Como nasceu o movimento de revolta no PSD?

Descontentamento no partido uniu grupo de distritais. Luís Montenegro só se juntou mais tarde.

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Conselho nacional do PSD (foto de arquivo) Paulo Pimenta

O movimento das distritais do PSD que se revoltaram contra Rui Rio nasceu do descontentamento sentido nas bases e nos eleitores, da tendência de queda nas sondagens e da falta de perspectiva de qualquer mudança na estratégia delineada pelo líder do PSD. Vários líderes e dirigentes locais reuniram-se – um dos encontros aconteceu a 4 de Janeiro e foi noticiado pelo PÚBLICO - preocupados com o estado do PSD. Mas sem Luís Montenegro. O ex-líder parlamentar foi depois confrontado com a opção de desafiar a liderança agora. Mais tarde seria impossível. Acabou por decidir, sozinho, ser o rosto da oposição.

Foi depois de um conselho nacional quente, em Setembro do ano passado, que Rui Rio decidiu falar com os militantes directamente, em sessões por todo o país, para evitar o considerava ser a “deturpação” das suas palavras. Aí começou a sentir-se o descontentamento das bases. As sondagens não ajudavam, o PSD estava em queda desde o Verão, altura em que Rui Rio se retirou do espaço mediático durante um mês para gozar férias. Ao mesmo tempo, muitos dirigentes, uns que apoiaram Rio nas directas e outros que não, sentiam-se excluídos pelo líder do PSD desde o congresso, não só nos lugares mas também no desenvolvimento da estratégia da direcção.

No final do ano passado, a preocupação era crescente entre alguns dirigentes distritais. Esse grupo – Lisboa, Viseu, Setúbal, Coimbra e Faro - reuniu-se, num encontro secreto, logo no início deste mês, para avaliar a possibilidade de convocar um conselho nacional extraordinário com um único ponto: destituir a direcção de Rui Rio. Mas ao mesmo tempo era preciso apresentar uma alternativa para que a iniciativa não fosse vista como apenas destruidora da direcção.

O plano inicial era reunir, de forma discreta, as assinaturas dos conselheiros para convocar essa reunião extraordinária e colocar em cima da mesa uma moção de censura, mas a revelação pública da iniciativa acabou por precipitar outros acontecimentos. Foram contactados potenciais candidatos à liderança do PSD para perceber quem tinha condições para avançar. Luís Montenegro, que esperava por outro momento para ser candidato, decidiu ser o desafiador da liderança de Rui Rio em eleições directas. Como argumento usou os maus resultados da estratégia de Rio, as falhas na oposição ao Governo e a incapacidade de unir o partido.

O líder do PSD antecipou-se e escolheu outro campo de batalha: uma moção de confiança no conselho nacional, um instrumento que nunca tinha sido usado no partido.

Os opositores a Rui Rio tiveram de angariar apoios no conselho nacional, um órgão de composição variada, que resulta de listas apresentadas no congresso, e de inerências. Do lado de Rui Rio, o vice-presidente Salvador Malheiro, entre outros, também se esforçou nos contactos junto dos conselheiros com direito de voto. Mesmo com moção aprovada, a estabilidade no PSD pode durar pouco tempo.

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