Um passado com gelo

Não esperava que Roma fosse uma obra-prima – mas também não esperava que fosse um filme tão frio e tão ossificado.

Não esperava de todo que Roma fosse uma obra-prima – mas também não esperava que fosse um filme tão frio e tão ossificado.

Cuarón sabe fazer as coisas mas não vai além disso. Conseguiu fazer uma recriação de um ano da família dele. Era difícil? Sim. Conseguiu? Sim. Tem razões para estar contente: Sim, ele diz que a verdadeira ama dele chorou quando viu o filme. Ele também deve ter chorado: é um ano da vida dele, apanhada para todo o sempre.

O problema são as pessoas que não conhecem o Alfonso de parte nenhuma. Para mim, ele ter conseguido recriar a família dele entre 1970 e 1971 é motivo de orgulho tal como será para quem usou fósforos para fazer uma cópia exacta da Torre de Belém.

Parece estapafúrdio dizer de um filme que ele é excessivamente encenado – mas Roma é. A culpa da frieza de Gravity pode ser atribuída ao espaço e aos fatos dos astronautas. Mas a frieza de Roma é um efeito de uma distância terrível: aquela que dista da visualização do que aconteceu até à emoção que aquela não conseguiu provocar. Ver é uma coisa, senti-la é outra.

Ainda bem que não fui a um cinema para ver o filme. A Netflix sabia o que estava a fazer quando decidiu mostrá-lo em televisores, porque é o que mais se parece com os projectores de slides com que os chatos dos adultos das outras famílias mostravam fotografias intermináveis das férias do Verão. Roma é Cuarón a sujeitar-nos a reconstituições minuciosas da família Cuarón e da adorada empregada Libo que eles exploravam mas adoravam – e que os adorava também.

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