Para o primeiro dirigente da JS, as juventudes devem ser “uma forma de responsabilizar”

Em pleno Congresso da Juventude Socialista, o PÚBLICO falou com um dos fundadores da Juventude Socialista, Arons de Carvalho. Um juventude composta maioritariamente por homens, cuja média de idades ronda os 24 anos.

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O líder socialista António Costa fez saber que não irá estar presente no Congresso Rui Gaudêncio

Arrancou esta sexta-feira o Congresso Nacional da Juventude Socialista (JS ), que deverá eleger o próximo líder da estrutura, sucessor de Ivan Gonçalves. O encontro, que acontece em Almada, no distrito de Setúbal prolonga-se até dia 16 de Dezembro. Na corrida está apenas uma candidata: Maria Begonha. A candidatura de Begonha — apesar de única — não é consensual. Nas últimas semanas, a candidata perdeu o apoio de dezenas de concelhias, consequência das polémicas que têm sido reveladas no último mês. Em causa estão os erros no seu currículo e a aprovação do Regulamento do Congresso Nacional sem o número mínimo necessário de membros da JS presentes

Caso a eleição de Maria Begonha seja confirmada no domingo, a candidata será a terceira mulher a ser eleita secretária-geral da Juventude Socialista. Antes dela, foram-no Margarida Marques e Jamila Madeira. Já o primeiro dirigente foi o socialista Alberto Arons de Carvalho, que se tornaria também deputado na Assembleia da República e, durante o Governo de António Guterres, assumiria o cargo de secretário-geral da Comunicação Social. O PÚBLICO falou com Arons de Carvalho, que recordou o nascimento da JS.

O "militante JS" é um homem de 24 anos

Arons de Carvalho tornou-se no primeiro dirigente da Juventude Socialista no Portugal pós-25 de Abril, em 1975. De lá para cá, pela liderança JS já teve 11 secretários-gerais, incluindo António José Seguro, Sérgio Sousa Pinto, Duarte Cordeiro e Pedro Nuno Santos.

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O actual líder da JS Ivan Gonçalves Enric Vives-Rubio

A predominância dos homens na liderança reflecte a maioria masculina que compõe a Juventude Socialista. De acordo com os dados facultados ao PÚBLICO por esta estrutura partidária, existem, actualmente, cerca de 30 mil militantes. Destes, 54,85% dos militantes são homens e 45,15% são mulheres.

As idades dos militantes variam, segundo o gabinete de comunicação da Juventude Socialista, entre os 14 e os 30 anos, ou seja, entre a idade do militante mais novo e a idade em que deixa de ser elegível como militante “podendo apenas cumprir o mandato que está a exercer até ao seu término”. A média ronda os 24 anos e meio, idade com que Arons de Carvalho se tornou dirigente da estrutura. 

“A Juventude Socialista foi criada como resultado de uma evolução dos jovens socialistas. Antes do 25 de Abril o que existia era um grupo inorgânico, clandestino, com influência nos meios académicos universitários”, recorda em conversa com o PÚBLICO Arons de Carvalho.

“Fazíamos um jornal clandestino chamado Esquerda. E às vezes pintávamos umas paredes. Quando o Jaime Gama foi preso, por exemplo, pintámos umas paredes na Universidade de Lisboa, no Campo Grande com a mensagem ‘Libertem Jaime Gama’”, continua o antigo deputado e ex-vice-presidente do grupo parlamentar do PS. “Começou com uma estrutura muito limitada, muito pequena. Cresceu exponencialmente.”  

“Os primeiros tempos da Juventude Socialista foram sobretudo de organização e estruturação. Foi uma época concentrada mais na mobilização do que na política. Só depois começámos a ver o que iríamos reivindicar”, relata.

Foi nesse arranque que decidimos se iríamos ter duas uniões: uma de estudantes e outra de jovens trabalhadores, à semelhança da juventude do Partido Comunista Português”, conta Arons de Carvalho. “Optámos por unir porque achámos mais lógico, uma vez que havia problemas comuns a todos os jovens, quer fossem estudantes, quer fossem trabalhadores.”

Com o crescimento e a definição do programa ideológico, houve também o início de actividade à escala internacional. Arons de Carvalho recorda uma dessas ocasiões, dois anos depois de ter sido oficialmente criada a Juventude Socialista. “Fomos nós que oferecemos instalações e meios para que a juventude do Partido Socialista Espanhol (PSOE) pudesse ter o seu Congresso em 1977, o que na Espanha ainda franquista não era possível”, partilha. O evento acabou por decorrer na Praia Grande, em Sintra.

Para Arons de Carvalho, as juventudes partidárias devem ser “uma forma de responsabilizar”. “Os jovens dirigentes têm as suas responsabilidades, têm as suas reuniões, a sua organização, as suas metas e os seus objectivos”, não só a nível nacional e a nível regional. "Devem ser uma escola de aprendizagem em termos políticos. Não só de aprendizagem ideológica, mas também de aprendizagem ética".

O antigo dirigente acredita que, actualmente, às vozes dos jovens são mais ouvidas. Apesar de recusar generalizações, aponta algumas situações em que os jovens das juventudes partidárias eram reduzidos à distribuição de cartazes. “Uma juventude partidária não é apenas isso. Não é apenas mão-de-obra jovem disponível. É um espaço de reflexão e discussão” que “tem agora uma estrutura própria e autónoma”.

"Admito que haja pessoas que, com as suas ambições, tentem fazer da JS um trampolim para voos mais altos. Isso é assim em todas as organizações, políticas ou não políticas, partidárias e não partidárias", reconhece, ressalvando, no entanto, a existência de "pessoas de qualidade" que estiveram "à frente quer da JS quer da JSD".

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