"António Costa tem a obsessão de ganhar as eleições na Madeira"

Miguel Albuquerque acusa António Costa de utilizar "todos os seus poderes enquanto primeiro-ministro" para que o PS seja governo na Madeira e acha que Marcelo "sabeexactamente o que se passa".

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Miguel Albuquerque queixa-se da obsessão de António Costa LUSA/GREGÓRIO CUNHA

Com eleições regionais marcadas para o dia 22 de Setembro, pela primeira vez, a vitória do PSD na Madeira não é certa. Miguel Albuquerque, que voltou a unir o partido, confia que vai ganhar e admite soluções de governo parlamentares. Mas, sublinha, nunca com a esquerda.

O que podemos esperar desta XVII Congresso do PSD-Madeira?
É um congresso fundamental para a mobilização e consolidação da unidade do partido para as batalhas eleitorais que temos pela frente. É esse o grande objectivo, para depois podermos apresentar um programa de governo para a Madeira em consonância com auscultação que vamos fazer da sociedade civil e da população.

Depois de um período marcado por conflitos internos, o partido chega unido ao congresso?
Chega unido, e a verdade é que o nosso grande objectivo é fazer uma unidade entre as diversas gerações. Por um lado, tem de haver respeito pelo legado daqueles que batalharam pela consolidação da autonomia, pelo desenvolvimento integral da região. Por outro, é preciso aproveitar para mobilizar e captar as novas gerações para os desafios futuros, fazendo também um exercício de memória. A Madeira, quando se deu o 25 de Abril, era talvez a região mais atrasada de Portugal. Uma região arcaica, pobre, iníqua, injusta. A autonomia política, e fundamentalmente a inserção da região na Europa, permitiu que se atingissem índices de desenvolvimento nunca pensados pela minha geração e pela geração que me precedeu. Neste momento, é fundamental continuarmos a exercer a verdadeira mudança [referência ao slogan do PS-Madeira]. Nós é que mudámos a Madeira e vamos continuar a mudar.

Existe, na moção que leva ao congresso, essa preocupação de sublinhar o que era a Madeira antes da autonomia?
Nós não vivemos no passado, mas temos sempre de lembrar o percurso que foi feito. Povos que não têm memória são povos que estão condenados a não ter futuro. O que está a acontecer agora na Europa é um apagamento das referências e daquilo que é o passado, e do que foi conseguido em termos de progresso social, económico e de coesão. Temos de olhar para aquilo que era o passado: a Madeira era uma sociedade analfabeta, onde não havia escolas, nem professores. Morria-se por falta de cuidados médicos. Não havia trabalho digno, obrigando as pessoas a emigrar. Faltavam estradas e ligações aéreas e marítimas. Tudo isso foi ultrapassado graças à democratização da sociedade e à conquista da autonomia política.

Tem defendido um reforço da autonomia...
A autonomia política é uma conquista da nossa democracia. Fez, no fundo, a restituição da dignidade cívica e política à população. Dadas as especificidades do nosso arquipélago, da ilha, o povo tem o direito inalienável de tomar decisões relativamente àquilo que é o seu futuro colectivo. No âmbito dos desafios que se colocam ao futuro da Madeira e das duas regiões autónomas, temos de ter mais poderes autonómicos para podermos ter a possibilidade e a capacidade de enveredarmos por caminhos de desenvolvimento colectivo que são necessariamente diferentes das regiões que têm escala e têm continuidade continental. A região autónoma da Madeira tem de angariar receitas próprias para garantir o seu estado social. A saúde pública na região é paga pelos impostos cobrados aqui. A educação é paga pelos impostos cobrados cá. O funcionamento da administração pública regional é pago pelo impostos cobrados na região. É por isso fundamental no futuro termos maior capacidade de angariar receita fiscal, através da atractividade para o investimento.

E um sistema fiscal próprio?
Nós estamos a trabalhar nisso. Já conseguimos no âmbito do IRS um diferencial de 20%, mas precisamos de um sistema fiscal próprio que nos permita, no contexto da projecção atlântica de Portugal, sermos mais atractivos para o investimento. É importante não só para a Madeira, como para todo o país. Com a saída do Reino Unido da União, Portugal tem talvez a maior área de plataforma continental da Europa. Teremos quase três milhões e 700 mil quilómetros quadrados. Esta projecção atlântica é fundamental para o país, que tem a capacidade de criar no Atlântico um hub de interacção e de captação de empresas e de negócios, e de relacionamento com a América do Norte, com a América do Sul, com África, com o Magrebe. Um sistema fiscal próprio vai permitir que as empresas do mundo venham se sediar aqui, em vez de estarem em Londres ou no Luxemburgo ou na Holanda. Um hub de internacionalização para o país.

