Nova direcção diz que Ateneu do Porto precisa de um milhão para obras de recuperação

Ateneu tem uma biblioteca com 60 mil livros, entre eles uma primeira edição de Os Lusíadas, que precisam de ser recuperados, assim como uma colecção de quadros que precisam de ser limpos e recuperados. Também o telhado precisa de ser arranjado.

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pp paulo pimenta

O novo presidente da Direcção do Ateneu Comercial do Porto, Rogério Gomes, revelou esta quarta-feira que é necessário um milhão de euros para reverter a degradação a que o edifício da associação tem sido votado ao longo de duas décadas.

"Temos imenso património valioso e, portanto, temos que pôr cobro a quase duas décadas em que, praticamente, não foi feito nada de obras, de preservação física do património" afirmou aquele dirigente em entrevista à Lusa.

Rogério Gomes, que tomou posse terça-feira, disse que faltou dinheiro e admitiu que a recuperação deste património só poderá ser feita de forma gradual e com recurso a fundos comunitários. "Para fazer as obras é preciso um milhão de euros que terá que ser investido gradualmente, começando por coisas prioritárias, como o telhado", declarou.

Para a nova direcção, o caminho passa pela abertura do Ateneu a novos associados para que a sua "quotização possa ajudar, também, no equilíbrio financeiro".

"O movimento associativo, em geral, não é uma coisa que esteja em alta no país e a média de idade dos nossos associados é muito alta e [os sócios] foram diminuindo gradualmente. Uma receita [que já foi] de 100 mil euros de quotas anuais, neste momento, pouco ultrapassa os 30 mil", explicou, lembrando que "há cinco, seis anos [o Ateneu] esteve em risco de fechar".

O novo presidente da direcção, eleito para um mandato de dois anos, explicou também que, nos últimos quatro anos, foi possível reduzir o défice de exploração que representava cerca de 50% da receita "para praticamente zero".

"No ano passado, o défice foi cerca de dois mil euros, o que é muito pouco para quem tinha um défice crónico de 60/70 mil euros e salários em atraso", sustentou.

Neste sentido, a nova direcção vai tentar aumentar as receitas através do aluguer de espaços e espera que o restaurante, que "em princípio vai abrir", seja uma fonte de receita regular, já que o mesmo está concessionado ao pagamento de uma renda.

"Nós temos uma biblioteca com 60 mil livros que precisam de ser recuperados, temos uma colecção de quadros que precisam de ser limpos e recuperados, temos ainda a questão do telhado que tem que ser arranjado", sublinhou.

Aos objectivos de preservação, abertura à comunidade e de sustentabilidade e estabilidade financeira, juntam-se as comemorações dos 150 anos da instituição que faz anos a 29 de Agosto.

"Nós estamos a preparar uma série de conferências e concertos, e esperamos inaugurar uma exposição permanente do nosso património", afirmou.

Para além de Rogério Gomes, que foi secretário da direcção anterior e que agora assume a presidência, a nova direcção do Ateneu Comercial do Porto conta ainda com Helena Mendes Ribeiro na vice-presidência e Paulo Lopes, anterior presidente da direcção, como secretário. Já o presidente da Federação Distrital do PS/Porto, Manuel Pizarro, foi eleito presidente da mesa da Assembleia-Geral.

Fundado em 1869, o Ateneu Comercial do Porto está intimamente ligado à própria história da cidade do Porto, identificando-se especialmente com os seus movimentos culturais e cívicos.

Por ali passaram nomes como Antero de Quental, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Teixeira de Pascoaes, Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros.

O Ateneu dispõe ainda de uma vasta colecção de peças de escultura, faiança e quadros a óleo, cuja venda de alguns artigos, em particular, chegou a ser ponderada perante as dificuldades financeiras sentidas, entre elas a primeira edição de Os Lusíadas, de 1572, um dos muito 40 mil títulos do espólio da biblioteca da instituição.

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