Diário

A alma nacional coçou-se durante toda a semana a propósito de um incidente no bairro da Jamaica. Parece que ninguém olhou bem para o vídeo.

26 de Janeiro

Dissertando sobre a Caixa Geral de Depósitos, Raquel Varela garantiu à nação que o “regabofe” só acabava “com um movimento popular”. Esta senhora, altamente laureada, escreveu uma tese de doutoramento em que prova que o Partido Comunista traiu a revolução em 1975.

27 de Janeiro

A alma nacional coçou-se durante toda a semana a propósito de um incidente no bairro da Jamaica. Depois de uma repulsiva exibição de virtude dos políticos e dos comentadores, e de um insólito acto de striptease do primeiro-ministro, chegou-se à conclusão que a direita estava com a polícia e a esquerda com as vítimas.

Parece que ninguém olhou bem para o vídeo. Perguntas: qual foi exactamente o pedido de socorro que a polícia recebeu? Por que razão decidiu mandar uma carrinha com meia dúzia de agentes para o bairro da Jamaica? Qual era a missão? A força era suficiente para a missão, caso ela existisse? Há ou não há procedimentos estabelecidos para situações como esta? Quem comandava no terreno, se é que havia um comando no terreno? Como se explica a desordem do grupo de intervenção que, a julgar pelo vídeo, andava disperso pelas ruas a bater em negros ou a correr atrás deles sem nenhum objectivo perceptível?

Bem sei o que a polícia responderia: não tem “meios”, nem “condições”. De facto o Estado paga mal, não investe em equipamento, nem toma a sério as carreiras da profissão. Este Governo manifestamente abandonou a PSP a favor de outras partes do funcionalismo que rendem mais votos. Em última análise, o que aconteceu foi isto: cinco ou seis polícias sem direcção e sem ordem, abandonados num meio hostil, reagiram com a brutalidade da indisciplina e do acaso.

28 de Janeiro

Artigo de Ana Rita Bessa sobre o Serviço Nacional de Saúde. Diz tudo o que há a dizer sobre os planos do PC, do Bloco e do sr. Pedro Nuno Santos. Os demagogos da Esquerda precisam de comprar um bibe e de ir para a escola.

29 de Janeiro

A crise do "Brexit" não é nova, mas talvez seja a última de uma longa história. A Inglaterra nunca se deu bem com o Continente, como lá se diz, ou com a “Europa”, como hoje se diz. Os seus heróis são os que lutaram contra a França ou contra a Áustria e a Alemanha, e os que simbolizam a vocação universal da Inglaterra: Henrique V, Drake, Raleigh, Marlborough, Nelson, Wellington, Churchill e, acima de todos, Shakespeare, o símbolo da língua. A Inglaterra está na Europa e, ao mesmo tempo, não pertence à Europa, como De Gaulle muito bem viu quando a não deixou entrar no Mercado Comum.

O "Brexit" só pode ser um verdadeiro "Brexit" sem nenhum acordo com a Europa. A Inglaterra só pode ser um membro da União Europeia se desistir de ser a cabeça dos 53 países da Commonwealth. E só pode ser a cabeça da Commonwealth se desistir de ser membro da União Europeia. Não há meio caminho, não há compromisso, não há cedência, não há referendo que lhe valha, como não havia no tempo do Império Britânico. Ou os perigos do mundo, ou a mediocridade francesa de Bruxelas.

30 de Janeiro

Ana Gomes está muito angustiada porque Ricardo Salgado pode escapar à prisão e, em vez disso, ir todo lampeiro “para o jazigo da família”. Palavras para quê?

31 de Janeiro

Toda a gente pede dinheiro ao Estado e o Estado, na pessoa de Centeno, não dá o dinheiro que lhe pedem. Extraordinariamente, no meio da gritaria, o Governo não usa o melhor argumento a seu favor: a moeda. Se o euro desaparecesse e voltasse o escudo, um governo autenticamente socialista da dra. Mariana Mortágua, de Joana Mortágua, de Catarina Martins, de Ricardo Robles, de Jerónimo de Sousa e de João Galamba poderia com facilidade satisfazer Portugal em peso imprimindo dinheiro, e depressa iríamos todos de felicidade em felicidade até à miséria da Venezuela. O Orçamento equilibrado é o preço que nós pagamos para ter o euro.

1 de Fevereiro

Os papalvos que por aí andam com sapatos em bico deviam ler o último capítulo d’Os Maias.

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