Altice lança plano de saídas para universo de dois mil trabalhadores

Trabalhadores com mais de 50 e 55 anos têm até 4 de Fevereiro para decidir se querem ficar com contrato suspenso ou passar à pré-reforma.

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A Altice, presidida por Alexandre Fonseca, tem cerca de 8500 trabalhadores no activo Nuno Ferreira Santos

Há cerca de dois mil trabalhadores que encaixam no programa de saídas voluntárias que foi anunciado na quarta-feira pela Altice Portugal. O programa, com data de adesão até 4 de Fevereiro, destina-se a trabalhadores com mais de 50 anos, uma faixa etária que tem estado debaixo de fogo desde que a Altice assumiu a gestão da antiga PT, em 2015, e em que se encontram muitos dos trabalhadores que, por exemplo, foram sendo reunidos nos últimos anos em salas, sem terem funções atribuídas, ou abordados para assinarem rescisões de contrato.

Com o plano de saídas lançado esta semana (“Programa Pessoa”) a Altice dá opções a estes trabalhadores para deixarem a empresa: se tiverem entre 50 e 55 anos saem com direito a 100% da remuneração (salário base e diuturnidades), mas apenas com 50% da remuneração variável (se a tiverem), como a isenção do horário de trabalho ou o complemento de desempenho. Nos casos em que têm mais de 55 anos, podem ir para a pré-reforma, neste caso, com 80% da remuneração e 40% das restantes componentes.

Em aberto, para os restantes trabalhadores, mantém-se a possibilidade de rescisão voluntária do contrato de trabalho, mas, neste caso, as situações serão analisadas caso a caso. Fonte oficial da Altice disse ao PÚBLICO que “não há objectivos, nem máximos nem mínimos” para o número de rescisões e que se trata de “um programa totalmente voluntário". A Altice explica ainda que "cada candidatura será avaliada e terá uma resposta por parte da empresa", o que significa que pode mesmo ser recusada.

“Está longe de ser o melhor programa [de saídas já introduzido na empresa], mas depois de todas as peripécias dos últimos anos, que criaram um clima de insatisfação muito grande, as pessoas têm alguma expectativa”, reconheceu o presidente do STPT (Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal), Jorge Félix, dizendo já ter recebido “algumas dezenas” de pedidos de informação nesta quinta-feira.

“Há muito que os trabalhadores se perguntavam quando é que a empresa avançava com um plano; agora que aconteceu, há expectativa, mas também é preciso fazer contas”, especialmente para quem for para a pré-reforma, porque “pode ter algum prejuízo na reforma”, afirmou.

Questionada sobre o motivo que a levou a avançar com o plano de saídas neste momento, a empresa comentou que "o programa visa essencialmente potenciar o rejuvenescimento de competências, antecipando os desafios futuros que o negócio e as condições de mercado vão determinar".

Segundo Jorge Félix, na reunião com os sindicatos, o presidente da Altice, Alexandre Fonseca, afirmou que a empresa quer rejuvenescer os recursos humanos e aproveitar as saídas para “trazer mais jovens”. Tendo em conta que “o vencimento de entrada” na Altice Portugal ronda actualmente os 785 euros brutos, a empresa “não é atractiva para jovens especializados”, pelo que, a par das saídas, a empresa também “terá olhar para isso se quiser atrair talentos”, afirmou Jorge Félix.

Estratégia antiga

Logo que chegou à PT Portugal, em 2015, Armando Pereira, o sócio português de Patrick Drahi, assumiu nas reuniões com os sindicatos que a empresa tinha quatro mil trabalhadores a mais (tem cerca de 8500 trabalhadores no activo) e que havia que reduzir custos.

Depois de tentativas de cortes que incluíram o recurso à figura da transmissão de estabelecimento (a transferência de uma actividade e respectivos trabalhadores para outra empresa), a Altice segue agora uma estratégia aplicada por anteriores gestões da antiga PT (o último plano foi em 2011) e que até à data tinha rejeitado usar. Na prática, vai assumir os encargos com trabalhadores que ficam em casa, ainda que com poupanças face ao custo de mantê-los no activo.

Quando comprou a PT Portugal à brasileira Oi, o valor do negócio (7400 milhões de euros) incluiu cerca de 1300 milhões reservados essencialmente para responsabilidades com pensões e reformas dos trabalhadores. A empresa ainda conserva cerca dois mil pré-reformados e perto de 100 trabalhadores com contratos suspensos (chegaram a ser cinco mil), diz Jorge Félix.

O sindicalista lamentou que o período de adesão/reflexão agora proposto seja “tão curto” e disse desconhecer qual poderá ser a estratégia seguida pela gestão se o número de adesões for reduzido. “Nós sugerimos que a empresa introduzisse alguns incentivos-extra para que a adesão fosse melhor”, como a integração do subsídio de refeição no valor final, mas a empresa diz que “tem confiança no plano só por si”, relatou.

Outra fonte dos trabalhadores ouvida pelo PÚBLICO também criticou o prazo, dizendo que, por ser tão curto, cria uma “pressão adicional” e que se “houver muita adesão” a empresa sentirá que não tem necessidade de melhorar as condições propostas, seja incluindo o subsídio de refeição ou garantindo aos trabalhadores pré-reformados e com contratos suspensos os mesmos aumentos que se verificarem para os trabalhadores no activo, exemplificou.

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