Solução para a Venezuela não passa por intervenção militar, diz Santos Silva

"Há países que têm dito que todas as soluções estão em cima da mesa. Não é essa a posição da União Europeia", diz o ministro português dos Negócios Estrangeiros.

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daniel rocha

O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Augusto Santos Silva, defendeu este domingo que a solução política para a Venezuela passa pela pressão política e diplomática internacional e não por confrontação interna, nem por uma intervenção militar externa.

"Para nós, a solução política de que a Venezuela carece não se obtém através de uma intervenção [militar] externa. Essa intervenção só agravaria ainda mais o problema. Há países que têm dito que todas as soluções estão em cima da mesa. Não é essa a posição da União Europeia. Nós achamos que a solução por via de uma confrontação interna não é solução, e a solução por via de uma intervenção externa também não é solução", vincou Augusto Santos Silva, em declarações à agência Lusa.

Para o MNE português, o caminho passa pela pressão internacional a vários níveis, nomeadamente através da União europeia (UE).

"Manter e intensificar a pressão político-diplomática que vimos exercendo, e ao mesmo tempo trabalhar no sentido de se poder favorecer uma solução. Nós temos um grupo de contacto internacional constituído, que reúne oito países europeus, a própria União Europeia e quatro países latino-americanos. Temos colaborado também com o Grupo de Lima, que realiza amanhã, segunda-feira, em Bogotá, mais uma reunião. Portugal estará presente como observador, da mesma maneira que esteve presente na reunião anterior. Será a nossa embaixadora na Colômbia que nos representará", indicou o governante.

"Todos estes grupos e iniciativas que procuram ajudar a uma situação pacífica na Venezuela são bem-vindos, porque, para nós, Portugal, e também para nós, União Europeia, há duas coisas que devemos evitar a todo o custo: a primeira é uma confrontação interna, uma guerra civil na Venezuela, que teria consequências devastadoras; e a segunda, uma intervenção externa, designadamente uma intervenção militar externa", sublinhou Augusto Santos Silva.

A Espanha assumiu hoje que não apoiará uma intervenção militar estrangeira, enquanto o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, admitiu que "todas as opções estão sobre a mesa" para "garantir que a democracia prevalece" na Venezuela.

No entender do chefe da diplomacia nacional, a comunidade internacional deve "pressionar o regime de Maduro" para que este permita "a única solução democraticamente legítima" quando há um impasse político como aquele que se vive na Venezuela: a realização de eleições livres.

"Estamos no momento de agir em duas frentes: na frente humanitária, de modo a acudir ao sofrimento do povo venezuelano, ao qual faltam bens tão básicos como alimentos e medicamentos; e do outro lado procurar superar a crise política que está na raiz nesta crise económica e social tão profunda: e para nós europeus só há uma maneira de resolver crises políticas, pacificamente, que é através de eleições, através da devolução ao povo da palavra, e o povo escolherá sem limitações, podendo concorrer todos, seja Maduro, seja Guaidó, sejam outros que quiserem concorrer", frisou Augusto Santos Silva.

O ministro espera que a pressão político diplomática internacional possa favorecer o processo interno na Venezuela.

"Isto não são palavras vãs. Nós achamos que a época do diálogo sem condições já passou, visto que o regime de Maduro nunca retirou as consequências desse diálogo, designadamente para permitir que todos os opositores tivessem actividade política sem bloqueios, ao contrário, o regime de Maduro tem detido opositores. E também as últimas eleições presidenciais, realizadas em Maio passado, não foram eleições livres. Basta pensar que vários candidatos estavam impedidos de concorrer", recordou Santos Silva.

O ministro dos Negócios Estrangeiros lamentou ainda "que tenha sido impedida a entrada de ajuda humanitária na Venezuela" e condenou a "violência que foi exercida sobre os voluntários e deputados que se associaram a essa tentativa de entregar ajuda humanitária".

