Justin Trudeau perdeu mais uma ministra, mas desvalorizou a demissão

Jane Philpott, que era responsável pelo Conselho do Tesouro, diz ter perdido confiança no Governo de Justin Trudeau devido ao escândalo de corrupção com a construtora SNC-Lavalin.

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Jane Philpott (à direita) com Justin Trudeau Reuters/Patrick Doyle

A presidente do Conselho do Tesouro do Canadá, Jane Philpott, demitiu-se nesta segunda-feira por ter perdido a confiança na forma como o Governo está a gerir o escândalo político que envolve o primeiro-ministro Justin Trudeau.

Philpott, de 58 anos, tinha tomado posse há pouco mais de um ano. Demitiu-se "após uma séria reflexão" em que concluiu que "os mais recentes acontecimentos têm afectado o governo nas últimas semanas". Ao sair do Governo, quer conservar as suas "responsabilidades éticas" e "obrigações constitucionais". O Conselho do Tesouro é o órgão que aprova os gastos do Governo e o seu presidente é membro do executivo.

Philpott é a segunda ministra a abandonar o Governo canadiano após Jody Wilson-Raybould, de quem é próxima, ter deixado a pasta da Justiça devido ao escândalo político que eclodiu no início de Fevereiro.

Nesse mês, Wilson-Raybould disse ao jornal The Globe and Mail ter sido pressionada por membros do Governo, entre eles Trudeau, para não acusar a construtora SNC-Lavalin de corrupção. 

O principal rosto da oposição, Andrew Scheer, do Partido Conservador, disse que Justin Trudeau deve demitir-se. “A saída de Jane Philpott mostra claramente que o governo está um caos total e é liderado por um primeiro-ministro em queda, consumido pelo escândalo e apenas focado na sua sobrevivência política”, disse num encontro em Toronto.​

A SNC-Lavalin, sediada no Quebeque, é suspeita de, entre 2001 e 2011, ter pago 48 milhões de dólares canadianos (cerca de 32 milhões de euros) em subornos ao regime líbio quando este era dirigido por Muammar Khadafi. Dinheiro pago para garantir a participação da construtora num ambicioso projecto de irrigação.

Se for considerada culpada, a empresa pode ser impedida de concorrer a concursos federais durante uma década, o que pode ter forte impacto na economia do Quebeque, onde a empresa emprega cerca de 3400 pessoas — são 50 mil funcionários em todo o mundo, diz o jornal The Guardian.

Trudeau e outros membros do Governo defendiam um acordo com a construtora que passava pelo pagamento de uma multa e pela adopção de procedimentos internos para prevenir novos crimes de corrupção.

"Apesar de estar desapontado, compreendo a decisão [de Philpott]. Quero agradecer-lhe pelos seus serviços", disse Trudeau num comício nesta segunda-feira à noite.

O primeiro-ministro minimizou o impacte da demissão e defendeu que a "discordância é normal e saudável num sistema democrático".

No comício nos arredores de Toronto, o primeiro-ministro foi várias vezes interrompido com críticas à sua pessoa e às políticas do Governo. Trudeau também desvalorizou estes protestos. "Numa democracia como a nossa, na qual valorizamos fortemente a diversidade, podemos permitir-nos divergências e debate", disse, citado pela Lusa.

Quando ao caso SNC-Lavalin, Trudeau procurou transformar a polémica em alguma coisa positiva: "Este assunto gerou um debate importante. O comportamento das instituições democráticas é importante para os nossos princípios".

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