O que move os jovens? As causas ou os partidos?

Mesmo desligados da “política formal”, os jovens podem ter “a política nas veias” e dedicar-se de corpo e alma a movimentos e ao activismo. Esta é uma das teses que vai estar em cima da mesa numa conferência em Cascais que juntará todos: activistas, líderes partidários e académicos.

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Encontro que reflecte sobre os jovens e a política acontece em Cascais Nelson Garrido

Com as eleições europeias a aproximarem-se, o professor da Universidade Católica, Nuno Sampaio, lança um apelo: o “crescimento de forças partidárias extremistas”, no contexto europeu, dá aos “jovens que partilham os valores da Europa e da democracia” a “responsabilidade grande” de participarem no acto eleitoral.

Nuno Sampaio – que ressalva falar apenas como docente e não como assessor para os Assuntos Políticos da Casa Civil do Presidente da República – é um dos oradores da conferência Que causas movem os jovens?, marcada para dia 27, no Centro Cultural de Cascais, e promovida no âmbito do evento Cascais 2018 – Capital Europeia da Juventude, em parceria com o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

O investigador sabe que o tema do afastamento dos jovens da política não é novo, o que não lhe tira pertinência: “A questão não é nova, mas à luz do contexto actual é urgente e oportuna”, diz, referindo-se aos populismos e extremismos que ameaçam o mundo, a Europa e as democracias, e apelando, sobretudo, à “consciência em relação àquilo que são os valores da democracia”.

“Não se pode ter a democracia como garantida”, lembra o professor. A mensagem é para a “geração Erasmus” que cresceu “num ambiente democrático” – o público-alvo da conferência são estudantes do ensino secundário e universitário.

O colóquio não é apenas sobre o afastamento dos jovens da política, nem sequer foi desenhado a pensar só nas eleições europeias. Pretende motivar os jovens a participarem em todos os actos eleitorais, explica a comissária da Cascais 2018 – Capital Europeia da Juventude, Catarina Marques Vieira. E pretende, em primeiro lugar, reflectir sobre as razões que levam os mais novos a, por um lado, afastarem-se da política e do projecto europeu e, por outro, empenharem-se em causas sociais. Catarina Marques Vieira não tem dúvidas: os jovens “podem estar mais afastados dos partidos, mas aderem a causas da comunidade, preocupam-se com a sociedade”.

Conversas ao almoço

Na intervenção que fará, Nuno Almeida Alves do ISCTE, sustentará isso mesmo: se, por um lado, os jovens estão desligados daquilo que se pode considerar a “política formal”; por outro, têm “a política nas veias” e dedicam-se a movimentos e ao activismo.

Esta é uma das conclusões que Catarina Marques Vieira espera ver sair da conferência na qual os dois lados vão ouvir-se: os jovens que se entregam a causas, como a LGBTI ou o ambiente, participarão num painel e, depois, vão sentar-se à mesa a almoçar com os que optam pela via partidária para transformarem a sociedade (Margarida Balseiro Lopes, da JSD; Ivan Gonçalves, da JS; Francisco Rodrigues dos Santos, da JP; Carlos Moreira, da Comissão de Juventude UGT; e Diogo Alexandre, a representar os bloquistas). A seguir, será dada a palavra aos académicos.

Mas não é só aos jovens que Nuno Sampaio deixa um alerta. Também aos que compõem os partidos lembra: “A sociedade sempre andou à frente da política”. Quer com isto dizer que “os partidos são fundamentais à democracia”, mas precisam, mais do que se renovarem, de verem como “a sociedade está diferente”.

Os partidos devem reflectir sobre a forma como se organizam, até porque uma das razões que leva os jovens a aderirem a movimentos também é a circunstância de as causas serem "mais flexíveis para a sua participação” e os partidos continuarem a ser “estruturas relativamente fechadas”. É mais complexo do que isto, claro: “as causas também têm a ver com partilha de valores”, permitem uma “participação mais diversificada e menos continuada” e o mundo todo está diferente: diferente na forma como um jovem de 20 acede à informação e diferente na forma como esse jovem se relaciona com os outros, lembra o docente.

Mas nada como ouvir os próprios jovens. Na conferência, que decorre no Centro Cultural de Cascais, a partir das 10h30, serão eles que lá estarão para revelar que motivações políticas têm e também para relatarem experiências na primeira pessoa. Além dos representantes de estruturas partidárias que marcarão presença durante o almoço, o encontro contará, na parte da manhã, com as intervenções de jovens activistas de diferentes movimentos com trabalho na zona de Cascais.

Em concreto, fazem parte do programa representantes de associações como Movimento Claro, na área do ambiente; da Associação da Base ao Topo, no sector da cultura; da Associação Pegadas, no âmbito da acção social; e ainda a rede ex-aequo, com preocupações na defesa dos direitos LGBTI.

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