Morreu a cantora Maria Guinot

Venceu o Festival da Canção em 1984, com a canção Silêncio e Tanta Gente, com a qual representou Portugal na Eurovisão.

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DR RTP

A cantora, compositora e pianista Maria Guinot morreu aos 73 anos. A notícia foi dada pela SIC Notícias, este sábado.

Maria Guinot representou Portugal no Festival Eurovisão em 1984, depois de ter vencido o Festival da Canção com Silêncio e Tanta Gente. A interpretação no Festival RTP ficou na memória: em solidariedade com os músicos em greve, Maria Guinot recusou o play-back adoptado nessa edição, e acompanhou-se a si mesma ao piano. Na Eurovisão, com a sua bela interpretação, Maria Guinot ficou em 11.º lugar, entre 19 países participantes no festival europeu naquele ano. 

Maria Adelaide Fernandes Guinot Moreno nasceu em Lisboa a 20 de Junho de 1945. Começou a estudar piano com apenas quatro anos. Em 1965, entrou no coro da Fundação Calouste Gulbenkian. Já em 1981, ficou em 3.º lugar no Festival RTP da Canção, com o tema Um Adeus, Um Recomeço.

Ao longo da carreira, colaborou com nomes como José Mário Branco, Carlos Mendes e Manuel Freire. José Mário Branco foi produtor do álbum homónimo Maria Guinot, em 1990.

O último disco, Tudo Passa, foi lançado em 2004, na sequência do livro Memórias de um Espermatozóide Irrequieto. De acordo com a SIC Notícias, abandonou a vida artística em 2010, após sofrer o terceiro AVC.

O velório realiza-se no domingo, a partir das 17 horas, na Igreja da Parede, concelho de Cascais. Fonte da Paróquia da Parede informou à agência Lusa que as cerimónias fúnebres estão marcadas para as 10h45 de segunda-feira, seguindo depois o funeral para o cemitério de Barcarena, onde o corpo será cremado.

Intervenção política e social

Maria Guinot iniciou uma formação musical clássica, mas foi no modelo de canção que se destacou. Editou um primeiro single, em 1968, revelando-se como autora, na linha dos "baladeiros" que emergia na época. Apesar de ouvida na rádio, ficou afastada dos palcos durante vários anos.

O regresso aconteceu em 1981, com Um Adeus, Um Recomeço, que lhe garantiu o 3.º lugar no Festival RTP da Canção, a edição de novos discos e a revelação de novas canções: Falar Só Por Falar, Vai Longe O Tempo, Um Viver Diferente. Foi, porém, em 1984, quando venceu o Festival da Canção, com Silêncio e Tanta Gente, que o seu nome chegou ao grande público.

Em 1986, compôs Homenagem às mães da Praça de Maio, nos dez anos do início da concentração das mulheres que, em Buenos Aires, exigiam saber dos filhos desaparecidos durante a ditadura militar argentina (1976-1983). A canção foi uma das bandeiras do programa Deixem Passar a Música, da RTP, no qual Maria Guinot foi acompanhada por José Mário Branco, que produziu e dirigiu a orquestra. 

No ano seguinte, lançou o seu primeiro álbum, Esta Palavra Mulher, numa edição de autor. Seguir-se-ia, Maria Guinot, com produção de José Mário Branco, e a participação de músicos como a violoncelista Irene Lima, o contrabaixista Carlos Bica, o saxofonista Edgar Caramelo e o percussionista João Nuno Represas. Até 2004, quando foi editado Tudo Passa, não há registo de outros disco de Maria Guinot.

Escreveu Histórias do Fado (1989), com Ruben de Carvalho e José Manuel Osório, e manteve a intervenção política e social: subscreveu a saudação ao 30.º aniversário da Revolução Cubana, em 1989, com o actor Rogério Paulo, os escritores José Saramago e Natália Correia; condenou a política de não admissão de mulheres por bancos privados portugueses, no manifesto "Dizemos Não Aos Bancos Com Preconceitos", no início dos anos de 1990; fez parte do movimento pela despenalização do aborto e da Frente para a Defesa da Cultura, que, na época, marcou a contestação do sector.

Recebeu, em 2011, a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores.

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