Oposição sai derrotada e exige a Rio vitória nas eleições

Poucos acreditam que o líder se empenhe no esforço de união e mantém-se a suspeita de uma “purga” nas listas de deputados.

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No conselho nacional, Rio não vota Nelson Garrido
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Os críticos foram à reunião Nelson Garrido
Moção de confiança foi aprovada
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Moção de confiança foi aprovada Nelson Garrido
Rui Rio pediu que o deixem trabalhar
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Rui Rio pediu que o deixem trabalhar Nelson Garrido

No day-after da longa noite do conselho nacional do PSD, alguns dos críticos de Rui Rio que saíram derrotados da reunião mostravam alívio mas apontavam também uma redobrada exigência: o líder tem, agora, condições para ganhar eleições europeias, regionais e legislativas. Luís Montenegro garante ao PÚBLICO que “estava preparado para assumir agora” a liderança do PSD, mas promete deixar de lado as “divergências políticas” para dar espaço à direcção.

À saída da reunião do conselho extraordinário, Rui Rio pediu que o deixem trabalhar sem “permanente ruído” depois de ver a sua moção de confiança aprovada, já de madrugada, com uma margem confortável de 25 votos (75 a favor, 50 contra e um nulo). Rio pediu paz e os que queriam a sua saída parecem dispostos a dar-lhe. Mesmo que o líder do partido tenha acabado a noite a declarar que não mudaria a sua estratégia. “Isto pode funcionar como chicotada psicológica”, disse ao PÚBLICO um dirigente social-democrata. Até porque, durante a reunião em que ouviu palavras de apoio mas também muitas críticas, Rui Rio admitiu que alguns dos reparos eram genuínos e não tinham segundas intenções.

A maioria dos conselheiros nacionais não se entusiasmou com Luís Montenegro como um rosto alternativo a Rui Rio​, alguns por apoiarem genuinamente o actual líder, outros por conveniência de gestão de estruturas partidárias e outros ainda porque tiveram receio dos riscos de uma mudança de liderança a poucos meses de actos eleitorais. No resultado favorável a Rui Rio terá pesado o sentido de voto da maioria dos elementos da segunda lista do conselho nacional mais votada e que é liderada por Carlos Eduardo Reis, antigo dirigente da JSD e que é arguido na operação Tutti-Frutti. O conselheiro nacional foi apoiante de Santana Lopes nas últimas directas e agora anunciou que o seu voto iria para Rui Rio. Decisivos também terão sido os votos das regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

Mesmo depois de, nos últimos dias, ter denunciado pressões junto dos conselheiros por parte da direcção, Luís Montenegro mostrou que se conformou com o resultado da votação no conselho nacional, apesar de ter pedido uma clarificação em directas. “Estou de consciência tranquila”, sublinhou, numa conferência de imprensa, prometendo reservar para si as divergências que mantém com a estratégia da direcção e fazer o combate ao Governo do PS.

Ao PÚBLICO, Luís Montenegro acrescentou que este desafio “não foi um repente nem uma marcação de terreno” e que, na sua opinião, “o partido ganhou, passada a espuma dos dias”, mas que a abordagem sobre o que aconteceu está nas mãos da direcção. O antigo líder da bancada não deixou de colocar uma fasquia a Rui Rio: conquistar uma terceira vitória nas legislativas de forma consecutiva”. A mesma ideia foi deixada por Pedro Pinto, líder do PSD/Lisboa: “Estão reunidas as condições para ganhar as europeias e as legislativas”. Mas o dirigente, que assumiu ser o rosto dos críticos, não deixou de assinalar que o líder do PSD “percebeu os sinais enviados pelo conselho nacional”.

Não foi apenas Pedro Pinto que, na reunião, criticou Rui Rio mas outros dirigentes distritais. Uma das intervenções mais fortes foi a de Maurício Marques, que está à frente da distrital de Coimbra, e que mostrou desagrado pela forma como foi ultrapassado por elementos da direcção nacional na sua região. Com um perfil discreto, o deputado fez uma intervenção dura, dizendo que respeitou o líder (apesar de ter apoiado Santana Lopes) e que trabalhou com ele com lealdade nos últimos 11 meses. Mas sentiu-se desrespeitado por elementos da direcção nacional, que organizaram iniciativas partidárias em Coimbra sem o informar.

Uma das perguntas que sobra da noite do conselho nacional – que viu o abraço de Luís Filipe Menezes e Rui Rio - é se o PSD será capaz de se unir e que papel terá o líder nesse processo. Poucos acreditam que Rio se empenhe nesse esforço ao mesmo tempo que se mantém a suspeita de que a “purga” sobre os que se revoltaram contra a direcção vai acontecer nas listas de deputados para as próximas legislativas. Espera-se que as “vassouradas” que Rio prometeu ainda na campanha interna atinjam os dirigentes que estiveram na origem do movimento para tentar destituir a direcção.

Até lá, o líder do PSD prometeu “acentuar a oposição” ao Governo, agora que considera que o PS já está em condições de perder as eleições. Um deputado assinalou essa nuance de discurso: “Até agora ele só dizia que o PS tinha de perder as eleições para o PSD as ganhar. Agora já diz o que o PSD tem de fazer para as ganhar”. Tanto na intervenção inicial como no discurso final da reunião, Rio prometeu ser mais combativo contra o Governo para construir uma “alternativa ao PS”. Já de madrugada explicou aos jornalistas a sua estratégia. “Tem etapas. A dois anos de eleições é uma coisa, a um ano de eleições é outra, o que se faz em cima de eleições é outra ainda diferente”, disse, lembrando que a oposição vai ser diferente nos próximos meses à medida que se aproximam as europeias. Mas rejeitou fazer a “política do bota abaixo”.

No dia seguinte à sua vitória no conselho nacional, Rio vê um dos seus próximos renunciar ao cargo de coordenador regional das Relações Externas no Conselho Estratégico Nacional. Rui Nunes, que foi candidato à liderança do PSD/Porto, saiu do cargo por considerar que “não estão reunidas as condições básicas” para cumprir a tarefa desde logo “pela falta de articulação com a coordenação nacional”.

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