Em Cúcuta, cidade colombiana na fronteira com a Venezuela, manifestantes enfrentam as forças armadas venezuelanas na ponte Simón Bolívar, no dia em que camiões com ajuda humanitária tentam entrar no país Reuters/EDGARD GARRIDO
O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, junto a um dos camiões que trazem ajuda humanitária para a Venezuela, partindo de Cúcuta, cidade colombiana na fronteira. "Ajuda humanitária a caminho da Venezuela" Reuters/MARCO BELLO
Em Cúcuta, cidade colombiana na fronteira com a Venezuela, manifestantes enfrentam as forças armadas venezuelanas na ponte Simón Bolívar, no dia em que camiões com ajuda humanitária tentam entrar no país EPA/Ernesto Guzmán Jr.
Nos subúrbios de Cúcuta, cidade colombiana na fronteira com a Venezuela, apoiantes da oposição venezuelana celebram a chegada do camião com ajuda humanitária Reuters/MARCO BELLO
Nos subúrbios de Cúcuta, cidade colombiana na fronteira com a Venezuela, apoiantes da oposição venezuelana celebram a chegada do camião com ajuda humanitária Reuters/MARCO BELLO
Em Ureña, cidade venezuelana na fronteira com a Colômbia, confrontos entre manifestantes e as forças de segurança fizeram cerca de 20 feridos Reuters/ANDRES MARTINEZ CASARES
Em Ureña, cidade venezuelana na fronteira com a Colômbia, confrontos entre manifestantes e as forças de segurança fizeram cerca de 20 feridos Reuters/ANDRES MARTINEZ CASARES
Em Ureña, cidade venezuelana na fronteira com a Colômbia, confrontos entre manifestantes e as forças de segurança fizeram cerca de 20 feridos Reuters/ANDRES MARTINEZ CASARES
Centenas de pessoas estão concentradas nas pontes da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, aguardando os camiões de ajuda humanitária enviados para a Venezuela. Na Ponte Simón Bolivar, na cidade colombiana de Cúcuta, cidadãos venezuelanos encaram elementos das forças armadas EPA/ERNESTO GUZMAN JR.
Na Ponte Simón Bolivar, na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, o deputado da oposição José Manuel Olivares participa na marcha de apoio à entrada de camiões com ajuda humanitária Reuters/EDGARD GARRIDO
"Liberdade": Manifestante em Caracas, capital da Venezuela, exigindo que o Presidente Nicolás Maduro autorize a entrada de ajuda humanitária no país. Na capital, há também manifestações Reuters/CARLOS JASSO
Em Caracas, capital da Venezuela, milhares de manifestantes exigem que o Presidente Nicolás Maduro autorize a entrada de ajuda humanitária no país EPA/MIGUEL GUTIERREZ
Em Caracas, capital da Venezuela, milhares de manifestantes exigem que o Presidente Nicolás Maduro autorize a entrada de ajuda humanitária no país Reuters/CARLOS JASSO
Em Pacaraima, cidade brasileira na fronteira com a Venezuela, o primeiro de dois camiões com parte da ajuda humanitária do Brasil . Na quinta-feira, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, mandou encerrar as fronteiras entre os dois países,Em Pacaraima, cidade brasileira na fronteira com a Venezuela, o primeiro de dois camiões com parte da ajuda humanitária do Brasil . Na quinta-feira, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, mandou encerrar as fronteiras entre os dois países EPA/Joédson Alves
Pessoas tentam atravessar a fronteira entre a Venezuela e o Brasil em Pacaraima, no estado brasileiro de Roraima Reuters/RICARDO MORAES
Yaneidi Guzman vive em Caracas e é uma das muitas pessoas que na Venezuela, nos últimos três anos, entraram num estado de subnutrição, à medida que o colapso económico do país tornou a compra de alguns alimentos inacessível. À Reuters, afirma esperar que a ajuda humanitária chegue urgentemente Reuters/CARLOS GARCIA RAWLINS
Caracas, Venezuela Reuters/CARLOS GARCIA RAWLINS
Caracas, Venezuela Reuters/CARLOS GARCIA RAWLINS
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Em Cúcuta, cidade colombiana na fronteira com a Venezuela, manifestantes enfrentam as forças armadas venezuelanas na ponte Simón Bolívar, no dia em que camiões com ajuda humanitária tentam entrar no país Reuters/EDGARD GARRIDO

O fim-de-semana ficou marcado por violência nas fronteiras da Venezuela com a Colômbia e o Brasil, com um saldo de pelo menos quatro mortos e centenas de feridos, quando a oposição ao regime do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tentou fazer entrar no país ajuda humanitária.

Augusto Santos Silva apelou para que "o auxílio humanitário de que o país precisa possa ser providenciado segundo os princípios típicos da acção humanitária, sob a liderança das organizações competentes no sistema das Nações Unidas, respeitando os princípios da independência, da imparcialidade e da neutralidade que caracterizam a acção humanitária".

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