You: a televisão boa, a televisão má e a televisão do meio

Chega esta semana ao Netflix um exemplar de série com as calorias de um guilty pleasure e com as críticas da televisão de autor.

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You é televisão de puro entretenimento sem contrapesos morais nem leituras reflexivas DR

Há muito a dizer sobre a chamada “má televisão”, ou “trash TV” — programas sobre especialistas em rebentar borbulhas, casamentos às cegas, plásticas desastrosas, comentário coscuvilheiro, Big Brothers e seus sucedâneos, no fundo exploitation no geral com voyeurismo no particular. Muito mais ainda se diz sobre a boa televisão, ornamentada a ouro e superlativa no emprego de “autores” e “estrelas”, entronizada em listas de melhores do ano, da década, de sempre. Menos parece dizer-se sobre a televisão do meio.

É a televisão de puro entretenimento sem contrapesos morais nem leituras reflexivas, que pode ser um eficaz procedural tipo Mentes Criminosas ou um delicodoce drama hospitalar tipo Anatomia de Grey. Até pode ter sido qualquer coisa como Marés Vivas, um concurso familiar há 30 ou 40 anos ou um programa despudorado como Pesadelo na Cozinha. É na televisão do meio que está a virtude para muitos programadores, e é no meio que está o ganho numa década em que de uma maneira ou de outra a televisão parece arranjar sempre forma de nos chegar, como água que fura pela areia, pelas pedras, pelas ervas, independentemente de os grandes rios ou canais lhe darem espaço.

É aqui que desembocamos, esta semana, para uma série do canal de cabo americano Lifetime, que não foi uma das que mais falta fizeram em Portugal no último semestre mas que numa semana de paragem para muitos espectadores pode ser uma agradável surpresa. Ou um tira-gosto para os filmes de Natal. You é a adaptação do livro homónimo de Caroline Kepnes, um bestseller e um thriller com tons de comédia e com Penn Badgley (o “lonely boy” de Gossip Girl, mais gloriosa televisão do meio) a arrancar elogios às críticas do New York Times ou da New Yorker. Assim dito, e com uma apreciação bem positiva dos mais exigentes espectadores, nem parece televisão assim-assim.

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Mas é que a televisão do meio não é só mediana, às vezes também é muito boa sem precisar de ter pedigree e revezes inovadores para a vender. É aquela à qual, como a You, se aplicam os epítetos de “guilty pleasure” e que pode conter clichés, exageros e o tal voyeurismo: You é uma história sobre millennials, sobre a obsessão de um jovem livreiro por uma jovem cliente, com redes sociais, privacidade e passwords à mistura. São dez episódios e está no Netflix a partir de dia 26.

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