O chef Ljubomir tenta salvar 13 restaurantes portugueses de um Pesadelo na Cozinha

Adaptação do formato com Gordon Ramsay chega ao horário nobre da TVI este domingo às 21h45. Stanisic odeia televisão, mas quer ajudar nos “casos críticos”.

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Nelson Garrido

Ljubomir Stanisic é quase tão conhecido pela qualidade da sua cozinha quanto pela personalidade directa. Sem papas na língua, atira: “Odeio televisão”. Ainda assim, vai ser a partir deste domingo o protagonista, em lume nada brando, de uma das noites de maior audiência de Portugal, e com um programa que se enquadra na “moda” da comida na TV mas também serve o propósito de “ajudar as pessoas”. Kitchen Nightmares era o formato do irascível Gordon Ramsay, Pesadelo na Cozinha é a adaptação do ígneo Ljubomir Stanisic.

É uma aposta da TVI num horário em que até há pouco tempo a SIC tinha no ar, por exemplo, o concurso Best Bakery; também os sábados de várias noites televisivas dos últimos anos foram preenchidos pelas várias encarnações do programa MasterChef (primeiro na RTP, depois na TVI em versão adultos e júnior), cujas versões internacionais continuam a fazer sucesso no cabo (SIC Caras, 24Kitchen), onde há vários canais dedicados à cozinha, alguns dos quais com produção nacional. A TVI vai ter ainda este ano novas edições MasterChef Celebridades e Júnior.

Há anos que a televisão está cheia de comida e a moda não abranda, sobretudo quando a própria área está em crescimento. O sector da restauração e do alojamento foi o que mais empregos criou em Portugal nos últimos cinco anos – mais de 35 mil novos postos de trabalho. Mas nos 13 casos escolhidos pela equipa de produção chefiada pelo realizador Manuel Amaro da Costa (foram rejeitados dois restaurantes, por estarem muito aquém do limite mínimo de qualidade), havia problemas. No protagonista do primeiro episódio, a Amburgaria de Setúbal, em plena Avenida Luísa Todi, Stanisic encontrou carne podre no frigorífico e um exaustor que não via limpeza há anos, como descreve a TVI. A estação propôs o programa ao chef nascido em Sarajevo e ele viu “uma oportunidade de ajudar pessoas em dificuldades, que têm restaurantes na merda, literalmente”. O formato é simples – o chef entra no restaurante sem nada saber, “não há fake nenhum”, e encontra “puras realidades”. Em poucos dias, tenta intervir no espaço e mudar o seu funcionamento. São os próprios restaurantes que se candidatam voluntariamente à “inspecção”; depois, há marcas que colaboram na revitalização da decoração ou nos serviços.

Eram já essas as linhas gerais do original com o britânico Gordon Ramsay, mas há “o pequeno pormenor” de o chef Ljubomir não ver televisão. Kitchen Nightmares? “Não vi episódio nenhum, nem vou ver.” Ainda assim, pelas imagens promocionais já mostradas, mantém-se o espírito do programa, o terceiro feito pelo dono do Bistro 100 Maneiras nos últimos anos – houve Papa-Quilómetros (24 Kitchen, 2013) e Masterchef (RTP, 2011). 

Deparou-se sobretudo com problemas de “higiene”. E, claro, com “o lado financeiro". "Não sabem fazer contas, nem havia um departamento a apoiá-los. Compravam frangos a seis euros e vendiam a quatro porque tinham medo de perder clientes, mas perdiam dinheiro diariamente e estavam endividados até ao pescoço”, recorda. Encontrou operações "antiquadas", mas também "sítios onde não foi preciso intervir muito porque tinham boas pessoas lá dentro”, que aceitaram a sua ajuda sem grandes resistências – estas, quando existem, são um dos ingredientes fundamentais do formato, uma pitada de drama humano e conflito. Outro é o desfecho, o momento Cinderela, quando se revela a transformação.

Como ir ao psiquiatra

O que reserva o futuro para estes restaurantes intervencionados por Ljubomir e sua equipa? É que o balanço americano do formato americano (passa na SIC Radical) não é famoso, como foi investigar o site GrubStreet, da New York Magazine. Sete temporadas (2007-14) e 77 restaurantes depois, 61,8% acabaram por fechar. Ljubomir Stanisic aponta para o fifty-fifty: “Espero que metade deles consiga renascer e ficar bem melhor depois da intervenção que fizemos. Estamos a falar de trabalhos muito difíceis em muito poucos dias”, e com falhas financeiras. “Dei o meu máximo.”

O chef desdramatiza a amostra que o seu Pesadelo na Cozinha vai revelar: “A gastronomia portuguesa é extremamente rica. O panorama português é óptimo, não tem nada a ver com este – [os casos do programa] são casos críticos. É como ir ao psiquiatra quando se tem problemas de cabeça, tem de se ir afinar." Tanta cozinha na sala da televisão enriquece os portugueses, defende por fim. “Há dois anos as pessoas entravam num restaurante e liam numa ementa ‘bacalhau confitado’ e não sabiam o que era, se era cozido ou grelhado, não sabiam que era bringido em gordura. Agora já sabem. A gastronomia está muito na moda, todos os chefs são estrelas. Eu espero não me tornar numa, porque não quero filmar mais nenhum programa nos próximos quatro anos.”

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