serviu para votar num dos três projectos de arquitectura então apresentados. Como tem sido hábito no OP lisboeta, os prazos derraparam e só no início de 2018, mais de três anos depois, é que apareceu a estrutura.

A inauguração dá-se dois dias depois de a autarquia aprovar a 11.ª edição do Orçamento Participativo, que arranca a 29 de Outubro com a recepção de propostas. Este ano, a grande novidade é que a idade mínima para apresentação de ideias e votação baixou dos 18 para os 16 anos, naquilo que a autarquia descreve como um esforço para “captar a participação de grupos de população tradicionalmente mais afastados deste tipo de processos de cidadania activa”.

Mais transversal e inclusivo

No ano passado, o município apercebeu-se de que o OP estava a passar ao lado dos mais jovens, mas também de outros públicos. “A avaliação realizada à edição anterior aponta para a necessidade de o projecto ser mais transversal e inclusivo nas suas diversas vertentes, justificando assim a aposta em sessões presenciais destinadas aos públicos jovem, sénior e migrante, assim como aos próprios trabalhadores e colaboradores da câmara”, lê-se no documento votado na reunião de vereadores de quinta-feira, assinado por João Paulo Saraiva, com o pelouro das Finanças.

Outro propósito desta edição do OP é que haja mais propostas verdes. Com os olhos postos no Lisboa Capital Verde Europeia 2020, a autarquia compromete-se a sensibilizar os cidadãos para que apresentem propostas “que foquem, explorem, demonstrem e valorizem a sustentabilidade ambiental, a optimização de recursos energéticos, a diminuição da utilização de plástico, etc.”. A autarquia salienta, contudo, que estas ideias não terão tratamento preferencial face a outras. Caberá sempre aos lisboetas a última palavra.

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