Morreu o resistente norueguês que travou a bomba atómica nazi

Joachim Ronneberg tinha 23 anos quando liderou o grupo de soldados que destruiu uma central hidroeléctrica onde era produzido um componente-chave do programa nuclear de Adolf Hitler. Morreu no domingo.

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Ronneberg (2.º à esquerda) e os soldados da missão cumprimentam o rei norueguês Haakon VII DR

Estávamos em Fevereiro de 1943, em plena II Guerra Mundial. Na Noruega ocupada pelos nazis, a região de Telemark era morada de uma central hidroeléctrica onde a Alemanha produzia um componente essencial para os seus esforços de obtenção de uma bomba nuclear — arma que teria alterado o curso da guerra e da história. Para travar o plano, um grupo de seis resistentes noruegueses foi encarregue de fazer explodir as instalações. A missão considerada “suicida” foi chefiada por um homem de 23 anos, Joachim Ronneberg, que morreu este domingo. Tinha 99 anos e era um dos maiores símbolos da resistência dos noruegueses ao nazismo.

O objectivo de impedir a produção de água deuterada em Telemark, um ingrediente-chave para o desenvolvimento de uma bomba atómica, já tinha conduzido um grupo de 35 militares britânicos a uma missão falhada — acabaram capturados e torturados.

Coube aos jovens resistentes noruegueses a segunda tentativa de destruir o alvo. Para chegar até à central hidroeléctrica, os soldados liderados por Ronneberg e treinados no Reino Unido foram lançados de pára-quedas e esquiaram por um território marcado por ravinas, florestas densas e um rio gelado, levando consigo uma cápsula de cianeto que deveriam engolir caso fossem capturados.

“Acreditávamos que era uma viagem só com um bilhete de ida”, confessaria Ronneberg à BBC, no 70.º aniversário da missão, em 2003.

Iludindo os militares que guardavam as instalações, os noruegueses conseguiram entrar na central, colocar e detonar as cargas explosivas que transportavam consigo, destruindo aquele importante centro pesquisa nuclear do regime nazi.

E não só conseguiram executar a missão como conseguiram escapar com vida e fugir para a Suécia, esquiando 320 quilómetros debaixo de fogo inimigo. “Foi o melhor fim-de-semana de esqui que já tive”, recordaria Ronneberg, entre sorrisos, décadas depois.

Quem era Ronneberg?

O líder da unidade norueguesa nasceu a 30 de Agosto de 1919 na cidade de Alesund. Quando a Noruega foi invadida pelos nazis, Ronneberg fugiu de barco para a Escócia com mais oito amigos, mas depressa decidiu regressar para combater os alemães. Tinha 21 anos.

Dois anos depois, quando foi recrutado para a missão em Telemark, Joachim Ronneberg integrava um movimento de resistência conhecido por Companhia Linge, responsável pela condução de operações especiais contra as forças alemãs.

Após o final da Segunda Guerra Mundial, o antigo combatente tornou-se jornalista na rede pública de radiodifusão NRK, onde foi director de programas. Foi ali que, especialmente a partir da década de 70, começou a falar da missão, procurando consciencializar os jovens sobre os horrores da guerra. “Aqueles que hoje estão a crescer devem perceber que devemos estar sempre prontos para lutar pela paz e liberdade”, diria.

Em 2013, numa entrevista à BBC, confessou que só percebeu a importância da missão em Telemark dois anos depois, em 1945, perante o bombardeamento nuclear de Hiroshima e Nagasaki. Londres iria ficar igual às cidades japonesas bombardeadas, disse ainda ao New York Times.

A história inspirou o filme Os Heróis de Telemark (1966), protagonizado por Kirk Douglas.

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