Transgénero

A vida de Alexya Salvador é um acto político

Alexya Salvador, 37 anos, é pastora da Igreja da Comunidade Metropolitana, em São Paulo Paulo Whitaker/REUTERS
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Alexya Salvador, 37 anos, é pastora da Igreja da Comunidade Metropolitana, em São Paulo Paulo Whitaker/REUTERS

Alexya Salvador cresceu na região metropolitana de São Paulo, no seio da Igreja Católica. “Era o único lugar onde não apanhava”, conta. Na escola era discriminada e vítima de violência física por ser diferente. Naquela altura, Alexya era ainda Alexander e tentou contrariar essa diferença. Aos 19 anos ingressou no seminário com o objectivo de se tornar padre. Quatro anos depois, desistiu. Também dentro da igreja começou a ser vítima de violência psicológica e “espiritual”. Uma noite, já estudante de Filosofia em Campinas, no estado de São Paulo, cruzou-se pela primeira vez com um grupo de de travestis e pensou: “Eu sou isso.”

A transição só chegaria aos 28 anos. Pela mesma altura, Alexya e o marido, Roberto, decidiram casar e procurar uma igreja que consentisse o casamento entre uma mulher transgénero e um homem.  Foi assim que encontrou a Igreja da Comunidade Metropolitana, em São Paulo, onde foi ordenada pastora há sete anos. “Nós não somos uma igreja exclusivamente para a população LGBT, somos a igreja de todos os excluídos”, explicou à Revista brasileira Fórum. Alexya encontrou um lugar onde pertencia.

Agora, quer levar a batalha da integração a outro patamar, já nas próximas eleições presidenciais, legislativas e regionais de 7 de Outubro no Brasil. Ela é candidata a deputada estadual em São Paulo, pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). “Só o facto de eu ser uma pessoa transexual no país que mais mata travestis e transexuais no Mundo é o maior acto político que eu podia exercer”. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais brasileira (Antra), em 2017 foram assassinados 179 transexuais, o valor mais alto da última década. A expectativa de vida de um transexual no Brasil é de 35 anos, menos da metade da média nacional, 75.

Alexya Salvador diz muitas vezes ser a candidata da contradição. É pastora evangélica cristã, mas está no extremo oposto das posições ultraconservadoras das igrejas evangélicas que têm 93 deputados no Congresso, entre bispos e pastores, e que têm atacado a comunidade LGBT. É também voz dissonante do candidato presidencial que lidera as sondagens mais recentes da corrida eleitoral, Jair Bolsonaro, rosto da extrema-direita conhecido pelas declarações homofóbicas e racistas. 

Em Mairiporã, cidade onde cresceu, Alexya é hoje professora de Português e Inglês. É na sala de aula que começa o primeiro combate contra o preconceito, tanto junto dos alunos como dos pais: "Falar de género não é falar de sexo, é discutir a condição humana", disse à Reuters. Alexya encontra força na sua família: no marido, Roberto (professor como ela), e nos dois filhos adoptivos de 11 anos. Gabriel é uma criança com necessidades especiais e Ana Maria é transgénero, como a mãe. Alexya foi a primeira mulher transexual no Brasil a adoptar uma criança transgénero. “Hoje eu sei que a minha filha vai poder fazer o que eu não pude quando era uma criança na década de 80”.

"Somos a igreja de todos os excluídos”, afirma Alexya Salvador
"Somos a igreja de todos os excluídos”, afirma Alexya Salvador Paulo Whitaker/REUTERS
Mulheres transgénero participam na missa da Igreja da Comunidade Metropolitana
Mulheres transgénero participam na missa da Igreja da Comunidade Metropolitana Paulo Whitaker/REUTERS
Cores da bandeira gay em figuras religiosas na Igreja da Comunidade Metropolitana
Cores da bandeira gay em figuras religiosas na Igreja da Comunidade Metropolitana Paulo Whitaker/REUTERS
Alexya é candidata a deputada estadual em São Paulo, pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) nas próximas eleições de 7 de Outubro no Brasil
Alexya é candidata a deputada estadual em São Paulo, pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) nas próximas eleições de 7 de Outubro no Brasil Paulo Whitaker/REUTERS
“Só o facto de eu ser uma pessoa transexual no país que mais mata travestis e transexuais no Mundo é o maior acto político que eu podia exercer”, diz Alexya
“Só o facto de eu ser uma pessoa transexual no país que mais mata travestis e transexuais no Mundo é o maior acto político que eu podia exercer”, diz Alexya Paulo Whitaker/REUTERS
Alexya Salvador com a família: o marido, Roberto, e os dois filhos adoptivos de 11 anos. Gabriel é uma criança com necessidades especiais e Ana Maria é transgénero como a mãe
Alexya Salvador com a família: o marido, Roberto, e os dois filhos adoptivos de 11 anos. Gabriel é uma criança com necessidades especiais e Ana Maria é transgénero como a mãe Paulo Whitaker/REUTERS
Alexya foi a primeira mulher transgénero no Brasil a adoptar uma criança também transgénero
Alexya foi a primeira mulher transgénero no Brasil a adoptar uma criança também transgénero Paulo Whitaker/REUTERS
Alexya Salvador numa acção de campanha
Alexya Salvador numa acção de campanha Paulo Whitaker/REUTERS
Alexya com a filha, Ana Maria
Alexya com a filha, Ana Maria Paulo Whitaker/REUTERS
Nas eleições de 7 de Outubro, há mais 46 candidatas transgénero a deputadas
Nas eleições de 7 de Outubro, há mais 46 candidatas transgénero a deputadas Paulo Whitaker/REUTERS
Alexya Salvador em frente a sua casa, em São Paulo
Alexya Salvador em frente a sua casa, em São Paulo Paulo Whitaker/REUTERS
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Alexya quer ser o rosto das minorias
Alexya quer ser o rosto das minorias Paulo Whitaker/REUTERS
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