Grupo de 78 detidos no Haiti aproveita manifestação contra o Presidente para fugir da prisão

A evasão coincidiu com outra manifestação, em frente ao estabelecimento prisional, contra o Presidente haitiano.

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Reuters/JEANTY JUNIOR AGUSTIN

Um grupo de 78 detidos da prisão de Aquin, sul do Haiti, evadiu-se no início da tarde desta quarta-feira, anunciou um porta-voz da polícia nacional, em plena crise política no país caribenho. As autoridades iniciaram um inquérito para determinar as circunstâncias da evasão.

De acordo com a informação obtida pelo Le Nouvelliste, que cita um inspector da polícia nacional, os 78 presos saíram das celas para tomar banho e recusaram-se a voltar. Depois, aproveitaram as circunstâncias criadas pela manifestação contra o Presidente haitiano frente ao estabelecimento prisional para escapar. 

As autoridades demoraram mais do que o previsto a chegar às imediações da prisão por causa das barricadas montadas em várias ruas de Port au Prince pelos manifestantes. 

"Depois do banho, recusaram-se a voltar às celas e foi nesse momento que os manifestantes começaram a lançar pedras... Os prisioneiros aproveitaram a situação para encetar a fuga", detalhou o deputado Jean Robert Bossé, em declarações ao mesmo jornal.

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Há seis dias que milhares de pessoas se manifestam, por vezes com violência, na capital, Port au Prince, e noutras regiões do país para exigir a demissão do Presidente, Jovenel Moïse.

Prisões inumanas

As prisões do Haiti, com superlotação extrema, falta de higiene, de alimentação e de cuidados primários, são consideradas das mais inumanas do mundo por organizações de defesa dos direitos humanos. A lentidão da justiça é, em parte, responsável por esta situação.

Em Outubro de 2018, o relatório de uma associação haitiana indicava que três quartos das 11.893 pessoas encarceradas no Haiti ainda aguardavam julgamento, algumas há mais de uma década.

Os protestos surgiram após diversas campanhas nas redes sociais contra a corrupção e têm mobilizado milhares de jovens. Mais de metade dos dez milhões de habitantes do Haiti tem menos de 25 anos, mas esta juventude está praticamente ausente da esfera do poder e do mercado de trabalho formal.

Face a um sector privado controlado por um círculo restrito de famílias, o Estado constitui o primeiro empregador do país, mas a administração está muito longe de representar a pirâmide das idades.

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De acordo com o último recenseamento de efectivos do funcionalismo público publicado em Fevereiro de 2018, mais de 80% das pessoas empregadas pelo Estado tem mais de 35 anos.

“A corrupção implica que a administração esteja preenchida por senadores, deputados que utilizam esses espaços para colocar os amigos, a sua família, pessoas sem experiência ou saber”, denunciou Pascale Solages, 31 anos, citada pela agência noticiosa AFP e que participa na campanha Petrocaribe Challenge.

Esta mobilização nas redes sociais, desencadeada em 2018, exige a transparência na gestão dos fundos Petrocaribe, um programa de ajuda oferecido pela Venezuela ao Haiti desde 2008.

Em Janeiro, o Supremo Tribunal de Contas publicou uma auditoria que assinalava uma gestão calamitosa e possíveis desvios destes fundos avaliados em cerca de dois mil milhões de dólares (1,7 mil milhões de euros).

Em paralelo, cerca de 165.000 haitianos emigraram para o Chile nos últimos quatro anos. Perante esta vaga migratória sem precedentes, o Governo chileno impôs desde Abril um visto de entrada para os cidadãos do país mais pobre do Caribe.

E quando o El Dorado chileno fecha as portas, o estatuto migratório privilegiado que os Estados Unidos da América concederam ao Haiti após o sismo de 2010 deverá terminar em Julho e caso a justiça norte-americana não se pronuncie em contrário.

Mas muitos habitantes da ilha continuam a arriscar a saída do país em condições muito perigosas. Cerca de 30 haitianos já morreram em Fevereiro ao largo das Bahamas devido ao naufrágio da sua frágil embarcação.

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