Pena suspensa para o "Robin Hood dos Alpes", o bancário que roubava aos ricos para dar aos pobres

Gilberto Baschiera desviava dinheiro de umas contas para outras para aprovar pedidos de empréstimo de clientes com menos recursos. Movimentou um milhão de euros durante sete anos.

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Reuters/ANDREA COMAS

"Robin Hood dos Alpes": foi assim que Gilberto Baschiera, um funcionário bancário em Forni di Sopra, uma pequena localidade alpina, com cerca de 1000 habitantes, situada no nordeste de Itália, ficou conhecido. Tudo porque desde 2009, pico da crise financeira internacional, transferiu cerca de um milhão de euros das contas dos seus clientes mais ricos e distribuiu-os pelos mais pobres. Na semana passada conheceu a sua sentença pelos seus crimes: dois anos de prisão com pena suspensa, como noticia o jornal britânico The  Guardian.

Baschiera, que não retirou nenhum benefício pessoal do esquema, escapa a uma pena de prisão efectiva porque, de acordo com o sistema penal italiano, foi a sua primeira infracção e o tempo de cadeia em causa era relativamente curto. Mas perde o seu emprego no banco e fica sem a sua casa, confiscada pelas autoridades.

A golpada do Robin Hood dos Alpes começou em 2009, na sequência da crise financeira desencadeada pela queda da gigante Lehman Brothers, que agitou todo o mundo. À época, Baschiera era director da sucursal do Banca di Carnia e Gemonese Credito Cooperativo em Forni di Sopra tinha recebido um pedido de empréstimo de um cliente de parcos recursos, que foi negado.

O bancário contornou o chumbo ao pedido de crédito, movimentando dinheiro de uma conta de um cliente com mais recursos, fazendo assim com que o empréstimo fosse aprovado. A palavra espalhou-se e rapidamente começaram a aparecer mais pessoas com pedidos semelhantes.

“Ele fê-lo para ajudar clientes com dificuldades no acesso ao crédito”, disse Roberto Mete, advogado do banqueiro, ao diário Corriere della Sera. “Vive numa cidade pequena, onde toda a gente se conhece e fê-lo por bem.” 

Ao longo de sete anos, fez com que um milhão de euros desaparecessem das contas dos seus clientes mais ricos para os distribuir entre os mais pobres.

“Criou uma espécie de sistema financeiro alternativo durante anos. Esperava que as pessoas que ajudava fossem capazes de repor o dinheiro. Mas não isso não aconteceu”, disse Mete, citado pela britânica BBC. 

O buraco nas contas foi descoberto por um funcionário que alertou as autoridades. Baschiera foi despedido, mas antes ligou a cada um dos clientes roubados para lhes explicar a situação. “Depois de a história se ter tornado conhecida, liguei a toda a gente a quem tirei dinheiro para explicar o que me motivou”, contou ao Corriere  della  Sera.

Foi acusado de peculato e fraude pelo procurador de Udine. E, apesar de não estar arrependido, admite que não repetiria a façanha: “O preço a pagar é demasiado alto e não o voltaria a fazer”, garantiu o próprio Baschiera ao diário La Repubblica. Em declarações ao jornal, criticou um sistema bancário que, diz, abandona os mais pobres – como pensionistas e jovens, por exemplo – e sublinhou que a crise alterou profundamente a forma como se acede a um empréstimo, que já não depende de uma “avaliação geral do cliente”, mas de um parecer emitido por um computador.

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