E como será com Bruxelas?
É preciso haver vontade política do Estado português para defender esta ideia. É uma questão de pensar em termos perspectivos, em termos geopolíticos. Nós pensamos muito em cima da espuma dos dias, mas o que é fundamental perceber é quando tomamos decisões, não podemos apenas pensar na geração actual. Vou fazer 58 anos, tenho de pensar é na malta que tem 20 anos, na malta que tem 15 e na malta que tem 10 anos. Os portugueses merecem ter uma sociedade onde vivam melhor e com melhores condições. Isto é um legado. Não é um daqueles fenómenos políticos popularuchos que se limitam a sorrir na internet.

A autonomia nem sempre é compreendida no continente.
Hoje em dia há a noção por parte dos nossos concidadãos do continente, sobretudo aqueles que visitam a Madeira, da importância da autonomia política. Eu sou patriota. O PSD quando desenvolve a Madeira está a desenvolver Portugal. Existe de facto uma tradição em Portugal de centralismo jacobino. Se olharmos para a repartição dos gastos da administração por região nós somos, de facto, a par da Grécia, um dos países onde a desproporção e o desfasamento dos gastos públicos é mais centralizado. E quando mais centralizado é um país, mais estruturalmente atrasado é.

O primeiro-ministro partilha dessa visão autonómica?
António Costa tem uma obsessão neste momento que é fazer tudo, e tem utilizado todos os seus poderes enquanto primeiro-ministro, para ganhar as eleições na Madeira. Agora duvido muito que os madeirenses e os porto-santenses queiram que seja o Governo central e António Costa a mandar na Madeira.

Essas queixas têm sido repetidas nos últimos anos...
Têm sido repetidas porque são a realidade.

...foram levadas ao Presidente da República?
O Presidente da República não chegou à política anteontem. É um político experiente que sabe exactamente o que se passa. Portanto não vale a pena estarmos a ocultar aquilo que toda a gente sabe.

A situação do PSD Nacional pode contaminar as eleições regionais?
Podia contaminar se nós entrássemos agora num processo de autofagia. Se, a poucos meses de termos três eleições, entrássemos num processo eleitoral interno, em que o PSD não se focasse naquilo que é essencial: unidade e apresentar uma alternativa às esquerdas. Ir para umas eleições internas fora de timing seria uma disfuncionalidade e uma perda de foco. Aquilo que os portugueses esperam do PSD, é que tenha um projecto alternativo a este governo.

Na Madeira, as sondagens dão um empate técnico entre PSD e PS. A última, publicada este sábado pelo DN-Madeira, coloca pela primeira vez o PS à frente. Como olha para estes indicadores?
Eu já ganhei quatro eleições para a Câmara [do Funchal] com maioria absoluta. Ganhei as eleições regionais [em 2015]. O PSD ganha eleições, não estou interessado em ganhar sondagens.

A possibilidade de não haver maioria absoluta coloca o cenário de coligações cada vez mais provável. Admite governar em coligação?
Nós vamos fazer tudo para ganhar as eleições e vamos ganhá-las. Em função daquilo que é vontade popular, dentro do quadro parlamentar, encontraremos sempre soluções. Há um principio fundamental: nós não faremos coligações à esquerda. Nunca.

Resta o CDS ou o JPP?
Nós estamos a jogar para ganhar. Não estamos a abrir a porta a nada que não seja uma vitória. De preferência com maioria absoluta, o que nos garante a estabilidade e a construção de políticas efectivas de governação. Como, aliás, ficou demonstrado. Se nós não tivéssemos conseguido a maioria absoluta nas últimas eleições não tínhamos conseguido fazer a recuperação económica, a consolidação das finanças públicas, a diminuição do desemprego e o crescimento económico que temos há 65 meses, baixando efectivamente os impostos para as famílias e empresas. Estamos com a taxa de desemprego mais baixa dos últimos 12 anos.

Tem existido um esforço para passar a mensagem de que os compromissos estão a ser cumpridos.
Serão integralmente cumpridos. A população sabe isso. O PSD não pode deixar de cumprir os seus compromissos e não vamos entrar aqui numa onda destas políticas modernas, populistas e inconsequentes. O PSD tem valores próprios e não vai aliená-los para se mascarar de fenómenos de popularidade fácil na internet e redes digitais. Vamos concretizar aquilo que é a nossa obrigação: cumprir o que prometemos.

Quando fala de populismo está a apontar para a oposição regional ou para Lisboa?
O Governo da República tem feito tudo para empatar as questões da Madeira. Ainda agora teve uma questão ridícula, que é até ofensiva – também não levamos isso muito a sério. No ano passado foi comemorado o Dia de Portugal nos Açores, este ano, por maioria de razão deveria ser feito aqui na Madeira, porque estamos a comemorar os 600 anos. Escolheram outro concelho. Outro país. É uma discriminação, uma vergonha e uma arrogância que nós madeirenses registamos.

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