Acabou o exílio a que Jardim se obrigou?

Depois de dois anos afastado da política activa, o antigo líder madeirense tem recuperado paulatinamente espaço político, na Madeira mas não só. Parece estar de volta, mas ainda não se sabe bem a quê.

Alberto João Jardim foi uma presença muito saudada na festa de Chão da Lagoa do PSD-M neste ano
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Alberto João Jardim foi uma presença muito saudada na festa de Chão da Lagoa do PSD-M neste ano HOMEM DE GOUVEIA
Alberto João Jardim foi uma presença muito saudada na festa de Chão da Lagoa do PSD-M neste ano
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Alberto João Jardim foi uma presença muito saudada na festa de Chão da Lagoa do PSD-M neste ano LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

As notícias sobre a morte política de Alberto João Jardim foram manifestamente exageradas. Depois de três anos de relativo silêncio, entrecortado por uma espécie de simulacro de candidatura a Belém e pelas três ou quatro entrevistas que foi dando, todas diligentemente ignoradas pelo PSD de Miguel Albuquerque, o antigo presidente do governo madeirense tem vindo a recuperar espaço político na região autónoma.

Esta segunda-feira, Jardim recebe o título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade da Madeira. A distinção, explicou o reitor José Carmo, justifica-se pelos serviços prestados à região autónoma e ao papel na fundação daquele estabelecimento de ensino.A cerimónia, integrada na abertura do ano académico, conta com a presença do sucessor de Alberto João Jardim no PSD-Madeira e no governo regional, Miguel Albuquerque, e é ilustrativa do “renascimento” de uma figura que nos últimos anos foi votada a um quase ostracismo político, mesmo dentro do partido que ajudou a fundar.

A revelação de uma dívida pública colossal em 2011, a consequente submissão da região autónoma a um plano de resgate e assistência financeira e a derrota nas autárquicas de 2013, nas quais o partido perdeu sete das 11 autarquias que detinha, empurraram para a saída o homem que governou o arquipélago de 1978 a 2015.

A ausência foi curta. O regresso de Jardim, que se demitiu de chefe do executivo regional em Janeiro de 2015, depois de abrir espaço para a sucessão ao não concorrer às internas do final do ano anterior, começou devagarinho. Na ressaca das autárquicas de 2017, nas quais os sociais-democratas madeirenses voltaram a ficar-se pelas quatro câmaras municipais, uma das quais em coligação, Albuquerque viu-se obrigado a remodelar o governo. Tornou-o mais político e abriu a porta à entrada de alguns jardinistas para lugares-chave.

Pelo caminho, o PS, a reboque de Paulo Cafôfo, o independente que lidera o Funchal desde 2013, foi-se tornando uma ameaça real para a hegemonia do PSD na Madeira. As últimas sondagens para as regionais do próximo ano colocam os dois partidos num empate técnico, longe de uma maioria absoluta.

No final de Agosto, num texto de opinião publicado na imprensa regional, Jardim atribuía, numa espécie de mea culpa, a ascensão de Cafôfo às divisões internas no PSD, entre jardinistas e albuquerquistas. A derrota de 2013, escreveu, deveu-se à troika e à parte do PSD “renovadinha” ("renovação" foi o lema de Albuquerque nas internas de 2014) que votou “inteligentemente” Cafôfo. Em 2017, foi o “ajuste de contas” dos que foram traídos quatro anos antes. “Espero que todos já tenham ganho juízo”, rematou.

Não é por isso de estranhar, face ao crescimento da oposição, que a influência de Jardim tenha crescido. Este ano, ganhou mesmo um novo fôlego.

Logo em Fevereiro, foi ao congresso nacional do partido apoiar Rui Rio e prometer umas “bengaladas” a quem desunir o PSD. Foi o regresso, seis anos depois, a uma reunião magna social-democrata.

Em Junho, novo regresso, agora à Assembleia Legislativa da Madeira para receber o mais alto galardão regional: a Medalha de Mérito da Região. A distinção, proposta pelo PSD, mereceu os votos favoráveis das bancadas do PS e CDS, em nome dos “bons serviços” prestados pelo homem que nos últimos anos recusava ir ao parlamento debater com a oposição.

Um mês depois, subiu ao planalto do Chão da Lagoa para participar activamente na festa anual do partido. Mesmo sem ir ao palco, apesar da insistência de Albuquerque e de Rio, Jardim acompanhou ambos no recinto e no final, ouviu, no meio de jotas, elogios ao legado das lideranças jardinistas nos governo e partido regionais.

O nome do antigo governante foi mesmo falado como candidato indicado pela Madeira para as europeias de 26 de Maio. Recusou. “A minha intervenção político-partidária activa acabou. Limito-me à participação de cidadania”, justificou então, para meses depois aceitar a indicação do partido para integrar a Comissão Independente para a Descentralização, coordenada pelo ex-ministro socialista João Cravinho. Um convite só possível com a saída de cena de Passos Coelho, com quem Jardim cultivava forte animosidade, e que acaba também por ser a legitimação nacional, que sempre disse não procurar.

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