Caso das dívidas ocultas de Moçambique: filho de Guebuza fica em prisão preventiva

Armando Ndambi Guebuza diz ser alvo de "perseguição política". O processo diz respeito a empréstimos no valor de dois mil milhões de dólares que foram ocultados.

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Ndambi Guebuza no tribunal nesta segunda-feira LUSA

Um juiz do Tribunal Judicial de Maputo decretou nesta segunda-feira a prisão preventiva para Armando Ndambi Guebuza, suspeito no processo das dívidas ocultas do Estado, contraídas entre 2013 e 2014 durante a presidência do pai, Armando Guebuza.

Através do seu advogado, Ndambi Guebuza disse estar a ser alvo de uma “perseguição” política da parte de “alguém que quer ganhar a todo o custo” as eleições em Moçambique. O filho mais velho do ex-Presidente adiantou também — e sempre através do advogado citado pelo site de notícias Carta de Moçambique — que no ano passado a sua família foi alvo de um atentado realizado através do envenenamento de alimentos.

Além de Armando Ndambi Guebuza ficaram em prisão preventiva mais sete suspeitos. O filho de Armando Guebuza foi a segunda pessoa próxima do antigo chefe de Estado a ser detida desde quinta-feira da semana passada, depois de Inês Moiane, que foi sua secretária pessoal.

No total, as autoridades moçambicanas detiveram oito pessoas relacionadas com o caso. São as primeiras detenções em três anos e meio e depois de os Estados Unidos da América terem emitido um mandado internacional que levou à prisão do ex-ministro das Finanças Manuel Chang, na África do Sul, a 29 de Dezembro de 2018.

A 26 de Fevereiro os tribunais sul-africanos vão decidir se extraditam Manuel Chang para os EUA, onde é acusado de conspiração para cometer fraude electrónica e conspiração para cometer fraude com valores mobiliários e lavagem de dinheiro, tudo no âmbito do processo das dívidas ocultas de Moçambique

Os outros detidos foram Sérgio Namburete, Elias Moiane e Sidónio Sitoe, sob suspeita de terem recebido transferências da Privinvest (empresa naval no centro da fraude de 2,2 mil milhões de dólares) que depois encaminhavam a outros implicados, diz a Carta de Moçambique. Elias Moaine é familiar de Inês Moaine, secretária do ex-Presidente durante o mandato ligado às dívidas ocultas.

Segundo o Carta de Moçambique, Inês Moiane foi também detida na quinta-feira, tal como Gregório Leão (director-geral dos Serviço de Informações e Segurança do Estado, a “secreta” moçambicana, na altura da fraude), António Carlos Rosário (braço direito de Leão e responsável pela área da “inteligência económica"), Teófilo Nhamgumele (foi um dos responsáveis pelo projecto de protecção costeira que foi usado para viabilizar o desfalque ao Estado) e Bruno Tandane (quadro dos serviços secretos moçambicanos).

O caso da chamada dívida oculta moçambicana levou os doadores de Moçambique a suspenderem a ajuda internacional ao país, depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter concluído que lhe tinham sido ocultados empréstimos no valor de dois mil milhões de dólares. 

O escândalo das dívidas ocultas eclodiu em Abril de 2016. Uma auditoria feita pela consultora internacional Kroll deixou por esclarecer o destino de empréstimos no valor de dois mil milhões de dólares contraídos por três empresas estatais (Ematum, Proindicus e MAM) entre 2013 e 2014.

Segundo a Carta de Moçambique, citando fontes ligadas ao caso, podem ocorrer novas detenções de pessoas cujos nomes figuram numa lista divulgada em Janeiro pela Procuradoria-Geral da República.  

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