G20: O mundo dentro da Argentina

A Cimeira de Buenos Aires consagrou a Argentina como um país plenamente reinserido na comunidade internacional.

Num momento em que os ventos isolacionistas sopram com intensidade, quis o destino que a Cimeira do G20 tivesse lugar na Argentina, um país de imigrantes que se reabriu ao mundo sob a liderança do Presidente Mauricio Macri.

O ponto de partida para os trabalhos levados a cabo em Buenos Aires era indisfarçavelmente melindroso. O grau de abertura das nações é reflexo das sensibilidades domésticas e dos solavancos internacionais e, em ambos os níveis, proliferavam condicionantes. No jogo de espelhos que é a diplomacia saltavam à vista a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, a tensão militar no estreito de Kerch, o caso Khashoggi, a investidura do próximo Presidente brasileiro e ainda a saída do Reino Unido da União Europeia.

No entanto, a disponibilidade para o diálogo e a fluidez da conversa dependem igualmente da valia do anfitrião, da sua capacidade de cobrir todos os cantos da sala e de convocar os convidados mais distantes e desconfiados. Ocasião para a Argentina, a sua cultura e o seu povo, revelar-se na plenitude, fosse mediante símbolos como o Teatro Colón ou a recepção, calorosa e desprendida, que só os latinos, a sua música e a gastronomia, conseguem oferecer.

De facto, a Cimeira de Buenos Aires consagrou a Argentina como um país plenamente reinserido na comunidade internacional, defensor do multilateralismo e aberto ao investimento estrangeiro e ao diálogo com todos os interlocutores. Está hoje claro, aos olhos dos argentinos e do mundo, que o Presidente Macri cumpriu uma das suas basilares promessas de campanha: transformar um país que se encontrava fora dos mercados internacionais numa nação conectada com o mundo, numa voz escutada, relevante e credível.

Em relação aos resultados da Cimeira, a declaração final não é – contrariamente ao que vi referido – um pronunciamento de circunstância, estéril e minimalista. Desde logo porque alude a três dos principais reptos globais: as alterações climáticas, o combate ao terrorismo e a defesa do comércio internacional.

Em vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, levada a cabo em Katowice, foi importante ver os signatários do Acordo de Paris reiterar, na declaração do G20, que se trata de um compromisso “irreversível”, feito de “responsabilidades comuns embora diferenciadas”.

Destacaria, por outro lado, a tentativa de convocar a indústria digital para o combate ao terrorismo, tema que de alguma forma marcou também a última edição da Web Summit em Lisboa. De facto, sem o envolvimento das plataformas tecnológicas e a celebração de convénios internacionais na área da cibersegurança, a tarefa dos Estados neste campo estará cada vez mais dificultada.

Por último, constituiu igualmente um marco importante o reconhecimento de que a Organização Mundial do Comércio precisa ser reformada e opera hoje “aquém dos seus objectivos”. Trata-se de um domínio em que o G20, pelas suas raízes financeiras, tem responsabilidades acrescidas e que será retomado nos trabalhos de 2019, agora com sede no Japão.

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