Homem versus natureza: quem vencerá a batalha?

Somos mesmo a geração que pode fazer a diferença? Sim, somos! Queremos mesmo fazer a diferença? Não temos alternativa! Temos até 2030 para mostrar o que valemos. Tratemos do problema, antes que ele trate de nós.

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NASA

“Nunca vi nada assim!” “Foi impossível controlar.” “Ninguém sabia o que fazer.” “Foi horrível!” Já todos vimos e ouvimos relatos destes associados aos fogos mortíferos, às tempestades, às inundações ou às ondas de calor que têm assolado o mundo inteiro nos últimos anos. Realmente nunca ninguém observou ou experienciou nada igual. Somos a primeira geração a testemunhar e a sentir na pele os impactos das alterações climáticas e somos, eventualmente a última, a poder implementar medidas sérias e concertadas que garantam a sobrevivência do ser humano no planeta.

Convenhamos que ao longo da história sempre existiram eventos climáticos extremos devido a causas naturais, mas a frequência e severidade de alguns destes eventos têm vindo a aumentar. Dói, mas tem de ser dito: por culpa do homem. As acções humanas como as emissões de gases com efeito de estufa provenientes da combustão de combustíveis fósseis como o carvão, petróleo ou gás para a produção de energia, a desflorestação, a alteração no uso do solo pelas culturas intensivas e o aumento exponencial da produção pecuária são as principais responsáveis pela mudança da composição da atmosfera e, consequentemente, pelas alterações climáticas.

Como o CO2 persiste na atmosfera por mais de um século, as emissões que emitirmos hoje e continuarmos a emitir amanhã e depois vão afectar o clima das próximas décadas. A adaptação a um planeta mais quente e a um futuro diferente do presente é inevitável e vai ser necessária em todo o mundo. As alterações não são só climáticas, também as sociedades e as economias terão que aprender a viver num novo planeta. As águas mais quentes e a acidificação dos oceanos vão impactar positiva ou negativamente a disponibilidade de peixe e marisco que são o ganha-pão das comunidades piscatórias. As comunidades litorais, especialmente as das ilhas, terão de enfrentar inundações de ruas durante marés (muito) altas, tempestades exacerbadas seguidas de novas inundações e a “invasão” da água do mar sobre as fontes de água doce, o que vai comprometer a disponibilidade de água potável. Algumas comunidades terão que se adaptar, em simultâneo, à frequência de secas e chuvas severas e à consequente deterioração das infra-estruturas que transportam a água.

Agricultores e outros trabalhadores de ar livre serão afectados pelo número crescente de noites quentes e por ondas de calor cada vez mais frequentes e mais quentes. O oráculo para os animais é muito semelhante. A localização geográfica e distribuição de algumas pragas e agentes patogénicos podem ser alteradas, expondo os animais, as culturas e o ser humano a novas doenças. As infra-estruturas que suportam a actividade económica – barragens, aeroportos, auto-estradas, pontes, edifícios e muitos outros — vão ser afectadas pelas inundações, deslizamentos de terras e ondas de calor. As alterações das estações do ano e as mudanças na localização de plantas e animais afectarão as comunidades que dependem do turismo de natureza e cultural. Devido às migrações em massa, a aparência física do homem pode ser alterada: a tez castanha ou morena e olhos claros poderão tornar-se mais comum.

Os cenários não são animadores. No entanto, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) acredita que os próximos 12 anos serão suficientes, mas cruciais, para vencermos esta batalha. O que está em jogo é a continuidade da espécie Homo sapiens. A natureza já cá está há mais de quatro mil milhões de anos e não precisa do homem para sobreviver. Se o contrário não pode ser dito, a forma mais directa para diminuir a magnitude das alterações climáticas futuras é a redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) a uma escala global que seja técnica, económica, social e politicamente viável. Intervir para diminuir as emissões de CO2 a grande escala é o caminho. Esta resposta só depende do homem.

Não chega pensar que é um tema importante. É urgente agir. Os impactos das alterações climáticas do futuro dependem das escolhas que fizermos hoje e ao longo das próximas décadas. Quanto mais cedo tomarmos decisões para reduzir emissões de GEE, mais cedo limitamos os eventos climáticos extremos. Enquanto geração temos o dever de proteger as pessoas, a saúde pública, o ambiente e a economia.

As acções individuais são fundamentais mas é na política que se tomam as maiores decisões. Sejamos, portanto, exigentes com os políticos que elegemos, assinemos petições sérias que reclamam a necessidade de agir, integremos grupos focados na protecção ambiental e social e façamos ouvir a nossa voz. Somos mesmo a geração que pode fazer a diferença? Sim, somos! Queremos mesmo fazer a diferença? Não temos alternativa! Temos até 2030 para mostrar o que valemos. Tratemos do problema, antes que ele trate de nós.

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