PSD-Madeira: Olhar para dentro, a pensar em 2019

Miguel Albuquerque é o único candidato à liderança dos social-democratas madeirenses, encabeçando uma lista que procura corresponder às várias sensibilidades internas.

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Miguel Albuquerque LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

Quatro anos depois de ter ganho o partido contra o candidato apoiado por Alberto João Jardim, e daí ter avançado para a conquista de uma maioria absoluta (mesmo que à tangente) nas legislativas regionais de 2015, Miguel Albuquerque apresenta-se sozinho às eleições internas do PSD-Madeira, marcadas para 14 de Dezembro.

O partido, que governa o arquipélago desde a fundação da autonomia, tem no próximo ano um enorme desafio, perante o crescimento do PS. Os socialistas têm procurado, com relativo sucesso, capitalizar os dividendos da governação à esquerda do país, ao mesmo tempo que tentam se afirmar como verdadeira alternativa ao PSD, muito à boleia da imagem de Paulo Cafôfo. O independente que lidera a Câmara Municipal do Funchal desde 2013, será o cabeça de lista dos socialistas nas regionais do próximo ano, e o que lhe pode faltar em experiência política, sobra-lhe em popularidade.

Para a subida do PS, tem também contribuído o desgaste que os anos de governação (não apenas os últimos três, mas todas as quatro décadas de poder) têm provocado no PSD e o facto de dossiers importantes como o novo hospital, a mobilidade aérea, as quebras no turismo (o motor económico da ilha) ou a ligação ferry entre a Madeira e o continente, não terem (ainda) uma verdadeira solução. A isto, a narrativa social-democrata tem respondido, responsabilizando o governo de António Costa, a quem acusa de falta de sentido de Estado e de querer condicionar as eleições madeirenses.

Algumas vezes, como aconteceu com o financiamento do novo hospital da região, com a mobilidade aérea ou com os juros que o Funchal paga pelo empréstimo ao Estado, a sensibilidade de Lisboa para as questões autonómicas acaba por embaraçar o próprio PS-Madeira, que no parlamento madeirense é muitas vezes obrigado a votar sozinho, mesmo à esquerda, ou a apoiar resoluções contra o governo socialista.

Mas a divisão de tudo isto, resulta em resto zero. Nas últimas sondagens, divulgadas no final de Julho pelo DN-Madeira, colocam PSD e PS num empate técnico. Albuquerque sabe que para manter a hegemonia do partido na Madeira, é preciso, primeiro, voltar a mobilizar o PSD, que continua fragmentado entre as várias sensibilidades que no final de 2014 foram à luta pela sucessão de Jardim.

Essa vontade (e necessidade) de Albuquerque lê-se na lista de nomes que apresentou para o acompanhar nos órgãos do partido. De todos, o mais notório é uma ausência. Rui Abreu, actual secretário-geral do PSD-Madeira e compagnon de route de Miguel Albuquerque desde os tempos em que o chefe do governo madeirense presidia à Câmara do Funchal, foi sacrificado.

“As pessoas não são eternas nos lugares”, desdramatizou Albuquerque aos jornalistas, explicando que as “mudanças” operadas no secretariado do partido são “importantes” para o ciclo eleitoral que se avizinha. “Vai rejuvenescer os quadros do partido, motivar os militantes, alargar e diversificar a participação destes”, continuou, insistindo que decidiu em função dos interesses da Madeira e do PSD.

Para o lugar de Rui Abreu, que chegou a ser chefe de gabinete de Albuquerque nos primeiros anos de governo, mas que acusava algum desgaste, muito motivado pelo resultado nas últimas autárquicas – o PSD, mesmo sendo o partido mais votado, teve o pior resultado de sempre no arquipélago –, chega José Prada.

Advogado e deputado desde 2000, Prada é uma das vozes mais respeitadas da bancada social-democrata, e figura consensual (se é que podemos aplicar este adjectivo à política) dentro do partido. “É com todos, sem excepção, que conto trabalhar, em prol das vitórias que queremos e iremos alcançar no próximo ano”, disse o futuro secretário-geral, numa curta nota publicada na página pessoal no Facebook, agradecendo a Rui Abreu o trabalho desenvolvido. “O PSD-Madeira precisa de todos e todos têm, mais do que nunca, um importante e imprescindível contributo a prestar”, sintetizou.

Com ele, entra também para o secretariado Rui Coelho, figura próxima de Manuel António Correia, o tal candidato apoiado por Jardim em 2014. Para a comissão política, a abrangência de sensibilidades é ainda maior, com o regresso de históricos do partido como Savino Correia ou Rafaela Fernandes.

O PSD, que tem o congresso marcado para 19 e 20 de Janeiro, é dos últimos partidos, até por razões de calendário, a arrumar a casa, tendo em vista o ano eleitoral que se aproxima. PS, CDS e Bloco de Esquerda já clarificaram os projectos políticos e escolheram mesmo novas lideranças, e o PCP tem o congresso marcado para este fim-de-semana. Edgar Silva, o actual coordenador regional, já se mostrou disponível para mais quatro anos de mandato.

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