O Novo Circo saiu do Coliseu para ocupar quatro praças do Porto

Durante quatro dias cerca de 40 mil pessoas passaram pelo 1º Festival Internacional de Circo do Porto, iniciativa de acesso gratuito que reuniu 13 companhias nacionais e internacionais responsáveis por 44 espectáculos.

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Paulo Pimenta
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Estamos em plena lei seca, algures entre os anos 1920 e a década de 1930, num bar clandestino dos Estados Unidos da América. Encontra-se nele um grupo de pessoas menos recomendáveis dado a negócios obscuros, ávido para acertar contas com um rival. Há fumo, olhares ameaçadores e muita desconfiança. De fundo, ouve-se a voz de uma cantora que aguenta aquele ambiente de cortar à faca com uma melodia sensual, numa tentativa apaziguadora. Não resulta. O ambiente fica cada vez mais irrespirável e desencadeia-se uma rixa de contornos pouco convencionais. Há uma espécie de bailado coreografado com manobras acrobáticas e de malabarismo vertiginosos que fazem convergir para ali todas as atenções e olhares.

Tudo isto passa-se no Coliseu Porto Ageas, espaço onde este espectáculo, Speakeasy, foi apresentado, e epicentro do 1º Festival Internacional de Circo do Porto (FICP, que levou o Novo Circo, durante quatro dias, até este domingo, a quatro praças da cidade.

Foram 13 companhias nacionais e internacionais, responsáveis por 44 apresentações divididas entre o Coliseu, o Jardim da São Lázaro, o Largo de Santo Ildefonso e as praças dos Poveiros e da Batalha. Todos de acesso gratuito.

Terá sido o espectáculo referido, a cargo da companhia francesa The Rat Pack, um dos mais concorridos de todo o certame que decorreu sobretudo ao ar livre.

“Gosto muito de circo, mas do que é feito debaixo de uma lona”, disse-nos um dos espectadores à saída do Coliseu. Salienta que é espectador regular de circo “convencional”, embora sublinhe que nunca foi adepto do que é feito com animais. Nada contra o espectáculo. Não é pelo Novo Circo que morre de amores. Quis tentar mais uma vez. Não ficou convencido.

Pelo contrário, Alexandra Soares, também fã das artes circenses, saiu de lá com vontade de repetir. Agrada-lhe o Novo Circo por agregar “várias disciplinas” de uma forma menos ortodoxa. Agrada-lhe ainda mais a iniciativa levada a cabo pelo Coliseu do Porto, que se estende às praças das imediações.

E é nessas praças que grande parte do cartaz é apresentado. Ao final da tarde de sexta-feira, no Jardim de São Lázaro, a francesa Claire Ducreux reúne em torno de si algumas dezenas de pessoas que lá estão para assistir a uma performance com raiz na dança contemporânea – a sua área de formação. É um espectáculo interactivo. Convida quem lá está a participar activamente no desenrolar de uma narrativa assente em encontros e desencontros.

Ali bem perto, na Praça dos Poveiros, já se prepara uma investida pela área das acrobacias feitas em alturas, sem fios e sem redes, da companhia, também francesa, Toron Blues. Uma performance de cortar a respiração, conduzida por uma dupla que trabalha em equipa e se sustenta numa corda para onde uma pequena multidão olha, antes de seguir a banda de palhaços Rumtátá que fura as ruas com música até à praça da Batalha, onde se prepara para actuar o malabarista Clément Dazin, muito perto do Teatro Nacional São João e do cinema que desde 2017 a autarquia prometeu recuperar.

Circo para a inclusão

Horas antes, no átrio do Coliseu, há uma acção a decorrer em torno da arte de calcetar. Em Calçada, criação do Circo Social, faz-se malabarismo com pedras, baldes e com a boa vontade de oito intervenientes que, na maioria, nunca tiveram qualquer contacto com as artes do espectáculo, muito menos com o Novo Circo. É um esforço colectivo feito com um objectivo definido no início deste ano.

O director artístico e encenador, Eduardo Dias, conta ao PÚBLICO que o circo social nasceu da vontade “antiga” do Coliseu do Porto e do mote lançado pela junta de freguesia do Bonfim. O projecto que tem como base as artes circenses tem outra função maior – o da “inclusão”. De um grupo inicial de cerca de 20 jovens, parte indicados por algumas instituições, outros que se inscreveram, sobraram perto de uma dezena, que são os que participam no espectáculo apresentado no FICP, resultado de uma residência artística iniciada em Março.

Inicialmente ainda não estava definido que resultaria numa apresentação pública. Foi este festival a porta que se abriu para fazê-lo. Mais importante durante este percurso até chegar ao dia da apresentação foi o processo. “Trabalhamos em conjunto e fomos encontrando as mais-valias de cada um, desenvolvendo outras e ajuntando-nos uns aos outros”, explica. Durante este caminho houve quem tivesse descoberto a vontade de querer seguir esta via. “Há quem tivesse ficado motivado para seguir o Novo Circo”, conta.

Manuel Santos, 21 anos, não está exactamente pela primeira vez a experimentar as artes do espectáculo. Vai para o terceiro ano do curso de Interpretação na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo. Porém, nunca tinha experimentado o Novo Circo. Inscreveu-se quase “sem querer”. Um amigo falou-lhe da iniciativa. Agora, diz ter aberto uma porta para uma área da qual não sabia muito. Não diz que quer seguir exclusivamente esta área. Considera sim que esta experiência lhe alarga o leque de opções enquanto futuro actor.

Algo que lhe terá igualmente agradado na experiência de ter trabalhado com outras pessoas que nunca tinham experimentado as artes cénicas foi recuperar a sensação que teve quando pela primeira vez entrou numa sala de aula da Academia das Artes e do Espectáculo, onde estudou, para se encontrar com diamantes em bruto. “Foi bom voltar à estaca zero”, sublinha. 

Entre quinta-feira e domingo, passaram por estes vários palcos cerca de 40 mil pessoas. O FICP contou com um orçamento de 180 mil euros, 85% provenientes do NORTE 2020. Ainda sem confirmação, é vontade da organização que no próximo ano o festival regresse.

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