Nova Deli, uma capital do século XXI

O leitor Rui Bizarro partilha a sua experiência na Índia.

Fotogaleria
Paharganj REUTERS/Vijay Mathur,REUTERS/Vijay Mathur
Fotogaleria
Forte Vermelho, Old Delhi REUTERS/B Mathur
Fotogaleria
Connaught Place REUTERS/Buddhika Weerasinghe
Fotogaleria
Palácio Presidencial Rashtrapati Bhavan REUTERS/Vijay Mathur

Já estive na capital indiana inúmeras vezes, quase sempre na zona de Paharganj, junto à estação de Nova Deli, a área low cost da cidade, muito conhecida pelos backpackers. Esta é uma área bem confusa, literalmente um caos visual, olfactivo e auditivo com vários restaurantes e darbas (restaurantes de rua), inúmeros vendedores ambulantes, poluição, milhares de pessoas, mulheres de saris coloridíssimos, homens com turbantes, cheiro forte de especiarias, javalis, porcos, cabras, camelos, vacas e cães que circulam nas ruas juntamente com carros, motos, bicicletas e riquexós (tuk tuks).

Chegar directamente do Ocidente a esta zona de Deli pode ser um enorme contraste. Este choque pode ser tão grande que pode surgir logo um certo arrependimento de termos vindo para a Índia, mas nada que uma boa noite de sono não possa transformar. Por vezes, há quem se baseie nas primeiras impressões que tem dos lugares, das pessoas, das situações. Na Índia, tudo nos parece sair ao contrário. E provavelmente as primeiras impressões aqui serão negras e assustadoras, mas se tivermos alguma paciência tudo se transformará.

A capital é uma cidade em pleno desenvolvimento e com uma enorme potencialidade. Há enormes avenidas arborizadas, ruínas de cidades medievais, palácios, mausoléus e ao mesmo tempo prédios modernos, restaurantes giratórios em prédios de 25 andares, plasmas enormes no meio de algumas ruas, inúmeros cinemas de Bollywood com 3D, templos em quase todas as esquinas.

Alguns mais recentes, outros que remontam ao tempo do Mahbarata, como é o caso do templo de Hanuman, um dos mais antigos deste país, que se estima remontar a 3000 a.C. Pisar um templo destes é como entrar numa máquina do tempo. Ouvir os mantras, tocar nas paredes onde biliões de mãos já o fizeram e pisar com os pés descalços um chão onde já caminhou tanta gente, tantos mestres e homens santos é quase como obter um estado samádico com direito a um bilhete pré-nirvânico.

A última vez que tinha estado em Deli foi há 12 anos. Agora, fico muito feliz por notar uma enorme diferença na cidade, desde a organização à limpeza. Esta é uma enorme cidade, onde habitam cerca de 18 milhões de habitantes. A minha sugestão para a conhecer é recorrer ao metro, que fica muito mais em conta do que os riquexós ou táxis. Pode-se comprar um bilhete para o dia todo e usá-lo em todas as linhas, à excepção da linha laranja, de acesso ao aeroporto. O metro é limpo e bem organizado, uma vez que o nome das estações coincide muitas vezes com os principais lugares turísticos. 

É bem interessante observar as pessoas com os seus trajes asiáticos e alguns religiosos, sikhs, monges, árabes, ou mulheres com os seus vestidos tradicionais, cabeças tapadas com os seus lenços, mas todos num frenesim típico das estações das cidades modernas. O metro é, a maior parte das vezes, subterrâneo, mas com muitas zonas à superfície. Eu aventurei-me a andar de metro de noite e em plenas horas de ponta e esta é, sem dúvida, mais uma experiência típica indiana, com milhares de pessoas confinadas a um espaço fechado. Se não quiserem vivenciar esta experiência, basta evitarem as horas de ponta.

Deli pode ser visitada com algum ritmo em três a quatro dias. Há muito de interessante a ver nesta cidade imponente, histórica, moderna e fascinante. Até chegarmos à actual capital, existiram oito cidades na sua história. Deli assistiu ao nascimento e à morte de vários impérios, que sempre deixaram marcas arqueológicas e arquitectónicas, possíveis de se visitarem actualmente.

Por isso, a cidade é formada por um conglomerado de oito cidades que viveram numa roda gigante de ascensão e queda. São elas: Qila Rai Pitora, construída em 1180; Siri, a segunda cidade, construída por Muhammad Khilji em 1303; Tughuqabad, erguida entre 1321 e 1325; Jahanpanah, construída por Muhammad bin Tughluq entre 1325 e 1351, para conectar Qila Rai Pitora e Siri; Kotla Firoz Shah, construída por Firuz Shah Tughluq entre 1351 e 1388, muito perto de Old Delhi; Purana Qila, a sexta cidade, construída por Sher Shah Suri e Dinpanah, surgiu com Humayun em torno de 1500; Shahjahanabad, a sétima, construída pelo imperador mogol Shah Jahan entre 1638 e 1649.

A cidade incluía o Forte Vermelho de Deli, construída quando a capital do Império Mogol foi transferida de Agra para Deli. Nova Deli é a oitava e actual cidade, que une e inclui todas as anteriores.

Aqui seguem as sugestões de visita à capital em quatro dias. Fica a nota que a maioria destes lugares está fechada à segunda-feira. No fundo, podemos dividir Deli em três grandes áreas: Connaught Place e arredores: prédios do governo, museu de Gandhi e vários templos e mausoléus interessantes; Old Delhi: mercados antigos, Forte Vermelho, Mesquita Jama Masid; mais longe do centro, no Sul da cidade, está o templo de Lotus, o Qutub Minar e o templo dos Hare Krishna ISKCON.

Rui Bizarro

Sugerir correcção
Comentar