Cientistas criam sistema que dizem ser capaz de traduzir sinais cerebrais em discurso

Em suma, o sistema transforma pensamentos em palavras e pode ser útil para pessoas que não conseguem falar, como as que sofrem de esclerose lateral amiotrófica ou que sofreram um acidente vascular cerebral.

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Stephen Hawking comunicava através de um sintetizador de voz e de um computador integrado na sua cadeira de rodas Toby Melville

Um grupo de neurocientistas criou, com base na inteligência artificial, um sistema que dizem ser capaz de traduzir sinais cerebrais em discurso inteligível e que poderá ser promissor para pessoas com deficiência ou incapacidade na fala.

Ao monitorizar a actividade cerebral de uma pessoa, a tecnologia "consegue reconstruir, com uma clareza sem precedentes, as palavras que a pessoa ouve", refere em comunicado o Instituto Zuckerman da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, que participou no trabalho.

Os resultados foram publicados na revista científica Scientific Reports e, segundo a equipa de neuroengenheiros e neurocientistas envolvida no trabalho, podem abrir caminho para novas formas de comunicação directa entre os computadores e o cérebro e ajudar pessoas que não podem falar — tais como as que têm esclerose lateral amiotrófica ou sofreram um acidente vascular cerebral — a recuperarem a capacidade de comunicação.

O físico britânico Stephen Hawking, que morreu em Março, tinha esclerose lateral amiotrófica e só conseguia falar com o auxílio de um sintetizador de voz e de um computador integrado na sua cadeira de rodas, escolhendo as palavras que queria dizer através de um subtil movimento dos músculos das suas bochechas.

Para conduzirem a sua tarefa, os cientistas usaram um sintetizador de voz humana em que um algoritmo num computador é capaz de sintetizar a fala depois de ter sido treinado com registos de conversação de pessoas.

O sintetizador foi “ensinado” a interpretar a actividade cerebral de doentes epilépticos que ouviram frases ditas por várias pessoas.

Aos doentes foi pedido que ouvissem também pessoas a enumerarem dígitos de zero a nove enquanto os sinais cerebrais por eles emitidos durante esta tarefa eram registados.

O som produzido pelo sintetizador de voz em resposta a estes sinais foi depois analisado e “limpo” por redes de inteligência artificial que mimetizam a estrutura dos neurónios (células) no cérebro humano. O resultado obtido foi uma voz robótica a recitar uma sequência de números.

Para testar a fiabilidade da gravação, a mesma equipa científica pediu aos doentes para que ouvissem o registo e relatassem o que tinham ouvido.

"O sintetizador e as redes neuronais de inteligência artificial interpretavam com uma exactidão impressionante os sons que os doentes tinham inicialmente ouvido", defendeu Nima Mesgarani, principal autor do estudo e investigador no Instituto Zuckerman da Universidade Columbia.

Num próximo passo, o seu grupo de trabalho pretende testar o sistema com palavras e frases mais complexas e pô-lo a traduzir para discurso verbal sintetizado sinais cerebrais emitidos quando uma pessoa está a pensar.

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