O que André Ventura diz é diferente do que escreve. Sete exemplos

O Chega, de André Ventura, vai coligar-se com o Democracia 21 para as eleições europeias. As declarações públicas de André Ventura contrastam com a declaração de princípios do seu partido.

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André Ventura entregou no Tribunal Constitucional as assinaturas necessárias para formalizar o partido Chega LUSA/João Relvas

Desde que se apresentou como candidato à Câmara de Loures com o apoio do PSD, André Ventura tem sido um político polémico. As suas ideias pouco sociais-democratas geraram críticas no interior o seu partido de origem, de tal modo que acabou por se lançar na aventura de criar um novo, o Chega. Segundo a Visão, o Chega vai formar uma coligação com o Democracia 21 para as eleições europeias de 26 de Maio.

Aos que o acusam de estar à direita de todos os outros, o vereador de Loures responde com indiferença. "O ano passado colaram-me ao Trump, este ano foi a Bolsonaro, para o ano há-de ser outro. Estou-me nas tintas. Se querem dizer que sou de extrema-direita, digam. Para mim, o que é importante é que as pessoas conheçam as propostas e que votem", disse em entrevista ao site Notícias Ao Minuto.

O André Ventura directo das entrevistas está, no entanto, longe do André Ventura que escreveu a declaração de princípios do Chega, mais cautelosa e menos muito menos radical. Descubra as diferenças nas frases que se seguem (as que o político escreveu na declaração de princípios e as que disse em entrevistas).

 

Caso 1

O que ele escreve 

O combate à corrupção dos interesses e a todas as formas de fragilização da República a que assistimos nos dias de hoje, nomeadamente a corrupção no Estado, o enfraquecimento das forças de segurança e dos laços de solidariedade dentro da comunidade

O que ele diz

Se eu fosse primeiro-ministro ou se eu chegar a ganhar as eleições farei o convite ao juiz Carlos Alexandre para ser meu ministro da Justiça (...) garante do combate à corrupção. Não vejo ninguém melhor em Portugal para exercer essa função do que o juiz Carlos Alexandre que já deu provas à sociedade do seu trabalho, já mostrou não ter medo e ter coragem na tomada de decisões.

Caso 2

O que ele escreve

Rejeição clara e assertiva de todas as formas de racismo, xenofobia e de qualquer forma de discriminação contrária aos valores fundamentais constantes da Declaração Universal dos Direitos do Homem

O que ele diz

Quando digo que somos tolerantes com algumas minorias, refiro-me a certos casos em que manifestamente a lei não é cumprida. A verdadeira discriminação é permitir que alguns não cumpram a lei, em detrimento daqueles que vivem com as regras do Estado de Direito.

O que defendo na verdade é que a designação de casamento fique reservada à questão homem-mulher. O que defendo é que as pessoas do mesmo sexo possam ter uma união civil com os mesmos direitos.

A imigração oriunda de certas partes do globo tem de ser mais controlada – há um risco maior de pessoas que vêm da Síria ou do Iraque do que de pessoas que vêm da Venezuela ou da Bolívia.

Caso 3

O que ele escreve

Propor e consolidar um modelo de governação mais próximo dos cidadãos, reforçando a participação directa dos mesmos nas questões fundamentais de gestão e organização do Estado e da República Portuguesa

O que ele diz

A Constituição impõe um limite mínimo do número de deputados que é 180. Hoje temos 230 e quem intervém é uma meia dúzia de deputados. Não faz sentido um país com 10 milhões de pessoas ter 230 deputados, 100 deputados é mais do que suficiente. Não há dinheiro para tanta coisa e há dinheiro para ter 230 deputados? Tem de haver uma reforma constitucional.

Caso 4

Como ele escreve

Pugnar por maior equidade fiscal para contribuintes singulares e colectivos

O que ele diz 

Nós hoje temos um sistema fiscal que penaliza quem trabalha mais, em troca daqueles que não querem fazer nada e só querem receber a transferência de dinheiro que vem do Estado e isso não pode acontecer. Não podemos ter meio país a trabalhar para outro meio país. Geram-se injustiças.

Se há alguém que tem três trabalhos é justo que ganhe mais e é justo que não seja taxado de uma forma que fique praticamente igual a outro que só tem um trabalho. Tal como não é justo que pessoas que se esforçam para subir na hierarquia sejam penalizadas depois em sede de IRS porque sobem de escalão. Quem se esforça é penalizado porque ganha muito, quem fica em casa ou só tem um part-time é beneficiado.

Caso 5

O que ele escreve

A protecção da dignidade da pessoa humana e do valor fundamental da Liberdade nas suas diversas vertentes, contra todas as formas de totalitarismo

O que ele diz

A castração química vai afectar a pessoa e a sua dignidade? Vai, mas temos de proteger as nossas crianças. A lista ser de acesso a várias instituições é um elemento que pode ser considerado discriminatório? É, mas entre isso e proteger as crianças temos que nos deixar do politicamente correcto.

O grande objectivo de um Estado é proteger as pessoas e para isso é preciso às vezes tomar medidas radicais.

Defendo a obrigatoriedade de trabalho para os reclusos. Quem está na prisão é porque cometeu um crime de forma voluntária então não é justo que também ele contribua para aquilo que estamos nós todos a contribuir? Alguns chamam a isto trabalhos forçados, querem chamar-lhe isso, força. Não me importo.

Caso 6

O que ele escreve

A promoção de uma justiça efectiva e eficaz no combate aos novos fenómenos da criminalidade, nomeadamente a criminalidade hedionda e violenta, quer de carácter nacional, quer de natureza transnacional

O que ele diz

Não o defendo [pena de morte] nem desejo para Portugal. Outra coisa é se me choca que um terrorista que põe fim à vida de 30 ou 40 pessoas seja executado, ou um pedófilo que viola e assassina várias crianças? Não choca! Absolutamente nada. Se me quiserem julgar por isso julguem...mas acho que ainda vivemos num país em que a opinião é livre

Caso 7

O que ele escreve

A construção de uma Sociedade do Conhecimento plena e eficaz, com garantia de igualdade de oportunidades para todos todos os cidadãos.

O que ele diz

Indivíduos como o Pedro Dias ou como o violador de Telheiras não podem voltar a sair da prisão (…).

Outro exemplo para aplicar a prisão perpétua: se se vier a demonstrar que a Diana Fialho matou efectivamente a mãe daquela forma, para mim, não há dúvidas de que devia passar o resto da vida na prisão porque mostra uma perversidade que o sistema não pode tolerar. Uma coisa é ter um sistema humanitário, humano e digno, outra é sermos palhaços.

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