Para Jardim regressar será preciso “Cristo descer à Terra”

Nome do antigo governante tem sido falado para as europeias e legislativas. Jardim rejeita, diz que seria “desastroso” e recupera frase de Marcelo Rebelo de Sousa.

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Gregorio Cunha

Alberto João Jardim, o antigo presidente do governo madeirense, tem sido apontado como candidato do PSD às próximas europeias e até como cabeça de lista às legislativas. O regresso seria uma forma de o PSD-Madeira recuperar um activo importante, que lhe daria mais músculo num ano eleitoral exigente, em que, pela primeira vez em muitos anos, o PS apresenta-se como uma verdadeira ameaça à hegemonia social-democrata no governo do arquipélago. Mas, em declarações ao PÚBLICO, Jardim é taxativo.

“[Sou] candidato a coisa nenhuma.” O histórico líder dos sociais-democratas madeirenses, apesar da reaproximação à actual direcção do PSD na Madeira, encabeçada por Miguel Albuquerque, mostra-se indisponível para regressar ao activo, mesmo se o partido precisar. “Conforme declarei sempre, após terminar as funções governativas, na vida há tempos diferentes. Agora vivo um novo tempo. Voltar atrás, seria desastroso sob diversos aspectos, inclusive o político-partidário”, argumenta, para mais à frente, enigmático, recuperar uma expressão de Marcelo Rebelo de Sousa.

Em Fevereiro de 1996, no rescaldo da derrota de Cavaco Silva face a Jorge Sampaio, nas presidenciais desse ano, Fernando Nogueira demitiu-se da liderança do PSD e o nome de Marcelo Rebelo de Sousa foi falado para lhe suceder na presidência do partido. “Nem que Cristo desça à Terra”, respondeu, peremptório Marcelo, a essa possibilidade. Um mês depois, era eleito no congresso de Santa Maria da Feira líder do PSD.

Perante a insistência da pergunta – “Em que circunstâncias pode ocorrer um regresso?” –, Jardim, ironiza. “Faço minha uma declaração, há muitos anos, do dr. Marcelo Rebelo de Sousa: 'Só se Cristo descer à Terra'”.

Mesmo assim, o homem que governou a Madeira entre 1975 e 2015 admite continuar a intervir na política regional e nacional. Não “numa perspectiva partidária, reducionista”, mas num âmbito mais alargado.

“Quando vejo a Autonomia Política da Madeira, que tanto custou a conquistar - e ainda só parcialmente-, agora ameaçada mais intensamente pelo colonialismo do Governo da República Portuguesa e seus habituais domésticos regionais, o meu dever não é partidário, é para como todo o povo madeirense”, justifica, criticando os partidos à esquerda do PSD por não darem “quaisquer garantias” de desenvolvimento da região autónoma. “É só o 'bacalhau a pataco' da I República, do socialismo de Sócrates, que nos trouxe a tutela estrangeira, e do Maduro”, aponta, dizendo que, perante o actual estado do país político, “há que intervir”.

E acrescenta: “Quando os domésticos regionais, habitualmente ecos de Lisboa, têm posições conservadoras sobre o esclerosado sistema político-constitucional da República Portuguesa – ao qual fui sempre oposição –, o caminho é combater essa 'pseudo-esquerda'”.

Depois de um período de relativo afastamento da actual direcção do PSD-Madeira, a que não foram alheias as lutas internas que manteve com Miguel Albuquerque (primeiro em 2012, quando ganhou por uma unha negra, e depois em 2014, quando o candidato que apoiava foi derrotado), Jardim voltou este ano a aproximar-se da liderança social-democrata.

Em Junho, recebeu o mais alto galardão regional, a Medalha de Mérito da Região, por proposta do PSD, e no mês seguinte, foi recebido com entusiasmo na Festa do Chão da Lagoa, a que tinha faltado no ano anterior. 

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