Sofia Fava não quis falar da sua estadia em Paris

Acusação de branqueamento de capitais que lhe é imputada não versa sobre factos passados na capital francesa, alega ex-mulher de José Sócrates, que é arguida na Operação Marquês.

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João Relvas/Lusa

Acusada de branqueamento de capitais e falsificação de documentos na Operação Marquês, a ex-mulher de José Sócrates, Sofia Fava, recusou-se esta segunda-feira a prestar esclarecimentos ao juiz Ivo Rosa sobre a sua estadia em Paris. Motivo: os crimes que lhe são imputados não versam sobre esses factos, muito embora numa fase anterior do processo a engenheira do ambiente tenha sido interrogada pelo Ministério Público acerca da sua passagem pela cidade onde o antigo primeiro-ministro esteve a estudar.

Em 2013, depois de morar com os filhos num apartamento que estava em nome do empresário Carlos Santos Silva, Sofia Fava mudou-se, quando esta casa entrou em obras, para um aparthotel e depois para umas águas-furtadas, nas quais chegou também a habitar um filho do ex-ministro de Sócrates Pedro Silva Pereira. Todas estas estadias foram, segundo o Ministério Público, pagas pelo empresário, que terá, segundo a acusação, ajudado o antigo governante a lavar dinheiro proveniente da corrupção. Num interrogatório anterior, a arguida havia explicado que Santos Silva apenas emprestou o dinheiro, e que Sócrates lho devolveu depois de vender o apartamento que possuía na Rua Braancamp, em Lisboa.

Esta segunda-feira Sofia Fava forneceu mais detalhes sobre os serviços que prestou às firmas do empresário amigo do ex-marido, que terão justificado uma avença mensal de cerca de 4900 euros, mas também sobre a compra de um imóvel no Alentejo, o Monte das Margaridas. Na tese da acusação este contrato de trabalho era fictício, constituindo apenas mais uma forma de branquear os capitais do ex-marido. E o antigo primeiro-ministro seria o verdadeiro proprietário deste monte.

A favor desta tese milita o facto de a engenheira não ter assinado os projectos que ajudou a fazer para Santos Silva, quer porque terão integrado trabalhos de equipa quer porque o computador que tinha na altura se avariou, segundo explicou. Mas a arguida tem a seu favor escutas de conversas telefónicas que manteve com o patrão sobre alguns destes trabalhos também em 2013, altura em que ambos ignorariam estarem a ser investigados pelas autoridades. O facto de o contrato-promessa de compra e venda do monte ter sido feito em nome do seu companheiro da altura, e não do seu, e também de ter sido Carlos Santos Silva a fornecer a garantia exigida pelo banco para que empréstimo relativo ao negócio imobiliário fosse concedido foram igualmente matérias sobre as quais Sofia Fava teve, uma vez mais, de se explicar. Isso e o facto de achar que iria conseguir pagar os 760 mil euros que custou a propriedade.

A arguida explicou que a possibilidade com que contava, para arranjar dinheiro de forma rápida, de hipotecar um prédio que possuía em Lisboa, e que comprara em conjunto com um antigo companheiro que entretanto falecera, acabou por se tornar uma solução demasiado morosa, uma vez que este homem tinha uma herdeira. Daí Sofia Fava ter recorrido, por mais de uma vez, ao dinheiro do seu patrão. “Ele sempre foi o amigo rico. Disse-me que se eu não conseguisse pagar ficava ele com o monte”, recordou a engenheira num interrogatório anterior ao desta segunda-feira.

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