Um desafio que foge à repetição

The Gardens Between oferece puzzles que evoluem com o jogador e processos que estão dependentes da manipulação do tempo.

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Os videojogos incluídos no género de puzzles terão sempre a espinhosa tarefa de proporcionar desafio quanto baste sem se tornarem simplesmente frustrantes. The Gardens Between consegue esse feito, evoluindo com o jogador enquanto lhe proporciona uma agradável estadia pelos seus cenários.

A obra da The Voxel Agents não se prolonga, ou seja, sabe perfeitamente a valência das mecânicas e sabe também quando fazer os créditos aparecerem no ecrã antes de saturar o jogador com uma miríade de puzzles repetidos. Estes processos vão tornando-se mais complexos, amadurecendo e retirando-se de cena com graciosidade.

The Gardens Between conta a história de dois amigos, Arina e Frendt, que começam a sua aventura numa casa na árvore durante uma noite tempestuosa. Sugados para um misterioso mundo, teremos que reviver memórias da sua amizade enquanto vamos viajando numa barcaça entre ilhas, que ostentam dicas visuais que facilmente permitem passar em revista alguns dos momentos que marcaram a sua relação.

Em cada ilha, que aqui tem uma área jogável que faz lembrar um diorama, o objectivo passa por chegar ao final do percurso com uma esfera luminosa, que posteriormente iluminará a formação de constelações de memórias. Esse percurso, porém, é onde os puzzles são resolvidos numa forma que é intrínseca à jogabilidade.

Ao deslocar as personagens pelo cenário, o jogador está verdadeiramente a controlar a passagem do tempo. Ou seja, fazer a dupla de amigos deslocar-se para a direita do ecrã faz o tempo avançar e, obviamente, andar com as personagens para trás tem o efeito de rebobinar o tempo.

A resolução dos puzzles está associada à forma como os caminhos têm obstáculos que complicam a chegada da já mencionada esfera de luz, mas também objectos que precisam de ser activados para que o cenário seja alterado e concluído. É um jogo que necessita da nossa observação e experimentação, de fazer o tempo avançar, tentar uma solução, ver se resultou e, caso não resulte, tentar perceber o ajuste que falta dar. Por exemplo, há certos pontos que sugam a esfera, há cubos voadores que carregam temporariamente o objecto, há pontos que depois de activados permitem ir buscar uma nova esfera.

Ainda que possa parecer fácil na teoria, a obra vai colocando novas variáveis consoante o tempo que lhe é dedicado, como a água que passa nos fios e acende lâmpadas que abrem caminho, ou o controlo do fluxo de um rio onde temos que alinhar os objectos para formar um percurso. Estas nuances ajudam a que a jogabilidade se mantenha fresca e acompanhe um crescimento lógico.

The Gardens Between é também uma obra bastante atmosférica. Os cenários são detalhados, o que sublinha o tema das ilhas servirem como memórias. Ainda que o início seja colorido, a recta final revela um aspecto muito mais sombrio, com o grafismo a acompanhar o tom destas vivências.

As ilhas propriamente ditas transportam os amigos e, consequentemente, os jogadores, a locais bastante variados e cheios de surpresas. A banda sonora é assinada por Tim Shiel, que compôs algo que encaixa perfeitamente na atmosfera da obra, exaltando e sobretudo relaxando os jogadores nos momentos oportunos.

O principal ponto onde The Gardens Between fica aquém é na hora de atar o nó emocional. Os cenários fazem um trabalho sólido a contar estas memórias, mas no final de cada secção há um trecho que oferece uma curta cena que deveria atar tudo e desferir o derradeiro golpe emocional. Infelizmente, acaba por nunca ser bem aproveitada, não surtindo o efeito que tinha tudo para ser um belo intermezzo entre as secções de jogabilidade.

 Ainda assim, é uma obra com muito para dar e com muito para se gostar.

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