Os sustos de Luigi, agora em dois ecrãs

Os comandos podem ser ocasionalmente inconvenientes, mas o carisma continua presente com a passagem para formato portátil.

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Quando comprei a minha Nintendo GameCube em 2001, um dos jogos que acompanhou a pequena consola até à sua nova casa foi Luigi’s Mansion. Entre os primeiros fôlegos do novo século e o final de 2018 passou uma vida com quase idade para votar, mas a verdade é que a aventura do irmão de Mario ganhou um novo destaque, agora que encontrou o caminho para o catálogo da Nintendo 3DS.

Originalmente desenvolvido pela Nintendo EAD, um dos departamentos internos da casa nipónica, a adaptação para a consola portátil esteve a cargo da Grezzo, produtora que já tinha usado o seu talento para, por exemplo, adaptar de forma bastante saudável The Legend of Zelda: Majora's Mask 3DS

Como o título indica, o protagonista é Luigi, que misteriosamente ganhou uma mansão pejada de fantasmas num concurso. Não estamos, de todo, perante uma obra de terror. Ainda que a mecânica central coloque o herói a lutar e a capturar uma miríade de fantasmas enquanto tenta encontrar e libertar Mario, o desenrolar da aventura pelos diferentes pisos e divisões da mansão é feita sobretudo com apontamentos de humor e muito charme.

Luigi conta com a preciosa ajuda do Professor E. Gadd, inventor que teve a ideia e a execução de um aspirador bastante peculiar: o Poltergust 3000 aspira fantasmas e, juntamente com o Game Boy Horror (ferramenta que permite estudar as divisões à procura de pistas e pontos de interesse), é a viga principal dos processos de jogabilidade, que continua entusiasmante apesar de sofrer ocasionalmente com a conversão da GameCube para a 3DS.

Basta olhar para o alinhamento dos vários modelos da Nintendo 3DS para perceber que apenas a New Nintendo 3DS tem um segundo – e pequeno – analógico no lado direito para replicar o C-Stick presente no comando da GameCube. Felizmente, foi precisamente esse o modelo usado para a análise do jogo. Mesmo assim, há alguns momentos em que a pontaria sofreu com a afinação romba destes processos. Esta nova versão inclui controlos por movimento relativamente intuitivos, mas o problema persiste. Nota-se claramente que a Grezzo sabia as limitações do hardware, chegando mesmo a dotar esta versão com dois esquemas de deslocação.

De sublinhar que esses momentos não dominam a amplitude da estadia, pois de uma forma geral luta-se mais contra os fantasmas do que contra os controlos. E quando estamos a fazer essa empreitada, Luigi’s Mansion revela que a jogabilidade não envelheceu mal. Há vários tipos de fantasmas e, sem surpresa, vários tipos de dificuldade, com os maiores e os bosses a precisarem de mais tempo e habilidade na hora de executar a captura.

O básico coloca os jogadores a apontar a sua lanterna às criaturas etéreas, com esta versão da obra a incluir a opção Strobulb para a lanterna, ou seja, se quiserem podem pressionar prolongadamente um botão para que a luz seja carregada de forma a abranger um raio maior na hora de encandear os fantasmas. Porém, alguns seres precisam de ser expostos resolvendo pequenos puzzles ambientais, nada que demore muito a ser desconstruído e a sair do caminho à progressão.

A mecânica de captura propriamente dita é a parte mais satisfatória: enquanto estão a ser sugados pelo Poltergust 3000, os fantasmas dão luta e tentam escapar e é o jogador que tem que deslizar o analógico na direcção oposta. Alguns confrontos duram uma boa quantidade de tempo e algumas criaturas vão deixando cair itens que complicam a tarefa, quebrando as amarras do peculiar aspirador. No seu cômputo geral, não é uma jogabilidade complicada, mas isso não a impede de ser instantaneamente recompensadora.

Luigi’s Mansion não é uma obra com uma longevidade assinalável e, tal como na GameCube, sente-se que alguma dessa longevidade é artificialmente atingida com a obrigação de nos fazer revisitar áreas já exploradas. O charme dos cenários – e da banda sonora – está alinhado com a mentalidade da Nintendo, pelo que os confrontos e a própria presença de criaturas sobrenaturais têm sempre um toque humorístico, seja no design ou no comportamento. A forma como Luigi chama o seu irmão revela-lhe na voz todo o medo de quem está numa casa desconhecida e assombrada, mas tudo foi pensado de forma a fazer o jogador sentir-se bem-vindo.

Ajuda que a Nintendo 3DS tenha um segundo ecrã, pois torna possível consultar o mapa da área onde estamos e perceber os pormenores das divisões circundantes.

Ainda no departamento técnico, convém mencionar que o efeito 3D da consola está bem implementado, com a portátil a permitir que os cenários beneficiem desta funcionalidade para ganharem uma imersão que obviamente a GameCube não conseguia oferecer. As texturas não são propriamente de fazer cair o queixo, seja nos cenários ou nos fantasmas, mas o design faz-nos reparar mais no carisma do que no pormenor, um truque executado com mestria.

A chegada de Luigi’s Mansion à Nintendo 3DS é uma boa notícia. Não só porque o título não perdeu muito vigor com a passagem do tempo, mas também porque foi nesta consola que Luigi's Mansion 2 foi publicado. Isto permite aos jogadores mais novos perceberem as origens da saga e aos mais velhos matarem saudades. Mesmo com algumas falhas, o charme e a diversão de apanhar estes fantasmas continua vivo, agora também em formato portátil.

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