Rui Rio vai repetir a razia de Ferreira Leite há dez anos?

Quantos críticos vão caber nas listas de deputados do PSD?

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Nelson Garrido

Um dos argumentos mais repetidos até à exaustão entre os apoiantes de Rui Rio nos últimos dias foi o de que as movimentações para derrubar a direcção do partido, a menos de um ano das legislativas, tinham a ver com os lugares de deputados. Dito de outra forma: para os rioístas, os anti-Rio temiam ser afastados das listas e estariam a lutar pela mudança de direcção apenas com o objectivo de poderem colocar “os seus” nas listas.

Manuela Ferreira Leite exprimiu este ponto de vista cristalinamente na intervenção que desencadeou a fúria de Luís Montenegro – e o consequente anúncio de que estaria pronto para directas. A ex-líder do PSD falava da convenção do MEL, onde vários candidatos a sucessores de Rui Rio marcaram presença: “Acho que todo este tipo de movimentos que se baseiam em questões de natureza pessoal e muito marcados pela futura constituição da lista de deputados merecem-me algum desprezo”. Para a ex-presidente do PSD era “óbvia” a relação entre a convenção e as futuras legislativas. “É agora ou nunca! Quando estiverem feitas as listas já as pessoas todas se desinteressaram e só acordam daqui a quatro anos”.

Faz agora dez anos que Manuela Ferreira Leite decidiu, quando era presidente do PSD, varrer da lista de deputados dois dos seus maiores opositores, Pedro Passos Coelho, que era cabeça de lista por Vila Real, e Miguel Relvas, número um por Santarém. Passos tinha concorrido – e perdido – contra Ferreira Leite nas directas de 2008. O seu afastamento da lista de deputados provocou um pequeno tumulto interno pré-eleitoral e críticas hoje consideradas cómicas, tendo em conta que nessa mesma intervenção na TVI Ferreira Leite disse que preferia um partido “pequeno” a um partido que tivesse o rótulo de “direita”. Pois as listas feitas por Manuela em 2009 foram criticadas dentro do partido (por exemplo, pelo antigo secretário-geral Azevedo Soares, já falecido) por preconizarem uma “viragem à direita”, tendo em conta a integração nas listas de Maria José Nogueira Pinto, que fora uma destacada dirigente do CDS.

Vai Rui Rio seguir para as próximas listas das legislativas o modus operandi de há dez anos da sua apoiante Manuela Ferreira Leite? Há quem tenha facilitado parte do “serviço”. O ex-líder parlamentar Hugo Soares afirmou esta semana que, se Luís Montenegro “perdesse”, ele abdicaria por motu proprio de ser candidato a deputado nas próximas legislativas. Se o caso de Hugo Soares está resolvido, a verdade é que a bancada do PSD tem dado muitas dores de cabeça a Rui Rio – foi feita por Passos Coelho e mostrou o seu desagrado ao novo presidente do partido logo que foi preciso eleger o líder parlamentar, Fernando Negrão, que até tinha apoiado Santana Lopes nas eleições directas. Negrão teve demasiados votos contra para ter causado uma primeira boa impressão aos seus pares.

José Pedro Aguiar-Branco, que declarou apoiar Montenegro, seguiu o exemplo do seu “proto-líder” e renunciou ao mandato de deputado. Alguns casos resolvem-se por si. Vai Rui Rio afastar das listas o histórico Pedro Pinto, presidente da distrital de Lisboa e que neste conselho nacional foi o porta-voz dos críticos? Ou Paula Teixeira da Cruz? Teresa Morais? A verdade é que qualquer tentativa de inclusão – que Rio acabará decerto por ter – vai esbarrar numa realidade objectiva: as perspectivas de crescimento do PSD nas próximas legislativas não são extraordinárias. Preencher, sem revolta nas suas próprias hostes, o número de lugares elegíveis vai exigir o olho clínico de um contabilista e político avisado.

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