Eslovaco Sefcovic é o primeiro candidato do centro-esquerda à liderança da Comissão

O vice-presidente da Comissão para a União Energética apresentou esta segunda-feira a sua candidatura. Antigo diplomata, tem longa carreira europeia.

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Eslovaco Maros Sefcovic anunciou a sua candidatura esta segunda-feira LUSA/OLIVIER HOSLET

Com a sua experiência de comissário europeu, e a sua compreensão das tensões históricas que dividiram o continente nos blocos Leste e Oeste e voltaram agora a manifestar-se alimentadas pela crise económica e os fluxos migratórios, o eslovaco Maros Sefcovic acredita dispor das condições para conduzir os trabalhos da Comissão Europeia no próximo mandato. O actual vice-presidente da Comissão Europeia com a tutela da União Energética foi esta segunda-feira até ao Parlamento Europeu apresentar a sua candidatura à liderança do executivo comunitário em nome da Aliança Progressista de Socialistas e Democratas (S&D), onde têm assento os eurodeputados eleitos pelo PS.

“Estamos a viver um tempo de profundas mudanças sociais que muitas pessoas consideram ameaçadoras. Por isso a nossa energia e os nossos esforços colectivos devem ser ir no sentido da encontrar soluções inspiradoras para a estabilidade e segurança da população europeia, de forma a que continuem a acreditar no nosso projecto comum”, enquadrou Sefcovic, o primeiro spitzenkandidat (cabeça de lista) da área do centro-esquerda. Na Eslováquia, Sefcovic integrava o corpo diplomático e não tinha actividade política partidária, embora em 2014 tenha concorrido ao Parlamento Europeu pelo Partido Social Democrata de Roberto Fico.

Aos 52 anos, o antigo embaixador e vice-presidente da Comissão tem uma significativa carreira europeia, tendo dirigido o processo de adesão da Eslováquia à UE, em 2004. Até 2009, esteve à frente da Representação Permanente do seu país na UE; nesse ano, foi indicado pelo primeiro-ministro, Roberto Fico, para a Comissão Europeia, onde ficou responsável pela pasta da Educação, Cultura e Juventude. No ano seguinte, foi “promovido” a vice-presidente, cargo que manteve em 2014, quando tomou posse a Comissão Juncker.

No lançamento da sua candidatura, o que Sefcovic preferiu destacar da sua biografia não foi o conhecimento dos corredores do poder de Bruxelas, mas antes a sua juventude atrás da Cortina de Ferro e a esperança em que a queda do Muro de Berlim representou para a Europa e o mundo. Esse é um sentimento que o eslovaco pretende ressuscitar. “Se queremos recomeçar o motor da integração, temos de deixar de falar em termos de Norte contra Sul, contra Leste, contra Oeste. Temos, de uma vez por todas, de ultrapassar os nossos muros e barreiras mentais”, afirmou.

Da sua breve intervenção, esta segunda-feira, sobressaiu a mesma preocupação com o avanço do populismo e nacionalismo que tem sido manifestada por outros líderes europeus. “O que eles fazem é explorar os medos, as angústias e as queixas legítimas das nossas populações para, de forma retorcida, exaltarem o sentimento de patriotismo. Mas, ao promover a divisão, estão a brincar com o fogo”, criticou, acrescentando que o risco é o de que estes movimentos, radicais e por vezes iliberais, consigam pôr fim à cooperação europeia e, com isso, destruir o sonho da UE.

Sefcovic, que foi estudante em Moscovo e fala russo fluentemente, defende um maior protagonismo da UE nas relações internacionais, e um maior investimento em políticas industriais ou energéticas que promovam o emprego qualificado e projectem a Europa nos mercados globais. “Precisamos de uma Europa forte, de uma política comercial mais assertiva e de maior independência das nossas acções de política externa, com um processo de decisão bastante mais rápido”, afirmou. “E devemos desenvolver os nossos próprios recursos, porque nesta era não podemos ficar dependentes de mais ninguém”, acrescentou.

Em declarações ao PÚBLICO, o eurodeputado socialista Carlos Zorrinho saudou a candidatura de Maros Sefcovic, que considerou “uma pessoa com um currículo bastante interessante, designadamente na área da transição energética”. O parlamentar europeu espera que, atrás do eslovaco, surjam outros concorrentes, dando assim força ao processo dos spitzenkandidaten: “Só na base de várias candidaturas poderemos ter um debate interessante, que é principal objectivo do processo”, assinalou Zorrinho. “Temos de encontrar linhas fortes comuns ao projecto europeu, convergir e eleger um candidato. E por isso espero que esta candidatura não seja a única, porque é importante haver essa dinâmica”, acrescentou.

Os sociais-democratas europeus vão seleccionar o seu cabeça de lista para a presidência da Comissão num congresso a 7 de Dezembro, em Lisboa. Outros elementos da família socialista que integram a actual Comissão, caso do vice-presidente com a pasta das Relações Institucionais e Estado de Direito, o holandês Frans Timmermans, ou o francês Pierre Moscovici, comissário para os Assuntos Económicos e Financeiros, são apontados como outros possíveis candidatos. A alta-representante para a Política Externa da UE, Frederica Mogherini, já disse não estar interessada. Até agora, ainda só o líder da bancada do Partido Popular Europeu, o alemão Manfred Weber, tinha oficializado uma candidatura.

A bancada do S&D, a segunda maior do Parlamento Europeu e a única com representantes dos 28 Estados-membros da UE, corre o risco de encolher dramaticamente após as próximas eleições europeias. Por causa do “Brexit”, o Parlamento Europeu deixará de ter representação britânica: com a saída dos eurodeputados trabalhistas, o S&D perderá 20 dos seus 190 membros. Mas o principal desafio será inverter a actual tendência de queda nas sondagens dos partidos sociais-democratas e socialistas tradicionais na maior parte dos países europeus.

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